Vias inapropriadas para colocação dos contêineres e falta de conscientização de parte da população causam transtornos e revolta em moradores

Iniciada em maio de 2020 e ampliada em dezembro de 2022, a coleta automatizada e mecanizada de resíduos ainda é motivo de polêmica em muitas vias e revolta de parte dos moradores que convivem com os contêineres em frente às casas, nas já estreitas calçadas e atraem moradores de rua, que reviram o material depositado.

Em alguns locais estratégicos, os recipientes receberam cercamento e até floreiras, diminuindo o impacto visual causado pelos resíduos, principalmente os recicláveis, que transbordam nos contêineres que não comportam tamanho volume. Em outros, além de ficarem soltos, ora estão na rua, ora na calçada, ora atrapalhando entrada e saída de veículos em garagens.

Se não bastasse esta situação, parte da população bento-gonçalvense ainda não pratica o descarte seletivo, misturando resíduos recicláveis aos orgânicos. Além disso, em alguns pontos existe um contêiner específico para coleta de vidros, enquanto em outros, os recipientes deste material são depositados no contêiner de reciclável.

Conforme o secretário Municipal do Meio Ambiente, Osmar Bottega, “concomitantemente à implementação dos novos contêineres da coleta mecanizada e automatizada, iniciamos a sensibilização para as pessoas que moram ou trabalham nos locais onde o serviço seria alterado. Mais do que estimular o descarte correto, o Projeto de Sensibilização Ambiental, tem a proposta de despertar no munícipe a ideia da conscientização ambiental na hora de separar e destinar os resíduos domésticos, elevando o índice de reaproveitamento e reciclagem deles”, diz

Bottega ressalta, ainda, que descartar corretamente os resíduos é uma atitude sustentável. “Reduzir, reutilizar e reciclar são conceitos que precisam ser exercitados no nosso dia a dia. Em Bento Gonçalves identificamos várias situações, inclusive comuns às grandes cidades que adotaram os sistemas mecanizados e automatizados. Com mais contêineres nas ruas, é natural que haja um período de acomodação e culturalização”, afirma.

Aposentada, Rosângela Dalcin é cadeirante desde que sofreu um acidente, aos 22 anos. Além das dificuldades de locomoção por muitos bairros onde não há rebaixe de meio-fio e em locais onde não há acessibilidade, principalmente em alguns prédios públicos, ela ainda precisa conviver com o entrave de contêineres em cima do passeio público em muitas vias, sem contar os resíduos espalhados na volta deles. “Só quem convive com essa situação sabe o quanto é difícil. Embora há anos exista a Lei da Acessibilidade, ela não é cumprida a contento. Além disso, estes contêineres que em alguns pontos estão sobre as calçadas dificultam muito a nossa passagem, por serem naturalmente estreitas. Sem contar os locais onde elas estão sobre o piso podo tátil, o que é inadmissível”, relata.

Um morador da rua Barão do Rio Branco, que preferiu não ter a identidade divulgada, também acredita que não temos estrutura para suportar este tipo de processo. “Veja o exemplo de Porto Alegre. Lá os moradores estão em pé de guerra por causa desses contêineres. Além de juntar moradores de rua e usuários de drogas em busca de moedas de troca e sobras de alimentos, temos que ter em mente que produzimos muito mais resíduos recicláveis do que orgânicos. Já começa por aí: o contêiner de orgânico é muito maior do que de reciclável. Nossas calçadas são estreitas. Quando os prédios tinham suas caixas de coleta chaveadas e os moradores de casas depositavam suas sacolas próximo ao horário da coleta, a sujeira era muito menor”, lamenta.

Falta consciência

De acordo com Bottega, as pessoas precisam ter clara a ideia de que todo o movimento vai depender da disciplina, primeiro, na separação dos resíduos nas próprias casas e, depois, na hora do descarte, nos contêineres indicados: resíduos orgânicos no contêiner cinza; resíduos recicláveis no contêiner azul e, vidros, no contêiner verde. “A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, através do Departamento de Educação Ambiental desenvolve várias ações no sentido de orientar o descarte correto. Nos próximos dias serão ampliadas as atividades de sensibilização nas ruas onde o sistema foi instalado”, comenta.

O Secretário informa, ainda, que Bento Gonçalves conta com três sistemas de coleta: porta a porta, mecanizada e automatizada. “O serviço de coleta mecanizada e automatizada atinge hoje o Centro e alguns bairros do seu entorno. Então temos Centro, São Francisco, Cidade Alta, Juventude, Planalto, São Bento, Fenavinho, Maria Goretti e Botafogo. Nesta etapa, estão sendo instalados o último lote de contêineres orgânicos e de vidros. Chegaremos ao final deste ano com o número de 650 contêineres instalados. A ideia é a de ampliarmos gradativamente, consolidando os serviços por etapas”, diz.

Ainda segundo ele, o contêiner verde, utilizado para o descarte de vidros, está sendo instalado em pontos previamente identificados. “Avenidas e ruas com vocação gastronômica e com concentração de clubes ou bares, a exemplo da Avenida Planalto, Rua Herny Hugo Dreher, Saldanha Marinho, entre outras que já receberam o recipiente. Em locais onde não houver o contêiner verde, orienta-se para que vidros sejam depositados em caixas ao lado do contêiner azul”, finaliza.

Moradores, divididos, opinam sobre o serviço

“Aprovo, pois a revolução técnico-científica veio para aprimorar todos os sistemas do espaço coletivo, e nesse caso, a coleta de resíduos é um deles. No quesito Bento Gonçalves vejo como satisfatória essa inovação, pois traz mais agilidade e facilidade no recolhimento”.
Lian Rasador

“Não gostei. Esteticamente não fica bonito. Creio que o ideal seria determinar uma faixa horária para todos os moradores colocarem os resíduos embalados na calçada, para na sequência serem recolhidos. Além disso, os contêineres, principalmente de resíduos recicláveis ficam cheios e são revirados, ocasionando lixo espalhado pela calçada. Também faltam lixeiras menores para depositar pequenos resíduos quando passamos pelas ruas”.
Márcia Vignatti

“Sou contra a coleta por contêineres, devido ao mau uso e sujeiras depositadas em volta dos mesmos”.
Jacob Fracalossi

“Sou a favor, pois acho que está ajudando e é interessante, porém, tira muito espaço de estacionamento onde já não tem”.
Renata Longhi

“Pelo bem do povo é melhor que tenha essa coleta automatizada. Sou a favor, desde que não atrapalhasse, talvez fazer o produto um pouco menor, muitas vezes ficam no meio da rua, deveria ter uma posição melhor para colocar”.
Vilson Selli

“Acho legal ter os contêineres, porém, se tratando da localização, muitas vezes atrapalham. Deveria ter locais específicos para isso e que não atrapalhassem o trânsito e o pedestre”.
Teresinha Cardoso de Araújo

“Acho que a coleta automatizada ajuda, desde que seja feita em horários que não sejam de pico. Esse do Centro está perto de uma faixa de segurança, então, às vezes o motorista do carro não vê a pessoa e a ela não vê o carro, especialmente as pessoas mais velhas”
Tainá Poletto

“Sou contra. Na rua Dr. Antunes, por exemplo, o caminhão entra de ré para fazer a coleta. Além do mais, não tem cadeado e reviram tudo. Outro problema: em muitas ruas atrapalha o fluxo e a visibilidade dos motoristas, dependendo de onde estão colocados”.
Carlos Fontes

Fotos: Lucas Beltran, Arquivo, Divulgação