Quando eu era guri, lá pelos meus oito anos, tinha um redemoinho, parecido com aquelas ondas em que o pessoal surfa, isso me incomodava muito. Como eu não tinha um cabeleireiro qual o Neymar, para alisar o meu cabelo, eu vivia passando cuspe, sim cuspe, para fazer o tal redemoinho desaparecer e não tinha jeito. Hoje não tenho mais essa preocupação pois o redemoinho desapareceu e os cabelos estão indo também. E hoje, a gurizada, a partir dos três anos, já cultiva, de forma artística, em seus cabelos, criativos redemoinhos, ondas de surf, esculturas criativas que fico contemplando admirado, acho bonito tamanha criatividade e, quando peço para a gurizada o endereço de tão criativo cabeleireiro, alguns me respondem “foi a mãe pô!”. Ai eu peço qual a “cola” que usaram para sustentar tal estrutura, me respondem, irritados “é fixador, pô!”. E eu usava cuspe pô! O Neymar, jogador do Barcelona, contratou, por um ano, um cabeleireiro particular que terá por missão alisar o seus cabelos. Acontece que ele não conhece o poder do cuspe do Henrique Caprara. No último jogo do Barça ele tentou dar uma “lambreta” num jogador adversário, quase apanha em campo “pô no Brasil isso e comum, e legal pô!” defendeu-se. A imprensa mundial criticou severamente Neymar, “coisa de guri, disseram”. A entrega de convite , pela competente Viviane Somacal, para a apresentação do projeto Aristides Bertuol, piloto de carreteira (carro de corrida em estrada de chão) nº 4, que ocorrerá dia 15 de junho, no Vale dos Vinhedos me leva a dizer que eu era fissurado em Aristides Bertuol. Quando eu vim morar na cidade, aos 12 anos, passei a frequentar a Oficina Bertuol & Moré, lá dentro estava a carreteira de Bertuol, que era dono da revenda Chevrolet. Aos sábados de manhã, o mecânico Menegat estacionava a bichinha em frente ao Posto, hoje Posto do Bianchi, e testava o motor. E eu ficava lá admirando e, quando via uma manchinha na lataria, eu dava uma cuspidinha (de novo ele, o cuspe!) e lustrava com a manga da camisa e dava depois um olhar de Mr. Bean. Eu tinha adoração por aquela maquina e admiração pela coragem e determinação de Bertuol. E, nos dias de corrida (saiam de Bento, passavam pela Busa, Garibaldi, Montenegro, São Sebastião, Bento) ganhava quem chegava antes, uma loucura!. E lá estava eu, com minha, maquininha fotográfica, tirando fotos da chegada, ao lado de quem? De Mauricio Sirostski Sobrinho e Ernani Behs, que pelo rádio transmitiam a largada e a chegada. Quando não dava Bertuol , dava um dos irmãos Andreata (Vitório e Catarino) ou Raul Elvangher, que eram terríveis adversários. Quando eu ainda morava no Barracão, em frente de casa, eu ficava aguardando que apontasse lá, logo abaixo do acesso a Pinto Bandeira, em frente a entrada do Country Clube, o líder e vencedor da prova. Quando dava Bertuol, eu pulava de alegria e, depois, ficava três dias comendo bolo. Hoje, eu como bolo e tudo o que vem pela frente no dia do jogo do Inter (o Esportivo sumiu!), de nervoso. Um dia, resolveram fazer um circuito Veranópolis – Bento, saia um por vez e ganhava quem fazia o trajeto em menos tempo. Bertuol ganhou com a média de 136 quilômetros horários, percorram essa estrada e reflitam, como pôde? Bertuol, no auge da fama, resolveu disputar , em São Paulo, as “Mil Milhas”, competição que durava 12 ou 24 horas, não lembro, com os pilotos se alternando no volante. Não sei se ele chegou a ganhar uma, parece que sim, Carlinhos está na Itália, não tenho como perguntar, mas o que eu lembro bem é que ficava a noite toda acordado ouvindo a transmissão e vibrando. Bertuol era um “guri” no volante de sua carreteira nº 4, sua vasta cabeleira sempre impecável, tal qual Elvis Presley, não precisava de cuspe nem de fixador. Essa memória está sendo cultivada pelo filho Carlinhos, o dono da Meber, e eu me sensibilizo com isso porque esse episódio faz parte dos bons momentos de minha vida. Vale lembrar que Bertuol foi Prefeito e Deputado Estadual, não por ter se notabilizado entre a elite dos corredores mas, sobretudo, e principalmente, pela figura humana que era, oriundo, me parece ali, do 40 da Leopoldina. Minha homenagem.

Vale salientar que tive um dentista que, diante de sua qualidade profissional talvez, só cobrava honorários calculados em dólares. Quando o dólar baixava ele calculava o débito do cliente em reais. Um dia ele me disse “tchê, vem cá (falava bem assim), tu tem pouca saliva”. Eu olhava pra ele e dizia “nem vou te contar gastei toda quando guri, é uma longa história, conserta meus dentes”. Esta coluna é baseada em fatos reais e se referem no tempo do cuspe. Depois tivemos o tempo da brilhantina, do Travolta e, agora, temos o tempo do fixador.