A coisinha fofa de fitinha rosa na chuca-chuca ia à frente, divertida. Andava em ziguezague, se aventurava no meio da rua e voltava para a calçada, num ritmo cadenciado, com os machos, em torno de oito vira-latas, atrás dela, de língua de fora, também costurando os caminhos. Volta e meia, ela dava meia volta, fazia xixi e depois retomava o passeio sabe-se lá pra onde. E eles, atrás, cada um pingando no xixi do outro, na tentativa de marcar o território que, no fim das contas, era terra de ninguém.

Assim é a natureza. No auge da testosterona, o cérebro já não comanda. Tem uma piada interessante que, talvez, eu já tenha contado… Quem já a conhece pule esta parte:

Então um neurônio é enviado ao cérebro de um homem. Chegando lá, ele não encontra ninguém e fica se perguntando onde todos teriam ido. Está se lamentando, quando aparece outro neurônio todo apressado, que lhe pergunta:

-Cara, o que você faz aqui, sozinho?

Ele responde que não imaginava existir tanta solidão.

-Está maluco, “véio”? Somos bilhões, mas está todo mundo lá embaixo, onde há uma grande festa. Só subi pra buscar gelo.

Pois é! Em se tratando de sexo, homens e animais são muito parecidos. Na disputa pela fêmea, algumas vezes também acontecem brigas homéricas.

Não sei como terminou o caso da serelepe de raça indefinida que estava levando os cães à loucura. Tudo indica que ela ainda não havia se decidido pelo parceiro certo, que estava desfilando por aí para atrair o príncipe encantado, ou que talvez estivesse só fugindo de casa. Mas sei como terminou o caso de um guri, hoje pai de família, envolvido involuntariamente numa disputa dessas.

Ele conta que, na saída do colégio, enquanto aguardava o ônibus, viu dezenas de mal-encarados em posição de espera, mas jamais poderia imaginar que era ele o esperado. E só percebeu a gravidade da situação quando todos os alunos haviam passado pelo corredor humano, incólumes.

“Putz! Deve ser comigo”, pensou o bom moço, apavorado. Olhou para o relógio, que indicava faltarem ainda alguns minutos para chegar o transporte escolar. Ao fazer menção de seguir andando, a “matilha” caiu sobre ele, não sem antes explicar o motivo da desavença:

-Tu “ficô” com minha “mina”, seu bosta!

Então era isso! A garota que lhe “deu mole” estava na jogada. Mas como nosso personagem era – e ainda é – muito rápido no raciocínio, improvisou um teatro, com trejeitos femininos e rótulos bem artificiais que desconsertaram a turma de machões, que foi se afastando.

E o ônibus chegou. Ao embarcar, ele resolveu se despedir com “Tchau, lindos!”. Só se salvou porque o veículo já havia fechado a porta e arrancado.