Mesmo abaixo de críticas por conta das mudanças nos critérios de seleção para o magistério estadual, o concurso público realizado no domingo é a grande esperança a que se agarram as coordenadorias de educação em todo o estado para sanar um mal que aflige 10 entre 10 cidades gaúchas: a falta de professores nas salas de aula. Na região de abrangência da 16ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), com sede em Bento Gonçalves, a realidade não é diferente.

De acordo com o coordenador Enio Ceccagno, os 24 municípios que pertencem à 16ª contabilizam uma carência que chega a 225 profissionais, vagas que deveriam estar preenchidas, em sala de aula, e cuja ausência agrava um quadro que já é alarmante na educação do Rio Grande do Sul, como mostram as mais recentes avaliações realizadas no país. O que se espera é que, depois de ver 92% dos candidatos serem reprovados em 2012 e, exatamente por isso, ter modificado o edital do concurso para o magistério, esta carência possa ser ao menos amenizada, e com alguma qualidade.

A secretaria de Educação contou cerca de 80 mil candidatos para disputar as 10 mil vagas existentes em todo o estado. O governo estima que, para esta edição do concurso, o índice de aprovação seja bem maior. O problema é que a mudança nos critérios de seleção possa acabar reeditando aquela velha história do cobertor curto, em que a quantidade de aprovados poderia estancar o problema da carência de profissionais, cobrindo os pés, mas a qualidade desses mesmos profissionais aprovados impediria uma qualificação maior da Educação, assim deixando a cabeça descoberta, para seguir utilizando a metáfora pobre do cobertor.

Especialistas na área manifestaram desagrado em relação às mudanças promovidas. Contudo, elas são defendidas pelo governo, que descarta ter afrouxado o processo. A principal alteração é na pontuação de corte. Antes, o candidato deveria acertar 60% de cada uma das provas. Agora, os acertos são contabilizados por módulo, e os 60% são calculados sobre o total de perguntas de cada conjunto de testes. Assim, o órgão espera preencher todas as vagas, ao contrário do que ocorreu em 2012, quando apenas 5,2 mil dos quase 64 mil candidatos foram aprovados na prova objetiva.

Um dos argumentos a favor da nova conta para aprovação é que o ser humano não pode ser avaliado por critérios individualizados. Daí a iniciativa de unir as provas em módulos. Há certa razão, mas será preciso aguardar futuras avaliações. Na prática, o candidato pode ir mal em uma das provas e compensar em outra para garantir a aprovação. A questão é que a medida não é coerente com o objetivo do processo seletivo, já que a possibilidade de um candidato se dar mal na prova de português e recuperar a pontuação em outras disciplinas é preocupante.

Evidentemente, a queda de qualidade entre os docentes aprovados não é uma certeza, já que isso está ligado também à formação, mas é possível que alguns professores menos capacitados sejam beneficiados, o que, sem dúvida, será um problema.