Para quem não o conheceu, podemos apresentar o mimeógrafo como o ancestral da impressora, uma espécie de tiranossauro que viveu até o início dos anos noventa. Era muito usado pelas escolas, em provas e em atividades diversificadas, especialmente em educação artística. Para funcionar, precisava de papel estêncil e álcool, o que dava um cheirinho gostoso na folha, muito apreciado pelos alunos…

Então foram chegando as novas pedagogias, que botaram no chinelo a técnica das professoras primárias de usar o mimeógrafo para reproduzirem desenhos que os alunos pintavam sem sair do quadradinho. E o magistério foi convocado para a reflexão sobre o quanto a escola desestimulava a criatividade. Até uma historinha se repetia em encontros pedagógicos, para conscientizar os educadores da necessidade de mudança dos paradigmas. Se não me falha a memória, era mais ou menos assim: Um menininho explodia de contentamento ao ir à escola pela primeira vez, porque imaginava encontrar um mundão cheio de novidades.

Quando a professora anunciou que iriam desenhar, o baixinho ficou maluco de alegria. Ele adorava desenhar animais, coisas, gente, planetas, estrelas, rios, mar e tudo. Ia começar o traçado de um elefante jogando bola, quando a professora disse que deveriam desenhar flores. “Tudo bem”, pensou o menininho, já imaginando um universo de flores diferentes. Ia rabiscar um campo de alfazemas, mas a professora explicou que deveriam desenhar uma flor vermelha com o caule verde. “Tudo bem”, repetiu em pensamento o menininho, afinal havia uma diversidade enorme de flores vermelhas de caule verde. Quando ia começar seu desenho, a professora pediu que todos olhassem para o quadro-negro, pois ela mostraria como se desenhava a flor. Só depois disso deu a ordem para começarem.

Atividades como essa foram se repetindo no cotidiano dos alunos.

Alguns anos passaram, e então o menino foi transferido para outro colégio. No primeiro dia de aula, sua nova professora pediu para a classe fazer um desenho. O menino ficou aguardando que ela determinasse qual o desenho, as cores e quando começar. Mas a professora disse para ele desenhar aquilo que mais gostasse, do jeito que quisesse, usando a imaginação. Ele pensou, pensou e então desenhou uma flor vermelha de caule verde.

Lembrei dessa história por causa dos argumentos em defesa dos “Livros de Colorir”, que me provocaram tremenda coceira na língua. Primeiramente, quero dizer que não desacredito que eles até possam ter uma função terapêutica para adultos estressados. Como lazer, há quem goste. Mas afirmar-se que “estimulam áreas do cérebro relacionadas com a criatividade”, acho que é apelação. Afinal, o único ato criativo dos pintores é a escolha dos cinquenta tons de cinza…