De acordo com relatos de antigos moradores, localidade começou a evoluir a partir da construção da paróquia Cristo Rei, em 1949. Comércio e indústria já existiam naquela região, mas despertaram com mais força a partir de então

O Cidade Alta, considerado tradicional em Bento Gonçalves, surgiu como fruto do trabalho dos primeiros imigrantes italianos. Pequenas indústrias e algumas casas comerciais já existiam no local, dando o estímulo inicial. Porém, moradores atribuem o desenvolvimento do bairro, a partir da construção da Paróquia Cristo Rei, em 1949.

Segundo informações retiradas do livro “Cidade Alta, Raízes de Um Povo”, do autor e morador do bairro, Itacyr Luiz Giacomello, o primeiro documento histórico da paróquia está datado em 11 de janeiro de 1945, onde, inicialmente, era chamada de Igreja Cristo Redentor.

O salão comunitário, que já existia, servia de Igreja. Era lá que aconteciam os encontros para orações e demais atividades de lazer. Eventos religiosos, culturais, sociais e esportivos, movimentavam a comunidade do bairro.

Foi em 9 de janeiro de 1949 que o então Bispo da Diocese de Caxias, Dom José Baréa, assinou um decreto, criando, oficialmente, a Paróquia Cristo Rei. As obras iniciaram em cinco de setembro do mesmo ano. Já a inauguração da Igreja, ocorreu alguns anos depois, no dia 14 de novembro de 1954.

Desde a construção, em 1949, Igreja Cristo Rei tornou-se uma referência para o bairro Cidade Alta

O pároco da Paróquia Cristo Rei, padre Gilmar Paulo Marchesini, conta que a criação da paróquia foi, primeiramente, uma demanda dos moradores do bairro. A partir disso, ele aponta algumas transformações que ocorreram na região. “A primeira é que a Igreja cria núcleos em torno de uma referência. Isso aconteceu no Cidade Alta com a construção da Cristo Rei”, analisa.

A segunda mudança apontada no bairro é que a Igreja se tornou uma referência. “Na época, não haviam outras. Não tínhamos prefeitura, nem fórum, nem outras entidades. A referência das pessoas para encontros, vida social e festiva, passava sempre pela própria Igreja. Até hoje ela é, pela praça e pela Igreja em si”, explica.

A terceira é sobre o repasse de informações. “A Igreja é fundamental para a comunicação. Na época, junto com o rádio, lá era um lugar privilegiado para a comunicação dos eventos e das questões que iriam acontecer no entorno das famílias”, assegura.

Na visão dos moradores

Itacyr Giacomello

Itacyr Luiz Giacomello, 82 anos, nasceu, cresceu e constituiu família no Cidade Alta. Considerado uma liderança do bairro, o morador conhece muito a região. Ele, que atuou por 15 anos como secretário da paróquia Cristo Rei, afirma que a religiosidade sempre foi um ponto forte da localidade.

De acordo com Giacomello, embora antes da construção da Igreja já existissem alguns empreendimentos no local, eles ganharam ainda mais força depois do surgimento da paróquia. “Comércio e indústria já tinham, mas começaram a despertar”, afirma. “Quem também impulsionou o progresso foi o transporte via ferrovia, onde tem a Maria Fumaça hoje”, acrescenta.

Outro morador antigo é o aposentado Laurindo Valduga, 76 anos. Desde que casou com Ana Valduga, há 50 anos, o casal reside no Cidade Alta. Católicos, ambos integram a comunidade. “A Cristo Rei ajudou todos do bairro. Minha esposa é zeladora da paróquia. Já fizemos parte da diretoria e continuamos ajudando”, orgulha-se.

Valduga destaca a evolução do bairro, comparando com antigamente. “Na época em que viemos morar aqui, não tinha quase nada, nem rua, só um caminho. Depois que fizeram, mas sem calçamento. Aqui tinha até um potreiro, com vaca. O bairro mudou muito”, relata.

Laurindo Valduga

O aposentado também menciona o crescimento de edifícios na região, trazendo inúmeros novos moradores. “Temos muitos amigos aqui, quase todo mundo se conhece, mas com os prédios, tem muita gente nova, que não sabemos quem são, mas os moradores antigos, nós conhecemos. Temos bons vizinhos, a gente se dá bem com todo mundo”, garante.

Contudo, com o avanço da construção civil, Valduga queixa-se da falta de sol. “Tem vários prédios aqui, então, temos só três horas de sol por dia, mais ou menos. Isso está ficando um pouco ruim. O lugar é bom para morar, mas o sol faz falta, mas esse é o preço do progresso”, afirma.

O padre Marchesini, que também é morador do bairro, tem uma visão muito positiva sobre o local. “Vejo o Cidade Alta como um lugar espetacular, com uma história bonita, onde a gente vê no passado o trem, os trilhos, os bares, as construções, as casas antigas. É um lugar onde temos muito vento, mas é bom, porque traz ares novos”, elogia.

Outro apontamento observado pelo pároco é quanto a contribuição das empresas e trabalhadores para deixar a região ainda mais bela. “A parte de empreendimentos, de quem trabalha nessa região, tem contribuído muito para o embelezamento, para o cultivo das ruas e também do bem estar das pessoas. Enfim, são muitos os aspectos que fazem bem ao Cidade Alta”, finaliza.