Brasil está em 41° no ranking de países com fluência no idioma

Vivemos em um país onde apenas 5% da população fala inglês, e destes, apenas 3% apresenta algum grau de fluência, de acordo com levantamento feito pela British Council. O Brasil é o 41º colocado num ranking de 70 países, ficando abaixo de outros países latino-americanos como Equador, Chile, Peru e México.

Ainda assim, estamos falando do mesmo país onde os melhores cargos no mercado demandam além de outras habilidades, inglês fluente. O que tem gerado, nos últimos anos, a consciência crescente da importância do idioma para ascensão no mercado de trabalho, fazendo com que o número de pessoas interessadas procurando escolas de inglês disparasse, o que aumenta, por sua vez, a busca de profissionais qualificados, por parte da escola.

Em Bento Gonçalves, segundo registros da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, há cerca de 50 registros entre escolas ativas e profissionais que tenham como atividade principal o ensino de idioma. Ainda segundo a pesquisa da British Council, por conta das deficiências no ensino básico de inglês, há carência de profissionais que saibam se comunicar no idioma. Tal limitação tem efeito sobre o país e suas oportunidades como um todo, na medida em que sua população conta com um número insuficiente de indivíduos capacitados a atender a demanda por profissionais capazes de funcionar plenamente em âmbito global.

Kauana Wenneker, 18 anos, é uma das estudantes que não dispensa o estudo do idioma. Foto: Arquivo pessoal

Corrida pela certificação mais renomada da área

Letícia Kuhn, 41 anos, era concursada há sete anos na área bancária, mas sempre gostou de inglês. Estuda o idioma desde os oito anos de idade e o desejo era de trabalhar na docência. “Faltava um pouco de coragem apenas. Apesar de já ser fluente, sempre tive a consciência de que precisava ser muito bem preparada para poder dar aula. Quando percebi que estava infeliz na minha carreira bancária e decidi que iria investir na nova profissão, então fiz o meu aperfeiçoamento no exterior. Fui aos Estados Unidos com o foco em estudar. Quando voltei, comecei dar aula”, conta.

Letícia possui quase dez anos de atuação na área. Atualmente trabalha em uma das 50 escolas da cidade. Contudo, jamais se contentou em estagnar na profissão. “Sempre fui preocupada com a minha formação. Acredito que um bom professor de inglês é o que não se deixa levar pela ideia de que ‘já sou fluente e sei de tudo’. Muito pelo contrário. Fui sempre de inovar muito nas minhas aulas, procurar alternativas e de sair dos métodos engessados”, assegura.

O tempo foi passando, vieram pós-graduação e certificações. Porém, um sonho ainda precisava se realizar na vida da professora: o CELTA (na tradução livre Certificado em Ensino de Inglês para Falantes de Outros Idiomas), pela Universidade de Cambridge – uma certificação que permite ao profissional dar aula no mundo inteiro. “Fui postergando, porque é algo muito difícil, exige muito e tem que se dedicar mesmo”, avalia. “Com o passar dos anos, me solidifiquei na carreira, criei meu nome, sendo conhecida pela minha forma de dar aula, de abordar o inglês, e aos poucos vendo qual o nicho e como queria trabalhar. Os últimos 12 meses foram de descoberta, de me reconectar comigo mesma e ver que estava na hora de fazer meu trabalho do jeito que acredito que é a melhor forma”, destaca Letícia.

O Celta é o pontapé que eu precisava dar para empreender na área de ensino de inglês na maneira como eu sempre quis e sonhei. Letícia Kuhn, professora de inglês

O processo de inscrição começa com um formulário todo em inglês, fazer exercícios de gramática, vocabulário e de pronúncia. A segunda parte é uma entrevista ao vivo e online. “Na verdade, foi muito tranquilo, até porque eu falo em inglês, mas sabemos que quando somos testados, a gente treme um pouquinho”, lembra.

A Cambridge possui centros autorizados de ensino no mundo todo. No Brasil, o mais próximo é em São Paulo. “É uma certificação bem completa, que te prepara para ser realmente um bom professor de inglês. Temos que estar muito conscientes no que estamos nos metendo (risos). É um investimento bem alto, mas que vale a pena. Para mim, o CELTA é o pontapé que eu precisava dar para empreender na área de ensino de inglês na maneira como eu sempre quis e sonhei”, garante.

Serão quase 120 horas de aula e mais 100 de extraclasse. “No momento em que todo mundo está parado, para mim é o período em que estou mais me movimentando e investindo na minha formação e nos meus alunos”, reitera Letícia.

Situação atual do idioma no Brasil

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação e os Parâmetros Curriculares Nacionais, tanto para o ensino fundamental como para o ensino médio, determinam obrigatoriamente o ensino de língua inglesa e, em caráter optativo, a oferta de outras línguas estrangeiras. Nesse contexto, o ensino do inglês se resume a noções iniciais das regras gramaticais, leitura de textos curtos e desenvolvimento da habilidade de resolver testes de múltipla escolha voltados para o vestibular.

Foto: Reprodução

De acordo com o estudo da British Council, os Parâmetros Curriculares Nacionais – que estabelecem o currículo de cada matéria – são bem avaliados, mas não conseguem ser plenamente aplicados na prática. Entre os fatores destacados para essas limitações, está a falta de estrutura adequada: não há laboratórios de línguas, por exemplo, já que há poucos recursos destinados para esse tipo de educação.

Outro aspecto na formação dos professores de idiomas hoje atuantes na educação básica é a falta de preparo adequado desses profissionais. “O Brasil, infelizmente, peca muito na forma como aborda a língua inglesa, muitas vezes até em função de sabermos que a exigência para se dar aula no ensino público é para quem tem Licenciatura. Ao meu ver, nem sempre essa formação te prepara para efetivamente ser um bom professor de inglês. Acho que ela prepara, mas tem que se dedicar mais, se quiser mesmo só trabalhar com o inglês. Temos uma deficiência muita grande no ensino público do país, os profissionais deveriam ser mais valorizados e os cursos também deveriam focar na prática mesmo. É uma pena, porque a educação é o ponto principal que prepara uma criança, um jovem para o mercado de trabalho. Se eles tivessem acesso a um ensino bom desde o início, as chances de ter mais oportunidades no futuro são enormes”, opina Letícia.

Valorização de professores

A luta segue pela valorização dos professores de inglês que veem a profissão como uma paixão, aqueles que realmente se dedicam e investem. “A gente sabe que em todas as áreas têm profissionais de todos os tipos. Claro que têm professores que acham que não tem que se profissionalizar cada vez mais, não tem que estudar mais, e isso acaba deteriorando um pouco o mercado de trabalho para os que, como eu, não param nunca. A pandemia veio também para sacudir essas pessoas que tiveram que ou se adaptar à uma nova forma de dar aula ou estão sem trabalho”, reitera Letícia.

Oportunidades na pandemia

Letícia comenta que com a questão da pandemia, muitos caminhos começaram a ser abertos para quem fala inglês. “Muitas empresas, agora, instituíram o home office como política. Então, já tem casos de negócios de outros países que estão abrindo vagas e que procuraram por profissionais no mundo inteiro, porque eles vão poder trabalhar em casa. E, obviamente, que o foco de comunicação é o inglês. O idioma passa a ter uma importância muito maior. É aquela velha história, temos que saber identificar as oportunidades, mesmo nos períodos mais difíceis”, constata.

Levantamento realizado pela Catho apontou as oito profissões que mais pedem o uso do inglês, dentre elas se destacam as áreas de pesquisa científica, importação e exportação, marketing e publicidade e propaganda.