Nos meus tempos de guri, lá pelos vinte anos, o mercado de trabalho era muito receptivo para quem tivesse duas referências: cursado o escritório Modêlo do Colégio Aparecida e fosse um excelente datilógrafo, principalmente se tivesse cursando a exemplar escola de datilografia do Colégio Medianeira. Foi ali que eu tirei o meu curso de datilografia, tinha eu 14 ou 15 anos de idade, o horário disponível era das 13 às 14:00 horas. O livro era um “catatau” de umas 100 páginas e a Irmã que cuidava do curso era rigorosa ao extremo, era proibido olhar para o teclado da máquina, só para o manual, de vez em quando ela se afastava da sala e voltava, de repente, flagrando aquele olhar maligno para o teclado. Mas, eu não enfrentava apenas esse desafio, às 13h30min horas as alunas entravam no Colégio, subindo a escada que passava pela salinha da escola de datilografia. Aí, paravam na escada e, qual um jogral, diziam: “coitadinho, tão bonitinho e de chinelo de dedo”. Eu aguentava o jogral todos os dias, não me abalava, elevava meus pensamentos a Deus e pensava: “o Senhor é meu pastor, nada me afetará”. O chinelo se devia ao fato de eu ter vindo do Barracão, onde raramente eu vestia calçado, andava sempre de chinelo de dedo e, na cidade o sapato continuava sendo desconfortável. Além do mais eu queria aquele diploma, como de fato consegui. Mais tarde vim a ser Presidente da União dos Estudantes e a sede da Entidade ocupava uma salinha no Colégio e contava com a colaboração de estudantes de lá, principalmente das alunas internas do Colégio, de quem me tornei amigo, delas e das Irmãs. O acesso ao Colégio não era fácil e às internas, mais ainda. Tal era valiosa esta relação que, aos domingos, uma Irmã acompanhava as internas para a Boate do Clube Aliança, que começava às 8h e terminava às 24h, horário em que a Irmã vinha buscá-las na porta do Clube. E eu as acompanhava, ia buscá-las e levá-las, como “damo” de companhia. Eram todas meninas lindas, cultas, entre elas a Heloisa, de Nova Prata, (minha Vice-Presidente) a Ana Julia, de Guaporé. Com a Ana Julia eu dançava constantemente. Um dia, tomei coragem, parei no centro da Boate e pedi ela em namoro, dizendo: “Ana Julia, nos damos tão bem, estamos nos conhecendo a tanto tempo, formamos um belo par, vamos namorar?”. Ela olhou para mim e disse: “não posso”. E eu “como não pode, eu falo com a Irmã”. E ela “não é isso não, é que eu estou apaixonada”. “Apaixonada” disse eu, “sim”, disse ela. “Por quem?” disse eu. Depois de muita insistência e parados no meio do salão, ela disse “ele está aqui”, “aqui onde?” questionei. “Lá encima do palco, tocando” disse ela. Olhei para o palco, o conjunto era o do Pedrinho, tocava na Boate todos os domingos. Olhei e fiz uma análise circunstanciada pensando “quem será o meu rival?” embora, naquelas alturas, eu não era mais rival de ninguém, estava sofrendo minha primeira desilusão amorosa. O Carlos Arzuaga não podia ser, embora tivesse seus encantos quando cantava “La Barca”, “Reloj”, “História de um Amor”. Naquele momento eu olhei para ele e disparei um olhar do tipo “não me canta agora aquela música” “no estás más a mi lado corazón, adorar-te para mi fue religión”. Esse estava descartado. Olhei mais “o Pedrinho”, dono do conjunto não podia ser, a idade era um empecilho. Olhei mais e disse para a Ana Julia “só resta o Volmir Basso” o da bateria. Ela não me deixou mais falar e disse: “é ele”. Eu disse “não é possível baby, ele tem olhar de peixe morto, quando ele desmonta os relógios, lá na Gehlen Jóias, e vai montar, sobram peças”. “Como pode ser?”. “Mas é ele”, disse a doce Ana Julia, que era parecida com a Juliana Paes, porém, mais magra. Fui mais longe na minha argumentação, apelei para a ignorância. “Ele não vai te dar estabilidade, é músico, não sabe remontar um relógio, não vai dar certo”. Mas o que é que aconteceu? Ana Julia casou com o Volmir e tiveram dois filhos. Eu continuei com o meu diploma de datilografia do Medianeira e, mais tarde cursei o Escritório Modêlo do Colégio Aparecida. Minhas filhas cursaram o Medianeira, hoje eu encontro pessoas, empresários, líderes, alguns dizem “eu fui distribuidor do Semanário”, outros me dizem “eu estudei no Medianeira”, o Prefeito Pasin fala disso seguido, ouvindo ele falar eu me lembro da letra do Hino do Flamengo que diz “uma vez Flamengo, sempre Flamengo, Flamengo sempre eu ei de ser, Flamengo até morrer”. Pois este Colégio, que tem como patrimônio um prédio histórico, lindo e significativo, tem na Irmã Isaura Paviani um símbolo do valor humano do Colégio, há vários anos ela lidera, com brilhantismo, a Instituição, que agora atravessa seus 100 anos de existência. Sua formação cultural, intelectual e profissional, é de altíssimo nível. Junto com os Irmãos Jayme (professor e escritor) e Carlos, presidente do Conselho Executivo da Ibravin, se traduz na expressão qualificada da família Paviani, de Flores da Cunha. No sábado que passou, no CTG Laço Velho, o Medianeira levou a efeito o JANTAR DA FAMILIA, evento integrante das comemorações do centenário. No palco, muitos pronunciamentos e homenagens, inclusive a entrega, pela Câmara, de Portaria e Louvor à Irmã Isaura. Enquanto os atos de desenrolavam o público presente (quase que a absoluta maioria composta por pais de alunos) conversava em voz alta, criando um clima de desrespeito e constrangimento. Me detive a pensar: “como podem os pais exigirem tanto dos professores, do Colégio, formação cultural, intelectual e respeito” se num momento como esse eles se tornam exemplo de desrespeito? O Prefeito Pasin, ensaiou um discurso, via de regra ele é muito bom na fala, mas quando se viu mergulhado naquele falatório todo, desistiu no meio do caminho, postura inteligente. Mas nada, absolutamente nada, espanou o brilho da noite, havia muita história, muito significado sendo refletido naquele momento. Esta coluna está sendo escrita numa máquina de escrever Triumph, Gabriele 10, vinda da Alemanha, importada pela Comabe. Depois do diploma de datilógrafo do Medianeira, era preciso comprar uma excelente máquina de escrever, suei sangue para pagá-la mas aqui está, 55 anos depois, escrevendo sobre o Colégio.

Em tempo: não fui campeão da Libertadores, não vou chegar entre os quatro do Campeonato Nacional, não sei se vou adiante na Copa do Brasil, mas em compensação não tem mais o técnico Aguirre, e o Dalle e o Vitinho voltaram a jogar bola. E, o mais importante: depois de 14 anos o que o Grêmio conseguiu até agora foi ser campeão da COPA INTER 5.0. Estou feliz.