Silvio Miranda Munhoz

“O pai está sentado em sua poltrona, o filho o importuna com perguntas fúteis: papai, se uma árvore cai no bosque e os meios de comunicação não estão lá para contá-lo, será que a árvore caiu de verdade? O cartoon parece indicar que a investigação da comunicação e o público estão chegando ao nível referido por Walter Lippmann. O que não é contado não existe.” Elizabeth Noelle-Neumann no livro Espiral do Silêncio.

É óbvio, mas dizia Chesterton: chegará o dia que teremos de provar ao mundo que a grama é verde, por isso cito a CF sobre CENSURA PRÉVIA, artigo 5.º, inciso IX: É LIVRE a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, INDEPENDENTEMENTE de CENSURA ou LICENÇA.

Para quem não sabe ou lembra, no regime militar para um programa ir ao ar necessitava permissão da Censura Federal, que era estampada em um documento. Quando ocorria censura o jornal colocava no lugar uma RECEITA DE BOLO. A corte censurou o documentário Teatro das Tesouras do Brasil Paralelo. Criando o conceito da Desordem Informacional: Os fatos são verdadeiros, mas a junção pode levar à conclusão errada sobre um personagem. Explico, 2 + 2 = 4, mas a Corte quer 2 + 2 = 5. Exclua-se o DOCUMENTÁRIO. O Canal, que não usa recursos públicos, vive de assinaturas. Retirou-o e colocou uma receita do BOLO DE CENOURA.

Porém, vivemos tempos sombrios e a Corte, pisoteando de novo a CF, estabeleceu nova CENSURA, agora PRÉVIA, ao proibir o documentário inédito: Quem mandou matar Jair Bolsonaro. A tentativa não aconteceu? Qual o problema de exibir? Proibiu sem conhecer o conteúdo. Antes os censores ao menos o conheciam antes de decidir.

Gritavam combater à censura, hoje pedem, também, o fechamento da TV Jovem Pan. Não, Adelgides, não a fecharam. CENSURARAM-NA, deram direitos de resposta, ameaçaram-na de multa e remoção de conteúdos e desmonetizaram canais conservadores. Usam antolhos, só enxergando um lado, pois os do outro lado nadam de braçada, fazem e dizem o que lhes dá na telha.

A Empresa, preocupada e aconselhada pelo jurídico, pediu aos comentaristas para não usarem as expressões: Ex-presidiário; descondenado; ladrão; corrupto e chefe de organização criminosa.
Pensam como Lipmann, citado ao início – fundador do jornalismo moderno – o que não foi contado não existe. Poderia ser a fonte de uma espiral de silêncio, antes das redes sociais. Nos dias atuais surtem pouco, nenhum ou efeito contrário tais medidas.

Não causam efeito, pois o usuário seleciona o que será lido ou ouvido (não é mais governado pelas programações de rádios, jornais e TVs). Lê, assisti e DIFUNDE o que lhe interessa. Caso cancelado o canal acha outro similar ao seu pensamento e ideologia.

CENSURAR as redes só com o modelo da República Popular DEMOCRÁTICA da Coréia – Coréia do Norte – proibindo o acesso do povo à Internet. Lá só a Elite do Partido e estrangeiros acessam.

Da forma como a Corte fez produz efeito contrário, nos EUA chamam efeito Streisand. Um fotógrafo ao fazer fotos aéreas da costa californiana retratou a casa de Bárbara Streisand (daí o nome). Por violação da privacidade a artista processou o fotógrafo. Com a repercussão do processo a foto que só fora vista 06 VEZES viralizou e teve 420MIL ACESSOS. Com a Internet REMOVER OU CENSURAR só faz crescer a visibilidade.

Os peticionários aplaudidos por cartinheiros, sob com a desculpa de ataque à democracia, que continua firme e caminha altaneira, traem a CF e pedem à Corte que a rasgue ao admitir CENSURA. A maior inimiga da DEMOCRACIA.

Com o episódio lembrei frase do discurso de Ulisses Guimarães ao promulgar a CF: Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério.
Hoje, no Brasil, existem várias pessoas amordaçadas, exiladas, presas e investigadas por opinião. Pura CENSURA. Disseram o que o establishement não gosta ou não quer ouvir!.. Rezo para não chegarmos a última etapa do caminho maldito.

Que Deus tenha piedade de nós!…