A pandemia do coronavírus pode estar causando um efeito colateral positivo. É que ficar mais tempo em casa, sem ter companhia, gera a sensação de solidão em algumas pessoas. Como consequência disso, em Bento Gonçalves, muitos cães e gatos tiveram a oportunidade de recomeçar a vida ganhando um lar recheado de amor para morar.

Uma das voluntárias da Organização Não Governamental (ONG) Patas e Focinhos, Aline Godoy, 23 anos, avalia o primeiro semestre do ano como sendo bom em relação as adoções. Entre janeiro e agosto, 116 pets foram adotados. Desses, 48 eram cães e 68 gatos. De acordo com a voluntária, houve bastante procura por animais adultos. “Sentimos que é por companhia: para a família, filhos, senhoras”, afirma.

O que também está contribuindo para que as adoções sejam de fato efetivadas, são os vídeos filmando os pets. Segundo Aline, os voluntários notaram que essa ferramenta está favorecendo bastante. “Percebemos que com os vídeos, que mostram como os animais se comportam e as características, as pessoas se ‘apaixonam’ mais por eles do que somente por fotos”, analisa.

A ONG, fundada em abril de 2013 por um grupo de pessoas que desde aquela época dedicavam o tempo ao resgate de animais abandonados e que sofriam maus tratos, resgatou neste ano, até a primeira semana deste mês, 146 animais: 101 gatos e 45 cães. Atualmente, 49 pets seguem aguardando a chance de adoção.

Já a ONG Todos Por Um Focinho nasceu quando três voluntárias da causa decidiram se juntar para cuidar principalmente de casos onde os animais sofreram maus tratos. “A maioria das outras ONGS não se envolvem muito nesse processo que é bem complicado. Existem donos que não querem entregar o animal ou brigam quando chegamos no local para recolher”, conta a voluntária Paula Trigo, 30 anos.

De acordo com ela, houve muita procura para adoção de filhotes. Entretanto, destaca que “não estamos em época de ter ‘babys’ e muitas adoções não ocorreram por isso, porque todos procuram animais filhotes”, explica. Ainda assim, neste ano, a ONG foi responsável por encontrar um lar para cerca de 15 animais que estavam sob responsabilidade deles.

Com 12 cachorros e 15 gatos precisando de um lar, mas ao mesmo tempo ciente de que o aumento da procura pelos pets pode ser atribuído ao maior período em que as pessoas estão em casa, a voluntária pergunta: “será que vão continuar cuidando deles após tudo voltar ao normal? A gente se questionou muito sobre isso e ainda estamos cuidando das adoções e vendo bem para quem iremos entregar os animais”, frisa.

Unidas desde o momento em que atuaram no resgate do mesmo animal, três amigas fundaram a ONG Amigos Pet, há quatro anos. Entretanto, a realidade desse ano, apontada por uma das voluntárias, Morgana Formaleoni, 35 anos, é diferente da relatada pelas outras entidades. “Os abandonos aumentaram pelo fato da pandemia. Muitas pessoas perderam a estabilidade financeira e a primeira reação foi o abandono dos animais”, adverte. De acordo com Morgana, apenas cinco cães foram doados no primeiro semestre.

Um ato de responsabilidade

Para não se arrepender da adoção, Morgana cita algumas dicas que devem ser levadas a sério. Ela destaca que os adotantes precisam ter consciência de que um animal é uma vida e que eles também têm sentimentos. Ademais, os mesmos precisam de um tempo para conhecer a nova família e o novo espaço. Ou seja, é preciso ter paciência.

A voluntária também cita que os pets terão que fazer as necessidades, poderão fazer bagunça e devem viver em torno de 10 a 15 anos. “Além de disso, precisam saber que em caso de mudança, o animal de estimação precisa ser incluído e não descartado como um objeto. Quem não tem este pensamento em relação ao animal, infelizmente é melhor não adotar”, orienta.