Sim! Éramos crianças levadas mas tementes da “LEI”: lei da chinelada, lei da cintada, lei da varinha de marmelo, lei do tapa, do puxão de orelha, da palmada e tudo o mais que estivesse ao alcance da mãe. Éramos desafiadores e fomos bem criados. Não temos queixas das merecidas sovas e foram inesquecíveis.

Já pré-adolescentes, nem apanhávamos tanto mas havia uma nova “LEI”: a lei do castigo, clara e temida, era danada e a pena variava conforme o momento. Vamos dar uns exemplos ocorridos na Paróquia Santo Antônio, quando o vigário era o Padre Mascarelo.

Coroinhas, eu e o primo José, hoje professor de matemática na UCS, ajudávamos na cerimônia da Via Sacra, aquela em que o Padre passa pelas quatorze estações da Paixão de Cristo. José e eu segurávamos as velas, ladeando o Seu Cleimar que, próximo da parede, portava a Cruz, caminhando quadro a quadro.
José propôs o desafio para ver quem de nós conseguiria fazer o maior penduricalho de cera grudada na vela e assim íamos com nossa brincadeira inclinando a vela conforme o fogo derretia a cera.

Olhando mais para o penduricalho do que para o fogo foi que o desastre aconteceu: incendiou o cabelo do José. O Padre Chico, coadjutor da Paróquia na época, avançou rápido e apagou o fogo a tapa. O ar fedia a cabelo queimado e os paroquiano: só alegria.

Não tomei os tapas mas veio o castigo: sem matine no Cine Popular (da Paróquia e depois Marcopolo) por 2 meses. Perdi todo o seriado do RIN TIN TIN, aquele do cachorro ensinado. Doeu foi muito!

O outro caso ocorreu durante a Benção do Santíssimo Sacramento, quando o Padre Mascarelo rezava a “interminável” Ladainha de Todos os Santos enquanto o povo respondia “Ora Pro Nobis”.
Apareceu um besouro de chifre, daqueles graúdos, caminhando na capa magna do Padre Mascarelo que estava ajoelhado defronte ao altar. O José, como sempre meu companheiro coroinha, apontou com o queixo e na leitura labial foi claro: “deixa lá, não tira o bicho!”
O

besouro subiu até a gola alta e caiu para dentro. Cerimônia interrompida e o pior: o José esparramou as brasas do turíbulo pelo tapete da igreja. O Padre Mascarelo, interpretando o crime de omissão quanto ao besouro, mandou ajuntar as brasas com a mão. Nós pagamos o pato e mais três meses de castigo sem cinema, bem quando passava o melhor filme do ano: O MONSTRO DA LAGOA NEGRA. Até hoje tento alugar o vídeo mas ,,, sem cópia.

Hoje a pena é mais branda: sem I PAD no fim de semana, dormir cedo e sem televisão, sem chocolate depois do almoço e….
As crianças são mais vivas e aprontam mais. Os castigos são mais benévolos e frequentemente perdoados. Será que a impunidade é consequência do não cumprimento das Leis?

Ouvi uma criança apontar para o pai e dizer:
– “Se tu me bater vou denunciar no PROCON!” Audácia do bofe.
Piá arrogante: só com o “tu” ao invés de Senhor já teria merecido um tapa na bunda e com a ameaça, então, mereceria escrever com lápis todo o Estatuto da Criança para saber que não é PROCON.

Deus abençoe o Padre Chico e o Padre Mascarelo. Muito obrigado pela dureza dos ensinamentos. De minha parte, continuo firme paroquiano da Santo Antônio e trato as pessoas por Senhor/a.