velhice, sobretudo, no Brasil, sugerem um esteriótipo social para a população em questão. Observa-se, atualmente, que o público idoso vem aumentando significativamente, em meio à uma sociedade permeada pela potência e superação de desafios e limites. Logo, frente à demanda da produção incessante, a velhice adquire caráter de impotência humana, sendo isolada do contexto utilitário. O envelhecimento, de forma geral, pode se entendido como um processo universal, em que ocorre a gradativa maturação do organismo, naturalmente incapacitando o indivíduo ao exercício de determinadas atividades. Embora esta etapa do ciclo vital não signifique uma doença, as limitações decorrentes da idade avançada acabam gerando uma série de conflitos frente à complexidade ao reconhecer-se diferente do passado e, muitas vezes, até mesmo de ser reconhecido como tal pelas gerações anteriores – os mais jovens.

Num contexto permeado por mudanças de ordem física e emocional, o ambiente familiar se torna uma rede de apoio essencial para a saúde e qualidade de vida do idoso, considerando possíveis fragilidades que requerem cuidados. A família, neste sentido, pode ser considerada a instituição mediadora principal na promoção de afetos e segurança, entre o idoso e sua rede circundante. Observa-se, neste mesmo sentido, a necessidade de modificar determinados padrões de pensamento quando se pensa nas instituições asilares como outra alternativa de espaço de conforto e cuidado. Historicamente, os referidos ambientes muito foram vislumbrados como locais que abrigavam idosos considerados desprovidos de utilidade para a produção social. Atualmente, percebe-se a necessidade de ampliação destes contextos e, sobretudo, de profissionais qualificados que ofereçam continência, segurança e amparo para as necessidades sociais e afetivas do idoso.

Apostando em formas alternativas de cuidado

As casas de repouso, conhecidas pela população, podem servir como referências de cuidado interessantes, sobretudo na preconização da qualidade nas atividades. O Estado, neste contexto, também assume papel fundamental, à medida que pode atuar no financiamento e fiscalização de todo um processo de inserção e manutenção do idoso em um ambiente em que possa se identificar com pessoas que se situam num período de vida semelhante ao seu. Esta aproximação tem muito a auxiliar, uma vez que, por intermédio do conhecimento de situações semelhantes, acontece uma dinâmica de trocas afetivas que se tornam capazes de promover recursos de adaptação e desenvolvimento ou então fortalecimento de recursos em cada indivíduo.

As casas de repouso têm, atualmente, uma missão: tornarem-se espaços para além do isolamento do idoso, no sentido de serem promotoras de acolhimento, por intermédio de profissionais que preconizem momentos de atenção e carinho, compreensão e suporte, para a oportunidade de ressignificar a velhice num contexto seguro, que permita envelhecer com saúde e jovialidade interna. Isto também é um exercício para a sociedade, uma vez que o idoso não pode ser retirado do social por ser entendido como incapaz. Muito pode ser produzido dentro das condições e possibilidades de cada subjetividade. E quanto à fiscalização, sua atuação se faz necessária, de forma complementar, para que as instituições asilares observem o cumprimento das normas mínimas exigidas para o seu funcionamento, na digna prestação de atendimento ao idoso, durante toda e qualquer etapa da vida.

Franciele Sassi
Psicóloga Especialista em Teoria, Pesquisa
e Intervenção em Luto e Perdas | CRP 07/2408