Já dizia o juramento da igreja católica: “Prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da nossa vida, até que a morte nos separe.” Os tradicionais votos do casamento, que sacramentam o contrato de união, já não são mais ouvidos com tanta frequência quanto antigamente.Muitos casais têm dispensado a cerimônia religiosa. Na Igreja Santo Antônio em Bento Gonçalves em 2015 foram realizados 51 casamentos. Já em 2016, os enlaces caíram para 44. Mas na contramão dos números religiosos, a troca de alianças no civil cresce, ficando em torno de 500 matrimônios por ano.

Registrador do Cartório de Registro Civil de Bento Gonçalves, Gerson Tadeu Astolfi Vivan afirma que a maioria dos casais faz o contrato de casamento somente para formalizar a união, e garantir direitos em comum, pois na maioria das vezes já estão juntos há alguns anos. O mesmo acontece com quem opta apenas por fazer o documento de união estável.

Ricardo Aguiar e Jéssica Nunes, uniram as escovas há sete anos e apenas firmaram a união no Registro Civil da cidade. O casal, que planeja ter um filho no próximo ano, acredita que a felicidade independe do casamento. “Nós não perdemos nada, temos tudo que precisamos, somos felizes e acreditamos no nosso amor. A ida até a Igreja ou qualquer outra confirmação de votos não nos trará mais felicidade”, comenta Aguiar.

Padre Ricardo Fontana, Pároco da Paróquia Santo Antônio entende que a cultura e a importância da Igreja estão se perdendo com o tempo. “Estamos tentando trazer de volta os jovens para dentro da Igreja, com movimentos juvenis, a pastoral familiar que procura orientar os casais, há também o cursilho, além da direção espitirual personalizada”, comenta.

Já o casal Kariele Comparin e Vinicius Siqueira, moram juntos e estão no relacionamento há mais de seis anos e ela mantém vivo o sonho de entrar na Igreja vestida de branco. Segundo ela, eles ainda não casaram por falta de dinheiro. ” Tenho essa vontade, é um desejo que está comigo desde que sou criança e acredito que muitas mulheres também tenham isso. Queremos selar a união, o amor, o sentimento mais puro que existe entre ambos perante à Deus. Isso não vai mudar o que existe entre nós, mas vai acrescentar”, comenta a noiva.

“O relacionamento precisa de fé e da graça de Deus”
Padre Ricardo Fontana, pároco da Paróquia Santo Antônio, atribui a diminuição às dificuldades econômicas que a população tem passado e à perda da fé.

Jornal Semanário: Ao que o senhor atribui essa redução?
Padre Ricardo: Muitas pessoas que vem até a Igreja comentam que o fator crise é o fundamental para que não ocorra o matrimônio religioso. Eles têm medo de gastar e, com isso, acabam optando por utilizar o dinheiro para comprar um apartamento ou manter os cuidados pessoais do casal.

JS: Mas o fenômeno de morar junto não é recente, não é mesmo?
Padre Ricardo: Realmente esse fenômeno vem a mais tempo, há uma redução paulatina de ano a ano. Pelo comprimisso em uma época liquida (famosa expressão de Zygmunt Bauman), temos as relações também liquidas, onde nos moldamos conforme a forma vai se moldando. Com isso, a única certeza é a mudança e as pessoas não querem mais compromissos permanentes, justamente por viverem as relações cada vez mais voláteis.

JS: A Igreja atribui esse fenômeno ao medo de assumir compromissos?
Padre Ricardo: As relações atualmente são muito frágeis. É muito fácil ver os casais dando fim aos casamentos, ou até mesmo aos namoros, por não conseguirem e, muitas vezes, não acreditarem no ‘para sempre’, que é o que a Igreja prega.

JS: O senhor acredita que o casamento atual está ligado à grandes festas?
Padre Ricardo: Muitos casais que já vivem junto há anos entenderam o real significado do matrimônio. Com isso, fazem algo discreto, apenas para os familiares mais próximos e os amigos mais íntimos. Pois temos conhecimento que, muitas vezes, há casais que gastam muito dinheiro na cerimônia, fazem festa para muitas pessoas e o matrimônio tem fim um ano depois.

JS: Qual a perda que os casais têm ao não se casarem na igreja?
Padre Ricardo: ‘Perde a graça’ (risos). Você vai caminhar a dois em uma relação que vocês acreditam. É uma atitudade de fé, e isso precisa da bençao e da graça de Deus. Vencer as tentações e as dificuldades, são fundamentais. Você vence isso mais fácil com a bençao, quando se tem uma vivencia de fé, pois o relacionamento não se sustenta sem o básico que é estar junto a Deus.

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