Suposta vendedora de lençóis conseguiu dados da conta bancária das vítimas a partir de cartão de débito

Pessoas idosas estão sendo alvo de golpistas em Bento Gonçalves. Por apresentarem mais vulnerabilidade, principalmente na questão do uso de tecnologias, criminosos se aproveitam daqueles que já estão em idade avançada para benefício próprio.

Um casal de idosos, moradores do bairro Universitário, que prefere não se identificar, foi alvo de um grupo que veio de Venâncio Aires. Segundo a senhora de 69 anos, tudo começou quando um carro preto estacionou em frente à residência da família. “Desceu uma mulher vestida de calça jeans e máscara e um colete com emblema de uma marca de lençóis. Ela me ofereceu lençol de malha, insisti umas dez vezes que eu não queria, foi quando a ‘vendedora’ começou a baixar os preços. Meu marido disse para eu ficar já que era baratinho, ela fez por 60 reais dois jogos”, conta.

No momento do pagamento, o casal optou por pagar com o cartão de débito. “Coloquei a senha virada para o meu lado. Quando ela virou a máquina para o lado dela, disse que meu cartão estava com problema. Eu falei que não tinha como, pois também havia usado no dia anterior. Também falei que pagaria de outra maneira, com cheque, mas ela disse que não queria e pediu para tentar novamente”, lembra a aposentada.
A partir disso, começaram as desconfianças. “Eu disse três ou quatro vezes para ela não tentar de novo para não bloquear meu cartão, ela dizia ‘a senhora tem muito medo’. Mas eu sei que se insere três ou quatro vezes na máquina, corre esse risco”, afirma.

Mesmo com a vítima dizendo que não queria, a suposta vendedora inseriu o cartão diversas vezes na máquina. “Quando ela me devolveu, me disse para deixar assim porque tinha uma senhora da rua de baixo que também tinha comprado e iria pagar só em abril, então ela me cobraria depois”, relata.

A situação aconteceu em uma quarta-feira, dia 10 de março. Dois dias depois, após ir ao banco, a idosa percebeu que tinha algo errado. “Fui pegar a papelada que precisava, quando cheguei em casa fui ver o estouro que tinha dado. Me levaram cinco mil reais em dois saques, um atrás do outro. Foi um de dois mil e outro de três mil”, lamenta.
O casal resolveu expor a história para que o mesmo não ocorra com outras pessoas. “Quero alertar o pessoal, quando chega uma pessoa estranha, principalmente para idosos, nem abram a porta, olhem pela janela para não acontecer o que houve comigo. Eu perdi, mas não quero que outras pessoas percam também”, aconselha.

Golpe do funcionário de banco

Problemas assim também estão acontecendo com outros moradores da Capital do Vinho. “Essa semana, no prédio onde mora meu genro, veio um telefonema para uma senhora que recentemente tinha perdido o marido de Covid-19, e falaram que era para ela descer porque tinham funcionários do banco que precisavam do cartão e uma senha. Depois, fizeram seis saques de mil reais na conta dela”, expõe a idosa de 69 anos.
Entretanto, neste caso, a situação foi resolvida mais rapidamente. “Eles têm câmera de segurança e uma semana depois já conseguiram reverter a situação e receber o dinheiro de volta”, explica.

Como as vítimas devem reagir?

Segundo a advogada Pamela Casanova, quando uma pessoa verifica que sofreu um golpe envolvendo a utilização de cartões de crédito ou débito, no momento em que o consumidor identificar alguma movimentação indevida, a primeira providência é contatar a instituição financeira e a operadora do cartão, solicitando o bloqueio do cartão. “É de extrema importância, a fim de evitar que o golpe continue sendo praticado em novas transações. Hoje já existe esta opção disponível em aplicativos de celular”, afirma.

O segundo passo é sinalizar a instituição financeira sobre o ocorrido e iniciar o procedimento de contestação. “Para obter o cancelamento das operações realizadas indevidamente e a devolução de valores. Caso o consumidor tenha interesse, especialmente nos casos em que o golpe seja aplicado com a utilização do cartão de forma física, este poderá também fazer o registro de boletim de ocorrência, seja de forma presencial ou digital”, explica.

Sobre a restituição dos valores perdidos, a advogada explica que cada situação deve ser avaliada de forma individual. “Geralmente, quando o golpe é praticado através da utilização dos dados do cartão de crédito em compras online ou através de cartões clonados, esta devolução se dá após a conclusão do processo de contestação junto à instituição financeira. No entanto, caso não seja possível resolver de forma administrativa, o consumidor poderá buscar auxílio jurídico, a fim de avaliar a viabilidade de uma ação judicial”, pondera.

Caso seja possível identificar os golpistas, Pamela diz que é preciso primeiramente avaliar a situação para entender qual o crime está sendo praticado. “Nesses casos de fraudes com cartões de crédito ou débito subtraídos ou clonados, a tipificação penal que tem sido considerada mais adequada pela doutrina e jurisprudência é a de furto mediante fraude (artigo 155, § º, II, do Código Penal), cuja pena é de reclusão de dois a oito anos e multa. Caso seja considerado estelionato (artigo 171 do Código Penal), a pena é de reclusão é de um a cinco anos e multa”, destaca. Quando se trata de idosos, por serem mais vulneráveis, caso o crime considerado seja estelionato, aplica-se a pena em dobro.

Orientações para não cair em golpes

De acordo com a advogada Pamela Casanova, para se proteger de golpes é preciso adotar alguns cuidados:

  • Não forneça os dados do seu cartão por telefone ou e-mail;
  • Cuidado ao inserir seu cartão em aparelhos/máquinas avariadas (com o visor quebrado, por exemplo);
  • Verifique as informações da compra antes de digitar a senha e solicite a sua via do comprovante;
  • Fique atento ao digitar sua senha, tomando cuidado para que ninguém veja;
  • Se possuir cartões por aproximação, o ideal é utilizar carteiras com bloqueadores para transporta-los;
  • Ao realizar compras on-line, sempre verifique a procedência do site e verifique suas avaliações e reputação. Cuidado com ofertas ou promessas exageradas;
  • Não clique em links suspeitos enviados através de e-mail ou aplicativos de celular;
  • A utilização de programas antivírus pode auxiliar na proteção de seu computador ou celular;
  • Consulte seu extrato bancário e informações sobre a fatura frequentemente, ou configure seu aplicativo para lhe enviar notificações sobre operações realizadas, a fim de possibilitar a identificação da fraude o mais breve possível.