Ainda ontem, num café do centro da cidade, escutei a conversa de um casal de namorados que tomo a liberdade de contar a você, a fim de que reflita sobre o tema. Pesquei o diálogo no meio.
A garota de uns dezoito anos com os olhos secos, disse:
– Acabou.
O garoto de uns vinte anos com os olhos molhados, perguntou:
– Acabou?
Ela com os olhos no chão, afirmou:
– É, acabou!
Ele não querendo acreditar, tornou a perguntar:
– Por quê?
Ela esmagando com a sola do tênis o resto das esperanças dele, disse:
– Não quero mais você!
Ele com o rosto colado nela insistiu:
– Como acabou se mal começou?
Ela exclamou:
– Não sinto mais nada por você!
Ele cheio de reticências, murmurou:
– Deixe que eu “sinto” por nós dois…
Ela com o cartão vermelho na mão, disse numa voz dura:
– Fora daqui, acabou.
O garoto se descoloriu até ficar da cor do leite, levantou-se e saiu de campo.
Pois é, chega uma hora em que o amor acaba como bem disse Paulo Mendes Campos em uma de suas brilhantes crônicas carregada de sutilezas e bom humor.
O amor pode acabar de repente ou aos poucos, como uma camélia que cai do galho e vai murchando, murchando.
O amor pode acabar simplesmente porque tinha de acabar ou acaba por pura preguiça dos enamorados de cuidar, regar, cultivar, levar adiante.
O amor pode acabar quando acaba o respeito e o diálogo.
O amor pode acabar quando os dois corações perdem o contato e um passa a gritar no ouvido do outro, descontroladamente.
O amor pode acabar quando acaba o encanto, entra o desencanto e cada um vai para o seu canto.
O amor pode acabar quando um acha que é dono do outro. “Você é meu e com o que é meu faço o que eu quiser”.
O amor pode acabar sem dor ou pode acabar aos prantos. Pode acaba em arranhões ou pode acabar em perdão.
O amor pode acabar em um deserto de esquecimento ou pode acabar em um mar de saudade.
O amor pode acabar sem ter começado ou pode acabar sem ter acabado direito.
Talvez não devesse ser dessa forma, mas é assim que as coisas da vida são.
Acaba o amor mais frágil. Acaba o amor mais forte. Acaba o amor mais longo. Se não acaba, troca de nome e muda para o lado da rua das coisas mornas.
Para começar basta botar um pé na frente do outro. Para acabar basta dar mais um passo.
O amor nem sempre acaba em seu devido tempo. Pode acabar muito antes pela impaciência de esperar que um grande amor brote ali onde nasceu a paixão.
O amor acaba quando menos se espera. Acaba sem soar sirene. Acaba sem dar aviso. Acaba sem lenços molhados.
O amor acaba de repente no ponto de táxi. De repente, no banco da praça. De repente, no portão de casa. De repente, numa mensagem pelo celular.
O amor pode acabar repente num café qualquer da cidade, como o daqueles dois adolescentes.