Dos nove monitores remunerados da Comunidade Terapêutica Rural de Bento, seis já foram atendidos pela unidade

Olimar Sérgio Bonotto já atua há seis anos como monitor. Foto: Lorenzo Franchi

Um lugar afastado acerca de 30 min do centro de Bento, próximo do Km 200 da BR 470, rodeado de morros, árvores e emoldurado por açudes e campos nos mais variados tons de verde. Some a isto um ambiente acolhedor, onde todos são vistos como uma “grande família”. Assim é a Comunidade Terapêutica Rural, situada no interior da localidade de Tuiuty, que atende homens com idade superior a 18 anos com algum tipo de dependência química (drogas ou álcool). Neste espaço de 12 hectares, divididos em área de preservação- de mata nativa -e sede da unidade, que conta com um espaço ecumênico, campo de futebol, pracinha, trilha para caminhadas, dormitórios, refeitório, horto e consultório- que 116 pessoas concluíram a reabilitação e voltaram a viver em sociedade. No total, 406 homens já passaram pelo centro.

Entre idas e vindas ficam os exemplos positivos. Como é o caso de Olimar Sérgio Olivotto, um dos primeiros atendidos pela Comunidade, em 2011, que após concluir a reabilitação, retornou como monitor (remunerado). Assim como ele, dos nove funcionários, outros cinco colegas também foram ex- internos. “Esse lugar mudou minha vida. Logo que sai da Comunidade busquei fazer um curso para monitor, em Ivoti. Queria trazer meu exemplo, ajudar quem me ajudou, quem me deu carinho, me apoiou”, conta Olivotto. Para ele, além do tratamento recebido, o apoio da família- que visita-os no terceiro domingo de cada mês- e o filho David, 12 anos, foram os “incentivadores para mudar de vida”.

Segundo o coordenador administrativo da Comunidade, Leonir Vivan, alguns internos estão aptos a se inserirem na sociedade antes do término do tratamento (seis meses). “Não há orgulho maior do que ver alguém bem, reiterado. Nosso diferencial é que atendemos o antes, o durante e o depois. Criamos um ambiente de uma grande família. Motivador”, ressalta Vivan.

Dia a dia

A rotina no abrigo começa cedo, antes do raiar do Sol, às 6h, e vai até o cair da noite, às 22h30min. Como afazeres os atendidos contribuem com a limpeza dos leitos e participam de atividades de laborterapia, um método que usa o trabalho manual como meio de afastar os malefícios da ociosidade. Lá, eles podem ajudar no horto, onde são cultivadas flores e árvores nativas- revertidas para o município em canteiros e reconstituição de matas auxiliares de arroios- alimentar os patos, a bezerra carinhosamente chamada de Beca e cuidar das “guardiãs da comunidade”, as cadelas Camagra e Kika.

Olimar também pontua que a unidade atua nos princípios da “espiritualidade, do regramento como cidadão e do respeito”. Sobre os ensinamentos que busca transmitir e a convivência entre eles, o profissional destaca que “é preciso um envolvimento de todos para combater essa doença. O segredo é “matar um leão por dia”. Sou mais um amigo, um irmão do que um monitor. Trabalho feliz. Amo o que eu faço. Só de saber que eu pude sensibilizar alguém e salvar uma vida, já me fortalece”.

A Comunidade é a primeira do Brasil a ter o atendimento total custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e tem a prefeitura como mantenedora. Os acolhidos passam por uma triagem no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), por 15 dias, antes de serem designados à unidade. O local que completa sete anos de atuação em 19 de março acolhe, no momento, 12 pessoas.

O secretário adjunto de Saúde, Marlon Pompermayer, qualifica o centro de atendimento como “uma referência no Brasil”. Mais do que os índices positivos, Pompermayer enaltece: “o trabalho aqui desenvolvidos tráz exemplos para a sociedade. É lindo. Seja na contribuição deles com as flores, com trabalhos externos, mas mais do que isso, na reinserção do cidadão de bem na comunidade. Esse é o nosso objetivo. Estamos no caminho certo”.