Nos últimos dias, coincidentemente, algumas pessoas falaram sobre o meu rosto. A primeira disse que não pareço envelhecer, já que estou sempre igual, a segunda disse que “agora ficou bom com esse rosto mais redondo” e a terceira pediu o que eu fazia para os incomodativos pés-de-galinha que não apareciam em meus olhos. Fiquei pensando nos giros que a vida dá em torno da aparência e que poucos falam da essência. Ninguém fala da minha energia, do sorriso e bom humor que costumo preservar, da maturidade aliada às graças que pratico em meu dia a dia. O rosto, porém é notável. As pessoas reparam mais. O Botox, o preenchimento labial, as luzes no cabelo, as lentes de contato até nos dentes nos fazem camuflar uma identidade que não é a nossa e que não admitimos assumir em prol da beleza. Se é feio, não pode ser; se é velho, é preciso resolver. Poucos assumem a sua identidade. A beleza, também, é exterior, poucos pensam em preservar a saúde mental, o equilíbrio emocional, a alimentação natural, as rugas normais vindas com algo chamado tempo. Não estou aqui desprezando o autocuidado, a vaidade, a tecnologia a favor da beleza disponível a quem precisar e quiser pagar, estou afirmando que envelhecer se tornou um problema – para muitos, uma doença. A foto tem filtro, a cara também. Cabelo natural ainda tem? Eu também sou adepta a cosméticos, a salões de beleza e a notícias e suas mais variadas descobertas a respeito de saúde/estética/velhice/dicas de beleza. Mas dá medo de viver nessa sociedade que não aceita que ficar velho é comum, que só podemos nos apaixonar pelo novo e magro, que dizer que engordou soa ofensivo, que eu estou bem comigo mas preciso parecer igual em meio a tantos diferentes. Preciso ser loira e bronzeada, magra mas torneada, com dentes brancos, cílios grandes e unhas feitas.

É a geração doente pela aparência, que gasta o que não tem para parecer ser quem não é. Escassez de valores. As pessoas estão na vitrine. A vida é líquida, pois tudo passa, nada dura. Nem a roupa, que sai da moda; nem a idade pode ser mostrada. Eu sei e todos sabem do livre arbítrio, da escolha de vestir ou ser quem se bem entende, mas, na rua, ver uma idosa de cropped é, no mínimo, estranho. Desculpas aos que se sentem ofendidos, mas não dá pra normalizar.

Quanto a mim, sinceramente, não sei se é elogio ou se me ofende quando dizem que “você tem cara de 20 e poucos anos”. Eu sei que não tenho mais o corpo de 20 anos e não vou mais ter, porque hoje sou outra pessoa, meu corpo mudou e eu também, o estilo de vida não é mais o mesmo nem a estrutura corporal. Eu prefiro ser comparada ao vinho, que envelhece, mas fica melhor com o tempo do que propriamente ser comparada com alguém que mudou e já não existe mais. É preciso assumir os brancos (mesmo que se pinte), os erros e o tempo. Como dizia Renato Russo “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”. Aceite que envelhecer é uma dádiva e nem todos chegam lá!