Apesar de ser uma doença grave, o índice de cura pode chegar a 90%, segundo o Inca

Neste dia 15 de fevereiro é comemorado o Dia Internacional de Luta contra o Câncer Infantil. A cada ano, 12 mil novos casos são diagnosticados no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Apesar de ser uma doença grave, com o avanço da medicina, a cura em crianças e adolescentes pode chegar a 90%, se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados.

O câncer infantil possui características próprias e bem diferentes em relação ao câncer em adultos. As células que sofrem a mutação no material genético não conseguem amadurecer como deveriam e permanecem com os aspectos semelhantes da célula embrionária, multiplicando-se de forma rápida e desordenada. Por isso, a proliferação do tumor é mais rápida em crianças.

Atualmente, a arma mais importante contra a doença é a quimioterapia. Aliás, as crianças respondem melhor a este processo do que os adultos. “Os anticorpos monoclonais, que antes eram apenas utilizados em câncer adulto, hoje já estão sendo usados em diversos cânceres infantojuvenis, o que tem aumentado muito o índice de cura. Além da quimioterapia, há também a cirurgia e a radioterapia”, destaca a oncologista pediatra em Bento Gonçalves, Angela Rech.

A leucemia corresponde à maioria dos casos, e essa prevalência é mundial. A medicina ainda não possui uma resposta do porquê desse câncer ser o mais comum. “Os cânceres infantojuvenis são provenientes de alteração genética, associado também a fatores ambientais, como irradiação, uso de medicamentos proibidos, álcool e drogas durante a gestação, até mesmo tintura de cabelo”, explica a Doutora.

Já o segundo câncer mais frequente na infância é o tumor cerebral, seguido de linfomas, conforme dados do Inca. Há também casos de tumores nos ossos, que acometem mais adolescentes, nos rins (tumor de Wilms) e nos olhos (tumores dentro da retina).

Se por um lado o câncer em adultos está ligado ao envelhecimento, tabagismo, álcool, entre outros riscos de exposição, o câncer na infância não tem relação com fatores ambientais e de estilo de vida. Por esse motivo, é muito importante o diagnóstico precoce para o sucesso do tratamento. “Não se pode perder tempo. No momento em que se percebe que há algum sintoma suspeito, deve-se procurar o mais rápido possível um médico pediatra, para que proceda a investigação inicial e depois encaminhar a um Centro de Tratamento”, alerta.

Tratamento

O tratamento pode ser muito ou pouco tóxico, vai depender do estágio da doença. Mas, de uma forma geral, ele é tranquilo. Pode ser feito parte ambulatorial, parte hospitalar. “Há necessidade de um acompanhamento intenso por parte da família, pois essa criança terá restrições, limitações, tudo para que o tratamento ande bem para que se atinja o objetivo, que é a cura”, aconselha.

Esse processo deve ser feito em um Centro especializado, por profissionais da área e que possam dar todo o suporte para a criança. É de suma importância, pontua a médica, ter também uma equipe multidisciplinar — como um psicólogo na área de saúde mental, assistente social no amparo à família do ponto de vista financeiro, enfermeiro especializado em oncologia — para que a criança e os que a cerquem recebam o devido apoio.

Desafio da medicina

Angela Rech constata que o grande desafio está em chegar à cura do câncer. “A gente tem índices de sobrevida que chegam a 90%, ou seja, a cada dez crianças, seis delas estão curadas. No entanto, essa estatística poderia ser melhor se houvesse uma política voltada para o diagnóstico precoce e capacitação profissional para que se consiga detectar os sinais de alerta.

Hoje, o que acontece na realidade brasileira, principalmente nas regiões norte e nordeste, é que o diagnóstico é muito tardio, pois o acesso à saúde se torna difícil. Os grandes hospitais que tratam cânceres infantojuvenil estão localizados nas capitais, dificultando o deslocamento de muitas famílias. A criança acaba chegando com uma doença localmente avançada, o que diminui muito as taxas de cura”, observa.

A doença e o diagnóstico de uma nova vida

Comumente associada ao tratamento de câncer para adultos, a Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves também é um referencial de suporte para crianças que precisam encarar o difícil diagnóstico da doença. Daniel de Souza, 12 anos, comprova que, com perseverança, apoio institucional e familiar e um pouco de sorte, é possível engrossar as estatísticas de reversão da temida doença.

O garoto e a família Souza estão comemorando, exatamente neste mês, um ano de um bem-sucedido transplante de medula óssea, realizado no Hospital de Clínicas, em Porto Alegre. Embora deva evitar algumas comidas que tanto gosta e redobrar os cuidados para driblar a poeira, o que o faz usar uma máscara na rua, todos os exames de Daniel neste período pós-transplante não apresentaram alteração. “É uma nova vida que ele ganhou”, vibra o pai, o auxiliar mecânico Paulo Rogério de Souza, 36 anos.
Uma nova vida surgiu somente pelo bom coração de uma doadora. Souza não sabe quem foi, apenas que é uma mulher de 29 anos. Antes dela, a família fez um teste com o irmão de Daniel, mas a compatibilidade de Paulo Ricardo, de sete anos, era de 50%.

Nesta nova vida, o adolescente precisou interromper idas à Escola. As tarefas escolares são levadas para casa pelos pais. Também precisou parar de brincar com uma das coisas que mais gosta e, por isso, já decidiu qual será sua primeira atividade física quando puder: “quero jogar bola”, diz o menino.

A doença de Daniel foi descoberta por causa de uma dor de barriga. Como o soro não fez efeito, uma amostra de sangue foi colhida, e com ela, a descoberta. Entre a revelação, em dezembro de 2017, e o transplante, passaram-se um ano e dois meses. O adolescente precisou passar por diversas sessões de quimioterapia e ingerir uma grande quantidade de remédios, além de fazer radioterapia.

Logo após o transplante, o pai precisava se deslocar uma vez por semana a Porto Alegre para buscar o medicamento oferecido pelo Clínicas. Nesta semana, buscou os primeiros em Bento, após obter o direito na Justiça e receber gratuitamente.

Foi por intermédio da Liga que os Souza receberam um suporte que ajudou a minimizar o impacto da internação hospitalar. A entidade ajudou com remédios, combustível, hotel, exames e alimentação. “Nós trabalhamos para isso, e nos sentimos muito gratos de poder retribuir às famílias que precisam lidar com a doença, é um pequeno afago para dar o mínimo conforto”, diz a presidente da Liga, Maria Lucia Severa. Ela lembra que no mesmo dia que Daniel foi autorizado a receber visita em casa, uma equipe da Liga chegou no exato momento em que ele teve uma convulsão. “Por sorte estávamos perto e pudemos levá-lo prontamente ao hospital. Hoje o Daniel está aqui, nos dando um grande exemplo”, comenta a presidente.

Foto: Divulgação/Exata Comunicação