É isso mesmo! Cancele a Netflix! Há muito mais malefícios do que benefícios em usar as plataformas de streaming – a menos que você não tenha crianças e adolescentes em sua casa. Você está ensinando-as que não precisamos esperar por nada, muito diferente da minha época que se corria pra casa depois da aula pra assistir Chaves, Chapolin ou Malhação. Sentir a emoção de ir ao banheiro somente no intervalo do desenho, não sair de casa na sexta à noite em que passaria o último capítulo da novela que fora acompanhada ao longo de meses. Isso faz perder o encanto da espera.

Eu tenho tudo a hora que quiser. Posso virar o domingo e zerar uma série. Não preciso conviver com o tédio. A novela é ruim? Eu troco! Acelero o capítulo, volto pra assistir depois se dormi na metade do episódio. Vou maratonando séries deitada no meu quarto como se fosse um ratinho girando infinitamente em uma retroalimentação, querendo sempre mais. Ninguém suporta mais nada, especialmente ficar parado em silêncio. A TV, desde que fora lançada, sempre foi vista como uma companhia para quem fica em casa.

Só que assim: seres humanos não são ratos e, desde os primórdios, precisamos de movimento. É como um barco que viveu a vida atracado, mas barcos foram feitos pra navegar. O cérebro humano nunca recebeu tanta informação e nunca antes na história foi alimentado por tanta dopamina – o hormônio do prazer. Só que nem só de prazer vive o homem e é aí que mora o problema.

São muito mais que 100 milhões de pessoas, no mundo, que usam só essa plataforma, fora as demais em uma média de 100 minutos ao dia. Mas aí não dá tempo de fazer exercício. A gente idolatra os jovens que não saem de casa, por achá-los protegidos, mas não vê os perigos de ficar todo dia no quarto. Como disse, nunca houve antes uma geração com tanto acesso à informação e tão burra ao mesmo tempo. Desculpem, mas a verdade precisa ser dita.

Só quem já teve ficha em locadora sabe do que estou falando. A emoção em ir retirar filme – o que eu queria estava sempre locado – rebobinar a fita, assistir no sábado à noite e depois ir devolver pra não pagar multa, ficar encantado por uma hora na leitura do verso das caixinhas lendo a sinopse, pedindo indicação pra atendente… Bom, não dá pra viver de passado. As locadoras que fizeram muito dinheiro entre os anos 80 e 2000 e pouco, há muito tempo estão fechadas; os aparelhos cassete e de DVD nem devem existir mais, mas, assim: se você tem Netflix, cancele ou então restrinja seu uso de dia e tempo. Volte às antigas.

Nem preciso listar aqui o que ela tem de ruim, você já sabe. A febre dos programas de entretenimentos leva, geralmente, a mais um ‘inofensivo’ vício. O isolamento, que já fora um problema na pandemia, se intensifica nesses casos e os danos psicológicos podem ser irreversíveis.

Na próxima vez em que for escolher um filme, lembre disso. Desligue. Saia pra caminhar, brincar com o cachorro, comer amoras no pé, conversar com alguém, mas saia. Caminhe de pé no chão na grama, pegue sol, mas não fique colado na Netflix. A sua vida agradece!