Moradores revelam a calmaria que é viver próximo à natureza, mas que o local necessita de algumas melhorias
O professor Tiago Locatelli, 37 anos, mora no Caminhos da Eulália com a esposa e os dois filhos, há três anos. “Antes disso, morei na Eulália Baixa com meus pais e optei por estar no bairro ao lado para ficar próximo deles”, afirma.
Locatelli conta que o bairro ainda é um local tranquilo para se viver e próximo da natureza, na parte em que reside não há muitas casas e vizinhos. “Neste bairro, nossa locomoção em alguns horários é facilitada, e conseguimos chegar de uma maneira rápida em locais estratégicos da cidade. Temos alguns horários de transporte público (não é o ideal ainda), um pequeno mercado e algumas lancherias. Isso também traz conforto e praticidade ao morador”, relata.
Porém, segundo o professor, os moradores têm somente um único acesso para chegarem ao bairro. “Se for num horário de pico e movimento, iremos gastar mais tempo para chegarmos ou sairmos de casa”, lamenta.
Outros aspectos são motivos de desagrado, como a qualidade do asfalto no acesso principal, que de acordo com Locatelli, é precária. “No trajeto encontramos vários buracos e partes que foram tapadas. Há também, três empresas grandes que tem um movimento intenso de pessoas e caminhões. Isso dificulta a locomoção de carros e pessoas alheias, pois o espaço da rua é ocupado pela empresa também”, observa.
Além disso, o bairro enfrenta problemas de saneamento básico, na qual o esgoto, sem o devido tratamento, acaba escoando para áreas mais baixas do bairro e contaminando o arroio que passa pela localidade. “O próprio escoamento fluvial segue esse mesmo fluxo e sobrecarrega uma única área, que se conta desamparada pelas autoridades locais”, ressalta.
Conforme o morador, também existem alguns terrenos que não têm calçada para a passagem dos pedestres, e com isso, precisam caminhar no meio da rua. “E nos terrenos que existem, os padrões feitos são muito diferentes. Além disso, numa parte bem específica do bairro, as calçadas construídas são utilizadas para estacionamento. Isso dificulta e coloca em risco a segurança de carros e de pessoas”, sustenta.
Outro grave problema relatado tem relação com a coleta de lixo em alguns pontos da localidade. “Na área aonde eu resido a coleta ocorre uma vez por semana (lixo orgânico e reciclável). Com isso, temos que estocar o lixo por vários dias na lixeira. Como consequência temos mau cheiro e a presença de animais devido ao forte odor”, critica.
No local onde mora, também não há serviço dos correios disponível, tendo que se deslocar até a agência central caso precise deste serviço. Locatelli comenta ainda, que o crescimento desenfreado do bairro compromete a qualidade de vida das pessoas que residem e circulam pela localidade. “Há vários empreendimentos novos sendo construídos no entorno, porém, enfrentamos esses sérios problemas de estrutura básica para residir”, opina.
O professor diz que o local está se descaracterizando com o passar do tempo e pede ajuda. “Vem sofrendo mudanças de um bairro que era essencialmente agrícola, para um espaço turístico e de moradia, porém, sem a devida estrutura e qualidade para essa mudança. Pedimos apoio, cautela e compreensão do poder público na aprovação e liberação de novos empreendimentos para moradia”.
Obras a concluir e falta de infraestrutura
Segundo Raimundo Piccini, morador do bairro há dois anos, a prefeitura precisa concluir algumas obras inacabadas, como a quadra de esportes e a transferência da academia ao ar livre e do parquinho das crianças, que hoje se encontra em um local mais afastado.
Há mais de 12 anos, Piccini mudou-se com sua família do interior de Alpestre, cidade ao norte do estado e localizada na divisa com Santa Catarina, para o centro de Bento Gonçalves. “Quando viemos, morávamos de aluguel, depois de algum tempo, resolvemos procurar um terreno para comprar e construir nossa casa. Após muita procura, gostamos de um do Caminhos da Eulália e estamos aqui”, conta.
Segundo ele, durante os anos que está no bairro, percebe que é um bom lugar de se viver. “É calmo, tranquilo, os vizinhos são daqueles que conversam uns com os outros, passam e te cumprimentam”, aponta.
Além disso, Piccini acha importante a construção de uma escolinha infantil no bairro e um pet shop para comprar ração e ter auxílio aos animais de estimação. “Quem precisa levar seu cachorro tem que ir aos outros bairros ou no centro”, finaliza.
Saúde pública e transporte
A aposentada Francisca Brite Zanela, moradora há 11 anos dos Caminhos da Eulália, conta que o crescimento do bairro foi muito rápido e o local atualmente é bem seguro, mas que a falta de comércios, farmácias e outras unidades dificulta um pouco o seu dia a dia.
A construção de uma farmácia seria um grande avanço para a rotina dos moradores, que precisam se deslocar ao bairro São Roque para comprar medicamentos. “Somos bem atendidos na farmácia de lá, mas é difícil ir até o endereço. Tudo seria mais fácil se tivéssemos uma aqui”, sustenta.
Francisca ressalta a importância de um médico no bairro ou a volta do ônibus da saúde que passava antes da pandemia. “Tenho que pegar um táxi para ir ao posto do São Roque, que dá em torno de R$25 à R$30, e passa dos R$45 até o centro em dias de chuva. Não tenho carro, se não é um vizinho ou meu neto para levar, gasto esses valores só para ir, na volta não tem ônibus, tendo que gastar novamente com transporte não público”, lamenta.
A visita semanal da saúde pública que ocorria antes de 2020, é algo que faz muita falta para a aposentada. “Para os moradores do bairro era uma maravilha, pois, pelo menos toda segunda-feira vinha o ônibus com um médico e já encaminhávamos os papéis para enfermeira, que já nos retornava na próxima semana. Não precisávamos nos deslocar para outro bairro”, declara.
A ampliação dos horários de ônibus é um desejo que ela e uma vizinha compartilham. “No nosso bairro tem poucos horários de manhã para irmos ao posto de saúde. Na volta, temos que seguir a pé para não ter que esperar até às 12h30min pelo transporte público que retorna ao Caminhos de Eulália, que antes passa em muitos outros lugares, demorando bastante para chegar em casa”, relata.
A definição de novas rotas também é um pedido de Francisca, que tem problema no coração e sempre fica com falta de ar após subir o morro na volta para sua residência. “Se ele para na outra subida, por que não pode vir nesta parte do bairro? Assim como eu, outros moradores com alguma doença ou idade avançada, tem dificuldade em se deslocar da parada para sua casa. Esses dias uma nona caiu na casa dela e se machucou toda, se ela não descesse até lá em baixo para pegar o ônibus, não teria como ir se consultar”, pondera.
Francisca comenta que a comunidade tem um salão da associação, onde são realizados encontros mensais. “Uma vez por mês tem missa, onde nos reunimos num momento de fé e reflexão. Além de ter as aulas da catequese para as crianças.”, encerra.
Terezinha Mocini, moradora há mais de 20 anos, revela os motivos de permanecer há tanto tempo no local. “É uma região boa e quando cheguei havia poucos moradores. Trabalho há 11 como empregada doméstica em uma casa na Eulália Alta”, destaca.
Uma dificuldade é o transporte, que como já relatado por outros moradores, tem horários limitados. “Não tenho carro e quando tenho que ir para o centro, só tem horários ruins e na volta tenho que pagar um Uber ou táxi. Fazia academia no São Roque, para ir tinha ônibus e para voltar às 18h, fazia o trajeto a pé”, conta.
Durante a pandemia, Terezinha pegou Covid-19 e suas filhas a proibiram de ir se exercitar por medo de a mãe pegar novamente a doença. Segundo ela, ter uma academia no bairro seria importante para ela e outros moradores. “Depois de melhorar do coronavírus, não retornei, tenho problema de coluna e deveria continuar. Mas o transporte dificulta, o ideal era ter uma no bairro”, finaliza.
Comunicado da Prefeitura
A Prefeitura de Bento Gonçalves busca estar próxima das comunidades e escutar os moradores. Segundo a o órgão público, foi realizada a pavimentação basáltica da rua Domingos de Paris, no Caminhos da Eulália e estão realizando um projeto para recuperação do asfalto no primeiro traçado, iniciando pela BR-470. “Os outros pontos de melhoria solicitados pelos moradores serão encaminhados aos órgãos responsáveis para verificar e buscar soluções”, afirma a assessoria de comunicação social da prefeitura.
Fotos: Cláudia Debona