Bento Gonçalves vive o calor mais intenso dos últimos 100 anos. Não bastasse isso, os bento-gonçalvenses foram surpreendidos no início da tarde desta terça-feira, 4, com cerca de duas horas de falta de energia elétrica. Com isso, ventiladores e ar condicionado não puderam ser utilizados. Quando tudo de ruim parecia ter acontecido, vem a notícia da Corsan que 3/4 do município vai ficar sem água por 12 horas. É quase o fim da picada. Muito calor, falta de luz e falta de água é um teste de paciência para qualquer um. E porque tudo isso? Por causa do rompimento de um cabo de energia em algum lugar do Brasil. Parece brincadeira, mas é verdade.
Quantos apagões mais serão necessários para que o governo admita a vulnerabilidade do sistema elétrico nacional? Se um problema na linha de transmissão que liga Colinas (TO) a Serra da Mesa (GO), como ocorreu por cerca de três horas na tarde desta terça-feira em um apagão que abrangeu as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, não dá para acreditar na robustez do complexo, como insiste em enaltecê-lo o Ministério de Minas e Energia. Fosse engraçado, seria o caso de gargalhar, como sugeriu a presidente Dilma Rousseff, no fim do ano passado, aos que ouvissem a desculpa de que raios haviam provocado o blecaute nas regiões Sul e Sudeste do país.
A verdade, pois, é uma só: o fornecimento brasileiro de energia elétrica é precário, incapaz de assegurar a confiança da população, que diria do setor produtivo. E, sem credibilidade, apaga também o potencial de investimento de empresários interessados em expandir negócios, comprometendo a geração de emprego e renda e, por fim, prejudicando o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto]. No fundo, nem raios nem queimadas são explicações plausíveis para apagões, pelo menos na proporção gigantesca dos que o país tem visto. Melhor as autoridades saírem da escuridão, assumirem a incapacidade de resolver o problema e tomarem as devidas providências.
A grosso modo, é como se a queda de um disjuntor provocada pelo aquecimento de um chuveiro em determinada residência deixasse toda a cidade sem luz. Não dá para conceber! A interligação do sistema brasileiro tem vantagens a serem preservadas. Permite, por exemplo, que o Nordeste, cujas hidrelétricas estão com reservatórios em níveis abaixo da média, receba energia de regiões com maior capacidade geradora. Mas esse ganho perde sentido se o simples corte de uma linha tem potencial para mergulhar nas trevas quase 20% do território de um país de dimensões continentais como o Brasil.
Só nos resta rezar e torcer para que o governo federal se dê conta de que é necessário um investimento pesado para que um apagão mais grave não venha a acontecer em nosso país. Tivemos uma pequena amostra disso ontem. E, como dizem a maioria das pessoas: imagina na Copa, como vai ser.