Desde 2018, ex-usuários de drogas ilícitas e familiares contam com apoio espiritual. A iniciativa é uma das etapas do projeto Desafio Jovem, em Três Coroas

Uma pesquisa, de 2019, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto Nacional de Câncer (Inca) e a Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, projetou que 9,9% da população brasileira tenha consumido drogas ilícitas em algum momento da vida.

Quem mais sofre, contudo, são aqueles que convivem com o usuário: a família. Foi exatamente pensando nela que Bento Gonçalves conta, há três anos, com o Café Convívio, um grupo de apoio gratuito para dependentes químicos e familiares. A iniciativa é um núcleo ligado ao Desafio Jovem do município de Três Coroas.

Uma vez que o acolhido cumpre parcial ou integralmente o processo de acolhimento proposto pelo Desafio Jovem, independentemente do tipo de saída obtida, deverá passar pelo acompanhamento pós-saída.

Semanalmente, nas segundas-feiras, um grupo de nove pessoas se reúne para receber suporte, principalmente espiritual. “Abordamos assuntos relacionados à dependência química com o fundamento da Palavra de Deus, esclarecendo e orientando os componentes dessa família. Buscamos desenvolver um vínculo saudável para dar suporte nos conflitos dentro do contexto do vício e tratamento”, destaca o coordenador João Almeida.

A prática ocorre em um período mínimo de 12 meses. Almeida esclarece que, mesmo que o candidato à recuperação não esteja motivado a frequentar o Desafio Jovem, tanto ele quanto seus familiares podem participar do Café Convívio por tempo indeterminado.

Em Três Coroas, o projeto conta com uma equipe multiprofissional formada por médicos, psicólogos, assistentes socias e psiquiatras.

Encontro ocorre nas segundas-feiras, na igreja Assembleia de Deus, Foto: Franciele Zanon

Um ano e oito meses limpo

Serena de Souza, 55 anos, é mãe do ex-dependente Rodrigo, 27, e sabe bem como fica o coração materno ao ver o filho inserido nessa situação. “É muito triste. Há muito para fazer, mas que está fora do alcance de nossas mãos. Por mais que a gente tente buscar ajuda, não conseguimos nada sozinhos”, relata.

Segundo ela, Rodrigo foi usuário por muitos anos. Atualmente, está “limpo” há um ano e oito meses. Na cidade, passou por desintoxicação em um hospital e pela Comunidade Terapêutica Rural – espaço também dedicado a dependentes –, porém necessitava de uma ajuda a mais. “Deus e o Desafio Jovem nos deram muito socorro. Me encontrei com o João, onde contei nossa situação e a conversa foi bem esclarecedora”, conta Serena.

Hoje, mãe e filho frequentam as reuniões do Café Convívio. “Aprendemos várias maneiras de como abordar e ajudar. Ressalto que a busca em Deus é muito importante, porque se não tivesse Ele, seria muito difícil. O projeto trabalhou as partes espiritual e emocional, o que ninguém tinha feito. Meu sentimento é de gratidão”, valoriza.

O irmão gêmeo, Rafael, lamenta, no entanto, a forma como o governo oferta o tratamento e critica a falta de empatia da sociedade ante usuários de entorpecentes. “Via medicação é muito rígido, pois é uma outra droga que tenta suprir a vontade da droga real. As pessoas não sabem lidar com os dependentes químicos em um primeiro atendimento. A sociedade despreza os viciados. O trabalho voluntário, porém, foi essencial e fez a diferença. São pessoas dedicadas somente a esse público. Esse diferencial foi uma grande vitória, essencialmente porque tem um trabalho espiritual”, sublinha.

A capacitação e práticas inclusivas buscam a inserção e a reinserção social, bem como a capacitação profissional para realocação no mercado de trabalho. O modelo utilizado visa o desenvolvimento integral do ser humano, para tanto, são utilizados princípios éticos, bíblicos, clínicos e disciplinares que orientam o acolhimento.

Fotos: Felício Silva, divulgação