Há pouco mais de 60 dias, o prefeito comemorava os bons números da saúde em Bento Gonçalves e o bom atendimento que vinha sendo realizado no PA 24 horas. Parece que a festa durou pouco e a situação continua, no mínimo, complicada. A falta de estrutura nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) faz com que o poder público acabe indo na contramão daquilo que realmente prega.

Como não superlotar o PA 24 horas, quando você vai na UBS do seu bairro e se depara com um cartaz colado na porta informando que não tem médico? A população passa a não acreditar no serviço oferecido e vai procurar atendimento onde realmente ele encontra, no caso o nosso PA. Mesmo que para isso tenha que esperar muitas horas.

As boas políticas públicas na área da saúde passam, obrigatorioamente, pelo suporte ao atendimento básico. E, ao que parece, o Município perdeu a mão nesse sentido. Ouro Verde, Santa Helena, Maria Goretti e Aparecida vão ficar pelo menos duas semanas sem um clínico geral. No Vila Nova o atendimento domiciliar não vem sendo realizado por falta de um profissional. Outros dois estão atendendo a população no posto de saúde para substituir o médico cubano que foi mandado embora.

O que fazer para mudar esta situação? É preciso, mais do que nunca, equipar e fortalecer as UBSs. Se faz necessário, de forma urgente, trabalhar com a resolutividade das questões. É inadmissível que as principais dificuldades enfrentadas pelos usuários, que sofrem com a demora para conseguir consultas especializadas e exames, continuem acontecendo, como se a evolução neste setor ficasse apenas no plano da imaginação. Pensado de forma a organizar e proporcionar um aproveitamento correto dos recursos disponíveis, o Sistema Único de Saúde (SUS) preconiza, entre seus princípios básicos, o da hierarquização, que consiste na segmentação do atendimento conforme o grau de complexidade. Por ela, a rede básica cuida dos casos mais simples, e encaminha os mais complexos para hospitais ou centros especializados.

O princípio é correto – até porque a União, os Estados e os municípios não têm meios para manter especialistas e centros de diagnóstico em cada bairro. Porém, é fundamental estruturar corretamente a atenção básica, para que ela seja mais do que uma “porta de entrada”. Quanto mais básico for o atendimento e quanto menor for a resolutividade nesse primeiro estágio, maior será o número dos que dele sairão apenas com uma guia de encaminhamento em mãos, e mais dramáticos serão os gargalos nos hospitais de especialidades e nas emergências, sem falar no PA 24 horas.

Mudar a estrutura das Unidades Básicas de Saúde passa por um esforço descomunal da administração municipal. A carência na área da saúde no município de Bento Gonçalves não é de hoje e, ao que tudo indica, não deve mudar no curto prazo. Afinal, se o poder público não consegue dar conta dos problemas existentes nas UBSs existentes, como irá fazê-lo ao construir novas unidades ou terminar a tão falada UPA III? Nós, que somos o povo, temos que continuar acreditando que a coisa vai mudar. Mas até quando…