Em função da ameaça de aprovação da reforma da Previdência Social, fornecedores de crédito estimam um aumento de 40% na busca pela previdência privada entre as pessoas que recebem mensalmente até R$ 2 mil. Porém, da perspectiva jurídica, há impasses sobre o comprometimento dos bancos com a segurança dos investidores, o que tiraria o rótulo de “previdência” dos investimentos comercializados pelas instituições financeiras.

Segundo o gerente geral da agência do Centro da Cooperativa de Crédito Sicredi, Lucas Sartoretto, a diferença da previdência privada para uma aplicação no mercado financeiro ou outra modalidade de negócio é que a primeira oferece um olhar em longo prazo. “Não é uma aplicação normal”, observa.

Ele aconselha os contribuintes a buscarem seus bancos e estarem atentos às taxas de administração, de entrada e de entrega estipuladas pelas instituições financeiras no momento de contratar o investimento. “Isso pode variar muito e vai fazer diferença no valor final”, alerta. Cada banco possui uma taxa de administração diferente, que é o percentual de valor arrecadado sobre o valor depositado. Além disso, também há diferença no percentual, que deve incidir sobre o Imposto de Renda (IR).

Retorno maior do que a poupança

Enquanto a poupança rendeu cerca de 8% em 2016, o investimento na previdência privada teve um lucro médio de 13%, uma vez que a rentabilidade está ancorada na Taxa Selic. Ou seja, o lucro médio com o investimento depende do comportamento do mercado financeiro, enquanto na Previdência Social há garantia do valor recebido de forma fixa. “Tem um retorno e ganho real em longo prazo”, pontua o gerente.

De acordo com estimativas apresentadas por Sartoretto, nos últimos meses ocorreu um aumento de 40% na oferta do investimento para o público de varejo da cooperativa de crédito. “A modalidade já era comum para as pessoas que tem mais educação financeira e agora está se expandindo para o varejo”, analisa. Ele explica que é possível aderir ao investimento a partir de R$ 50 por mês.

Outro fator que deve ser analisado para quem busca essa forma de rentabilidade é o risco. Nas aplicações com liquidez menor, a segurança é maior, mas quando a possibilidade de lucro aumenta, também há mais risco. “Geralmente os investidores são moderados. Há menos pessoas querem se arriscar, principalmente quando dependem daquela renda. Por isso recomendamos investimentos mais seguros”, afirma.

Bancos não querem riscos

Na opinião do advogado especialista em direito previdenciário, César Gabardo, as instituições financeiras buscam se eximir dos riscos, uma vez que os planos previdenciários oferecidos por elas não garantem a mesma segurança da Previdência Social. “Hoje é muito difícil encontrar uma previdência privada que ofereça pensão por morte. Para isso o banco nos quer vender um seguro de vida”, exemplifica.

Ele dá como exemplo alguém que tenha contribuído por dois anos com um fundo previdenciário privado, mas acaba falecendo. “A família vai receber apenas o dinheiro que foi depositado nesse período”, observa.

Segundo Gabardo, a contribuição na Previdência Social tem caráter protetivo. “O sistema foi criado quando as pessoas tinham muitos filhos. A ideia era que os filhos pagassem a aposentadoria dos pais e assim por diante, mas nos últimos tempos as famílias se tornaram menores”, explica. A contribuição com o sistema previdenciário é obrigatória para todos que trabalham em regime de CLT.

Para o advogado, a Previdência Social deve ser reformada, visto que a lógica não é sustentável da maneira como está hoje, mas considera um exagero a idade mínima de aposentadoria ser definida em 65 anos. “Nós precisamos de um meio termo. O governo não oferece medidas que protejam quem pode não conseguir trabalhar até essa idade”, afirma.

Além disso, Gabardo expõe que é necessário acabar com o fator previdenciário. “Não é correto que pessoas muito novas se aposentem”, afirma. Ainda de acordo com ele, o valor máximo da aposentadoria deveria ser mais alto “Sem reforma, os trabalhadores devem se aposentar com cada vez menos. Isso não é bom “, opina.

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