Não há nada mais triste do que a falta de inspiração (e tempo) para quem gosta de escrever. Aliás, há sim. Quando se forma mil pensamentos, mas todos são diferentes e não se mesclam entre si, nem formam uma narrativa interessante. Abrir o notebook, o celular ou um guardanapo para escrever estas palavras às 2 da manhã de um domingo é saber que entrego reciprocidade, sentimento e realidade. Assim como quando, na semana passada, pela primeira vez em 4 anos, não estive com vocês na quarta de manhã, por motivos pessoais.


Acredito que saber o que penso não deve ser uma vontade pulsante de cada um de vocês, correr para abrir o jornal ou acessar jornalsemanario.com.br e ler esta coluna. Apesar de receber carinho e feedbacks emocionantes toda semana, não imaginei que receberia mensagens pesarosas, sentindo falta dos meus devaneios. O que você está lendo aqui é e sempre será tudo o que penso. E você vai me ver mudando de opinião sim, lendo colunas antigas e se deparando com algum tipo de (re)volução. Só espero ouvir um amém!


Com isso, quero dizer que não quero ser um robô. Juro que não. A gente fica duro, insensível, metódico. Mas trabalho todos os dias para que eu seja melhor. Para que eu não me culpe quando tiver que cuidar da minha vida pessoal (sim, eu me culpo! acho que deveria estar fazendo qualquer coisa, menos isso). Trabalho para entregar sempre o melhor, mas não quero que isso me torne um sistema. Quero fazer a diferença, de alguma forma e, ao mesmo tempo, entender que vou falhar, porque sou um ser humano. Trabalho para que eu seja persistente com meus sonhos e objetivos e desistente quando for necessário.


Acho que às vezes falta tempero. Falta abrir a roda de amigos, falta puxar um assunto com um desconhecido (crianças, não façam isso). Falta vontade para buscar conhecimento, falta contato humano com humildade, falta conversas com sinceridade, paciência, resiliência. Falta vivermos com um propósito mais valioso do que todas as notas de duzentos possam pagar.
Se a vida tivesse um manual, ou se todas as crônicas motivacionais e engraçadas formassem um manual, não seria muito mais fácil? Ninguém sofreria mais por amor e todos seriam empreendedores de sucesso. Sem saber quem está certo ou errado e sem o manual da vida, concluo que a regra é clara: não há regras. Não existe uma fórmula que se encaixe em todas as situações financeiras, outra que se encaixe em todas as situações amorosas e assim por diante.


Não tem idade certa para começar a faculdade, para casar ou começar um negócio novo. Somos uma mistura de vários ingredientes: relações felizes, perdas, ganhos, experiência profissional, amigos, família, decepções. Com essa mistura, reagimos à novas situações.


Tenho que persistir mais em algumas coisas e desistir de outras. Ser mais gentil, mais sociável (morar sozinho deixa a gente meio Mogli). Saber que a mistura pronta para bolo não serve para todos, que às vezes é preciso colocar as porções sem medida certa. Mais doce? Mais fitness? Mais fofo? Mais crescido? Podemos decidir como vai ser nosso bolo. Vai ter cobertura? Recheio? E se queimar, a gente vai lá e tenta outra vez, com o fogo mais baixo.