A maior demanda do 190 em Bento Gonçalves é a violência doméstica. Foram 336 ocorrências somente em 2019 e 141 Medidas Protetivas Urgentes (MPU) emitidas pelo judiciário. Os registros vêm crescendo. Nos primeiros 15 dias de outubro, foram 35 atendimentos, número que costumava ser a média mensal no primeiro semestre do ano. Os dados foram apresentados na Semana de Combate à Violência contra a Mulher do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (BPAT).

Para tentar diminuir esses números e proteger as mulheres, a Brigada Militar (BM) criou, ainda em 2012, a Patrulha Maria da Penha. Quem explica como funciona o trabalho é a capitã Estefanie Fagundes Gomes Caetano. Os patrulheiros acompanham a vítima no pós-ocorrência. “A gente vai lá, conversa, entra na casa dessa vítima. Temos que fazê-la se sentir segura e compreender os seus direitos”, afirma.

Caso os policias percebam que a vítima esteja em situação de vulnerabilidade, é feita uma certidão e encaminhada para o Fórum, para que o juiz possa analisar e deferir a prisão preventiva do indivíduo. “Se ela está sendo ameaçada, aquela folha de papel da MPU não vai resolver. A certidão evita um feminicídio. Esse ano, poderiam ter sido quatro mulheres a mais mortas”, declara.

Segundo Estefanie, a maior dificuldade é a localização das vítimas, que, muitas vezes, se mudam ou dão o endereço errado com vergonha e medo de que a polícia apareça. “O que a gente quer é mudar posturas e comportamentos. Sabemos que o Rio Grande do Sul tem um perfil de homem muito machista”, analisa.

Empatia no atendimento

A tenente Diane De Toni, integrante da Patrulha, diz que o agente de segurança que acompanha os casos precisa ter empatia. “Eu vejo, às vezes, que os patrulheiros chegam e dizem: hoje conseguimos conversar com aquela mulher, sei que a vida dela vai mudar, que vai procurar ajuda. Esse é o maior pagamento que recebemos, saber que uma dessas pessoas vai sair desse ciclo de violência”, enfatiza.

Trabalho em conjunto

O efetivo da Guarda Civil Municipal (GCM) também vai receber treinamento durante a semana para o atendimento de ocorrências de violência doméstica. “Nós estamos tentando reduzir essa visão de que a mulher é uma propriedade. Queremos encorajar as mulheres a denunciar, a acreditar no sistema, para que o ciclo de prevenção possa ter mais visibilidade”, afirma o capitão Diego Caetano.

Outro órgão importante no apoio às vítimas é o Centro de Referência da Mulher que Vivencia Violência (Revivi). De acordo com a ex-coordenadora da entidade, esse ano o número de atendimentos aumentou 50% em relação a 2018. São em média 100 por mês.

Os atendimentos feitos pelo Revivi são acompanhados pelo Ministério Público (MP). A promotora Lisiane Rubin explica que o órgão também pode solicitar medidas protetivas ou pedir para que a Patrulha Maria da Penha visite a vítima, caso seja necessário. Ela acredita que a violência doméstica não cresceu, mas que as mulheres estão se sentindo mais instruídas e seguras para denunciar. “Em Bento, a rede de proteção funciona bem, o que a cidade ainda não faz são cursos profissionalizantes e encaminhamento para o mercado de trabalho, para que essas mulheres tenham condições de serem independente financeiramente e possam romper com o ciclo de agressões”, complementa.