Vilarejo de Integração Anjos Unidos terá o foco na saúde, diversão, cultura, esporte, lazer, mas principalmente, na inclusão social

Dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, apontam que pelo menos 45 milhões de brasileiros tem algum tipo de deficiência, o que representa quase 25% da população. Embora o número seja expressivo, integra-los à sociedade de forma plena, ainda parece estar longe da realidade. Em Bento Gonçalves, uma entidade sem fins lucrativos, a Associação Anjos Unidos, está construindo o primeiro parque do Brasil totalmente adaptado para pessoas com deficiência.

Afirmando acreditar que “tudo acontece na hora e no momento certo”, o presidente Associação, Alcindo Riviera, conta que a compra do terreno do futuro empreendimento, localizado no roteiro Caminhos de Pedra, assim como a ideia, já estavam predestinadas. “O local, nós (família) já tínhamos adquirido, mas a princípio, a intenção não era essa, surgiu depois. Aconteceram várias situações para entendermos que tínhamos que comprar aqui, para depois construir o parque. Não era para ser assim, mas já estava tudo escrito”, assegura.

Idealizadores do projeto, Alcindo e Ivanice ao lado do cão-guia Rama e do voluntário Thiago

Quem passa em frente ao local, se depara com uma imensa placa, com os dizeres: “Um sonho está sendo construído aqui”. É desta forma que o projeto é visto pelos envolvidos, que além de tempo, doam amor pela causa, que ainda é considerada recente. Sem pensar muito, Riviera sabe a data exata em que o sonho iniciou: 29 de abril de 2019.

A Anjos Unidos, formada unicamente por mãos voluntárias, conta com o apoio do Thiago Fabris, integrante que desde 2015 faz questão de estar presente na maioria das ações. “Na medida do possível, participo sim. Nos passeios vou em praticamente todos, nos pedágios solidários também. Agora, estou mais na obra do parque”, assegura.

Acompanhando de perto o andamento e colocando a mão na massa, Fabris explica que atualmente o empreendimento está na fase final da terraplanagem, técnica construtiva que visa deixar um terreno plano. “Já está em cerca de 90% concluída. Assim que acabar, começam as obras, de fato”, garante.

Para a realização desta etapa, Fabris conta que a Associação conseguiu se classificar na Lei de Incentivo ao Empreendedorismo do município. “Com isso, ganhamos 200 horas/máquina da prefeitura. Então, essa parte de terraplanagem, boa parte quem está fazendo são as máquinas da prefeitura”, afirma.

O que o parque vai proporcionar

Embora ainda não haja uma data prevista para conclusão e inauguração, quando pronto, o local deve surpreender pelo tamanho e quantidade de opções de entretenimento. “Vamos ter uma pista de 750 metros de piso tátil, que está sendo feita com uma inclinação de cinco graus, isso quer dizer que um cadeirante vai conseguir descer do estacionamento com a própria cadeira de rodas e atravessar todo o parque, sozinho”, garante o presidente entidade.

Além de veículos motorizados, também haverá tirolesa, rapel, pista de off road e casa na árvore. Todos adaptados para que nenhuma pessoa com deficiência fique de fora, garante Riviera. “O parque vem com esse objetivo de ser um diferencial, porque as pessoas com deficiência vão estar em um local que é para elas. Então, estranho vai ser para quem não tem deficiência, porque se quiserem participar, vão andar em algo adaptado, diferente”.

Local está na fase final de terraplanagem

As famílias também estarão bem assistidas e terão programação própria. “Vamos fazer um salão de eventos com música, teatro, festas, brinquedoteca, clube de mães, para que enquanto as crianças fazem fisioterapia, elas consigam ter o momento delas”, afirma.

Como posso ajudar?

Ainda sem conseguir mensurar a quantia exata que vai ser gasta na construção do espaço, Riviera estima que aproximadamente R$ 4 milhões. A Associação Anjos Unidos, criadora do projeto, realiza diversas ações para arrecadação de dinheiro.

Uma das formas de ajudar é participando da Campanha Concreto do Bem. Cada metro quadrado doado por pessoa física ou jurídica dá o direito de ter a logomarca ou nome anunciado nas redes sociais e registrada em algumas das construções executadas dentro do parque. “Doando dez, vinte, trinta ou quarenta metros, a empresa tem o logotipo ali, com os tamanhos diferenciados”, afirma Riviera.

Outra forma de ajudar é por meio do Pedágio Solidário, onde o motorista ou pedestre pode contribuir doando algum valor. O próximo está marcado para ocorrer no dia 11 de setembro, na Praça Vicco Barbieri, das 8h às 17h. A ação contará com a participação de diversos personagens infantis. Todo valor arrecadado será revertido para a construção do parque.

Riviera destaca que ajuda para colocar a “mão na massa” também é válida. “Aceitamos parceiros para nos ajudar na obra. Qualquer tipo de ajuda é bem-vinda. A Anjos é muito rica em voluntários, porque as pessoas acreditam e a gente trabalha sério”, salienta.

Uma força do bem chamada Anjos Unidos

A associação nasceu do olhar da Amanda Riviera, quando, na época, com 14 anos, ao participar da entrega de presentes de Natal para famílias em vulnerabilidade social, se sensibilizou com uma criança com deficiência. “Marcou muito. Quando chegamos em casa, ela comentou que nós tínhamos que fazer algo por essas pessoas”, conta o pai, Riviera.

Fundada pelo casal Alcindo e Ivanice e pela filha Amanda, a Anjos Unidos nasceu em 2015. Contudo, desde então, a família cresceu. Atualmente, contam com a ajuda de inúmeros voluntários que se uniram a causa, realizando durante todo o ano, ações beneficentes para quem mais precisa.

De acordo com Ivanice, hoje, a entidade tem uma média de 150 famílias cadastradas. Dessas, cerca de 100 são de famílias de pessoas com deficiência e as outras 50 são de quem se encontra em situação de vulnerabilidade, que procuram a entidade porque precisam de algum tipo de ajuda.

Durante estes seis anos de trabalho voluntário, Ivanice destaca que tirou grandes lições de vida. “Principalmente a reclamar menos da vida e agradecer mais. Aprendemos muito com as famílias, eles nos ensinam diariamente o verdadeiro significado da palavra amor, então estamos muito felizes em poder ajudar de alguma forma”, afirma.

A missão de guiar por amor

Rama veio ao mundo com uma missão muito especial: nasceu para tornar-se cão-guia de uma pessoa com deficiência visual. Prestes a completar 13 anos, na próxima terça-feira, 31, cumpriu essa tarefa, ao longo dos anos, com responsabilidade, amor e doçura.

Rama

Natural de Balneário Camboriú, Rama foi treinado e adestrado na Escola de Cães-Guias Helen Keller. Posteriormente, viveu por cerca de um ano e meio com o primeiro dono, que faleceu. Depois, voltou para a escola, até ser entregue para um novo usuário, que veio morar em Bento Gonçalves e com quem permaneceu até se aposentar.

Desde que parou de trabalhar, Rama tornou-se o mascote da Associação Anjos Unidos. “Ele foi aposentado por estar com problema no quadril. Como já nos conhecíamos, o adotamos. Agora ele está curtindo a aposentadoria”, afirma Ivanice.

Ainda assim, Rama faz visitas esporádicas para algumas famílias, levando o que mais tem: amor. “Com a idade avançada, nós respeitamos muito os limites dele, vamos só de vez em quando, visitar algumas pessoas acamadas. É uma alegria onde ele chega, muito amado por todos”, finaliza.