Um processo natural do ser humano, o envelhecimento, deve gerar grandes desafios para todos os Estados brasileiros, mas principalmente para o Rio Grande do Sul. É o que aponta um estudo realizado pela SeniorLab Mercado & Consumo 60+, consultoria voltada para um público mais maduro.

O estudo, chamado de “O Rio Grande que Envelhece” foi concluído em agosto e identificou que no dia 7 de outubro, o Estado passou por uma transição que só vai ser atingida por todo Brasil em 2031. Na referida data, o número de gaúchos com 60 anos ou mais passou a ser maior que o número de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos. A estimativa é que o Rio de Janeiro seja o próximo Estado a passar por essa transição, porém, só em 2022. O último deve ser o Pará.

De acordo com Martin Henkel, fundador da SeniorLab, para chegar nessas informações, a pesquisa foi baseada em números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “A gente faz isso há bastante tempo, acompanhamos o crescimento desse nicho populacional. Com o estudo, encontramos o mês e o dia em que iria acontecer essa ultrapassagem. Isso muda o perfil do Estado, é um alerta. Tecnicamente, para o IBGE, significa que o Rio Grande do Sul é envelhecido. É o primeiro Estado do país a passar por esse fenômeno”, explica.

A ultrapassagem do público chamado 60+ em relação as crianças e adolescentes é apontada por dois motivos que ocorrem simultaneamente, explica Henkel. “As pessoas estão vivendo mais e as famílias estão tendo cada vez menos filhos, ou seja, são menos crianças nascendo. Hoje, temos núcleos familiares compostos por quatro avós e só um neto”, afirma.

Capital do Vinho

O estudo da SeniorLab revela que o público feminino com 60 anos ou mais já ultrapassou o de meninas de 0 a 14 anos na cidade. Atualmente, são 10.626 mulheres com 60+ no município contra 10.431 meninas. Entretanto, o público masculino deve demorar mais tempo para fazer essa transição. O estudo também projeta que a cidade deve encerrar o ano com 19.192 pessoas 60+, uma parcela que representa 15,7% do total da população.

Com base em um estudo do Instituto Moriguchi, Henkel destaca características da cidade que contribuem para que a longevidade aconteça. “A Serra e principalmente onde existe imigração italiana, tem vários fatores que influenciam. A população mantém laços familiares fortes, muitos continuam trabalhando nos seus afazeres, entre eles atividades do campo, principalmente quem mora no interior, fora dos centros urbanos. Alimentação, espiritualidade, relações sociais, amizades, exercícios, atividades. São os principais pilares que o Instituto entendeu como motivadores da boa longevidade. Esses aspectos conversam muito com a população de Bento Gonçalves”, destaca.

Saúde para os idosos

O secretário de saúde do município, Diogo Siqueira, revela que em dez anos, o número de idosos vai dobrar na cidade e a preparação para atender esse público deve começar desde agora. “O desafio é aumentar mais ainda as Equipes de Saúde da Família (ESF). A gente vai precisar ter um mapeamento mais abrangente da população porque se vai aumentar o número de idosos, vamos precisar ter um controle maior deles. Não podemos esperar que a pessoa chegue até a unidade de saúde, vamos ter que buscar mais o paciente e a equipe de ESF tem esse perfil”, explica.

De acordo com Siqueira, o município conta com 25 Unidade Básica de Atendimento (UBS) que conseguem atender até 4 mil pessoas cada uma. Como a cidade recebe anualmente cerca de 1.500 novos habitantes, para dar conta da demanda, a cada dois anos Bento terá que abrir uma nova UBS ou ampliar o atendimento das já existentes.

Embora admita que a cidade tenha dificuldades, Siqueira acredita que a saúde do município está indo bem. “Sabendo que vamos ter aumento do número de idosos, estamos tentando nos programar desde agora. Já organizamos a atenção básica para não faltar funcionário. Na urgência e emergência não temos mais picos de atendimentos, claro que ocasionalmente ainda acontece, mas não é mais aqueles picos diários de lotação. Não temos mais falta de remédios e nem uma fila gigante para atender a primeira e segunda consulta de um especialista e com os exames também”, finaliza Siqueira.