O empresário ressalta as ações desenvolvidas pela entidade, principalmente nesse período de pandemia. Capoani levanta as duas bandeiras de sua gestão: ações para indústria e turismo, e a importância de a cidade ter uma formação de mão de obra básica e qualificada. O empresário também fala sobre a Fundaparque e as projeções positivas da cidade, e seu olhar sobre o Estado e o Brasil.

Natural de Bento Gonçalves, com a família oriunda da linha 80 de Monte Belo, o empresário do ramo Imobiliário Rogério Capoani começou cedo sua trajetória social na cidade. Aos 13 anos já trabalhava com o pai, Dorvalino Capoani (In Memoriam), na área da construção civil. Chegou a iniciar a faculdade de Engenharia Civil pela Unisinos, mas em 2001 trancou, pois viu que não era o que realmente queria.
No mesmo ano iniciou o curso de Gestão Imobiliária na Universidade de Caxias do Sul (UCS), onde se encantou pela disciplina de Parcelamento do Solo. Mais tarde, fez uma especialização nesse ramo e em Administração de Imóveis. Em 2011, juntamente com Carlos e Luciano Bertuol, Capoani fundou a BCB Empreendimentos Imobiliários. Atualmente a empresa é a principal em um grupo de quatro, e opera no ramo de urbanização e loteamento nas cidades de Bento Gonçalves, Farroupilha, Garibaldi e Carlos Barbosa. Casado há 11 anos com Cibele Tecchio, Capoani está no seu segundo ano de gestão do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG).

Jornal Semanário: Atividades comunitárias exercidas?

Rogério Capoani: Minha primeira atuação foi em 2015, quando assumi como Diretor das Categorias de Base do Esportivo. Em 2018 fui convidado pelo então presidente da ExpoBento, Leocir Glowacki, para ser o Diretor de Eventos da feira, e logo, em 2019 já assumi como Diretor Geral, a convite do presidente Elton Paulo Gialdi. Ainda em 2018 voltei a atuar no Esportivo, na presidência de Anderson Zanella, onde exerci o cargo de Diretor de Futebol do Clube. Ainda hoje faço parte do Conselho Deliberativo do Alviazul.

JS: Ideias básicas que o levou a assumir o CIC?

RC: O cargo para presidente do CIC já havia sido antecipado em 2019, pelo convite de Elton Paulo Gialdi, durante meu trabalho como Diretor Geral da ExpoBento. Fui amadurecendo a ideia e consultei apenas duas pessoas antes de aceitar: a minha esposa Cibele e meu sócio Luciano Bertuol, que me deram total apoio. Comecei a observar o que o CIC representa. Na organização da ExpoBento vi muitas pessoas no âmbito político prestigiar a feira e percebi que seria um desafio grande assumir o cargo, mas salutar. Já pensei o que queria e o que iria fazer no CIC e já analisando o papel de uma diretoria executiva.

JS: Como encontrou a entidade em sua estrutura física e humana?

RC: Cada presidente acaba objetivando um trabalho, segundo a sua identidade e personalidade. Quando assumi em 2020, fiz algumas mudanças. Sempre se encontram situações que não funcionam como tu gostaria, então é preciso colocar a tua identidade em ação. Tive que mexer, mudar pessoas internas, como a questão de estrutura, gestão e métodos. Tivemos que achar alternativas, porque o CIC depende fundamentalmente da ExpoBento e a feira não aconteceu presencialmente, como por exemplo, eventos virtuais. As próximas gestões ainda irão encontrar alguma dificuldade, pois ainda precisa um fôlego, mas não vão encontrar nenhuma situação muito preocupante e conseguirão tocar as coisas que já estão alicerçadas.

JS: Principais medidas adotadas no CIC?

RC: Comecei a levantar as bandeiras e objetivos dentro do CIC. Primeiramente manter a representatividade do centro, que é muito forte. Como a instituição atende a tudo e a todos, vi a necessidade de criar Comissões, dentro de um plano de ação para cada setor, como comércio, indústria e serviços, e também, levantar um norte, com dois segmentos como bandeira. O CIC já tem uma representação forte e eu precisava manter. Comecei a ver o que Bento mais precisava, e percebi que precisávamos alicerçar a indústria, com ações e incentivo, e também fortalecer ainda mais o turismo, que já vinha se consolidando. Escolhi, então, esses dois vieses como bandeira de gestão. Se pudesse resumir qual o plano do CIC na bandeira que levantamos, é iniciar um processo de formação de mão de obra básica e especializada, com parcerias. Também criamos relatórios de gestão anual, com as principais ações desenvolvidas.
JS: Ideias para a ExpoBento e Fenavinho?

RC: ExpoBento e Fenavinho não acontecem presencialmente desde o ano passado e, com isso, passam por transformações. Neste ano algumas atividades vão acontecer de forma on-line. A ExpoBento está passando por uma recriação, onde está sendo estabelecido um novo formato. Provavelmente vai ter uma boa atuação virtual. Por exemplo, a parte da moda. Ano passado foram realizados desfiles virtuais, e a expectativa é que isso seja ainda maior esse ano. Assim como o ‘E-Sports Bento’, campeonatos de games eletrônicos e palestras virtuais que estão em grande expansão. Os expositores que mantiverem seus contratos terão benefícios, sem reajustes nos preços, com um portifólio atrativo. São dois anos de lacunas que teremos que recuperar.

JS: As principais ações de gestão e comunitárias que o senhor abraçou como presidente da Entidade?

RC: Dentro de todo um plano de gestão criado, a conclusão do mesmo acabou ficando em segundo plano devido a pandemia, e ao trabalho que o CIC-BG fez à frente disso. Em março do ano passado, o então prefeito Guilherme Pasin e secretário da Saúde – hoje prefeito – Diogo Siqueira, convocaram as entidades para falar sobre a Covid-19, e que Bento tinha 30 dias para se preparar. A ideia era a construção de 40 novos leitos emergenciais em um mês para atender a população. O CIC foi a entidade apontada, inclusive pelo ex-presidente Ademar De Gasperi, para encabeçar o processo. Assumimos a responsabilidade, mas dividimos a obra em três pilares. O CIC ficou responsável pela captação e gestão de recursos; a Associação das Empresas de Construção Civil (ASCON) ficou com a análise construtiva; e o Poder Público responsável de equipar e pela mão de obra. Assim, um grupo de Whatsapp foi criado para a arrecadação financeira dos leitos. A obra foi orçada em R$ 250 mil e, um dia e meio depois da criação do grupo, com lideranças e empresas, já tínhamos arrecado R$280 mil e aí se criou o movimento ‘Unidos por Bento’. Pouco mais de um mês arrecadou-se R$ 760 mil e o valor final da obra deu R$ 350 mil. Foi doado ainda uma parcela ao Comitê Covid para a compra de testes. Ao final, a construção ficou pronta em 33 dias e o que era para ser provisório, tornou-se definitivo.
O CIC ainda auxiliou o município na construção de gráficos, planilhas e uma plataforma, com a mestre em Estatística Marejane Paese, para entender a pandemia e saber como agir. O trabalho teve uma representatividade tão grande – também com a colaboração da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (AMESNE), com o então presidente do ano passado Jose Carlos Breda – que foi possível reverter sete bandeiras de vermelha para laranja, dentro do sistema de bandeiras do Governo do Estado.

JS: Fundaparque. Suas necessidades e sobrevivência?

RC: Desde o ano passado a Fundaparque não recebe eventos e com isso, passa por um momento bem delicado. Ela está muito bem estruturada no sentido de planejamento estratégico, mas a pandemia está dificultando. Quando a pandemia passar, teremos capacidade de ter mais de 60 eventos por ano aqui e, já existe um planejamento pra isso. Se não fosse a COVID-19, a Fudaparque estaria hoje em um momento muito diferente, bem estruturada financeiramente. São dois anos que sangraram demais o Parque. Uma força tarefa foi criada para ajudar. Precisamos buscar subsídio junto ao Poder Público, para que ele possa investir financeiramente no parque, até ao menos, voltar a grade de eventos. Uma ExpoBento, Fimma e Molvesul põem, por ano, em torno de R$ 750 mil dentro do Parque. Precisamos ter uma restruturação nesse momento para poder ter força de prosperar. Existe um plano de melhorias também, na estrutura. O pavilhão E, por exemplo, está praticamente pronto e precisa de pouco investimento, para se transformar em um centro de eventos coorporativo, com até duas mil pessoas.

JS: A sua visão do Parque Industrial de Bento: passado, presente e futuro?

RC: Como umas das bandeiras dessa gestão do CIC, a indústria teve um olhar especial e, para isso, foi criado o Observatório da Economia (OECON), para entender o cenário que Bento estaria inserido e nortear as ações no setor industrial. A Indústria é o coração de tudo, ela precisa estar forte para alicerçar todo o resto. O CIC elaborou um plano de ação, criamos relatórios para que as indústrias possam ter um balizador. Com a mudança de vida das pessoas, e por ficarem mais em casa, no segundo semestre de 2020 o setor moveleiro cresceu, assim como a exportação de planejados, a construção civil e o setor metalmecânico. A preocupação no início, que era de ter demissões, logo passou a ser a falta de matéria prima e o encarecimento da mesma.

JS: Sua visão do comércio de Bento?

RC: No comércio, o CIC sempre trabalhou ligado às entidades, com parceria do Sindilojas e CDL. O comércio sofreu mais do que a indústria, principalmente devido ao fechamento de estabelecimentos em períodos de lockdown, que foi uma luta incessante pela reabertura gradativa e parcial.

JS: Sua visão sobre a evolução e qualificação do setor de serviços de Bento?

RC: O setor de serviço é a bola da vez. Tem tudo para se destacar, se abriu um leque no setor, inovação e tecnologia são aliadas nesse processo. Hoje, todos buscam otimizar custos, e o serviço te dá isso, por isso o CIC trabalha para uma qualificação de mão de obra e prestação de serviço, pois gera emprego para o município.

JS: Bento é empreendedora?

RC: Bento se destaca no poder de criar. O empreendedorismo está na veia do bento-gonçalvense. A Fundaparque é um dos maiores parques da América Latina, isso é empreendedorismo puro. Seja qual for o setor, tudo é feito com qualidade. Se há um sinônimo para Bento Gonçalves, pode colocar cidade empreendedora, sempre foi e vai continuar sendo.
JS: O Bento + 20. Qual sua importância?

RC: Visando um crescimento do município, o CIC também está envolvido e apoiando o projeto Bento + 20, um planejamento para a cidade em 20 anos. No início, eu não dei muito crédito, mas após conhecer exatamente do que se tratava, abraçamos a causa. Surpreendi-me quando comecei a ler o Masterplan e percebi que as ações apresentadas eram atingíveis e não algo futurista. É uma preparação para uma cidade inteligente, e todos devem estar integrados para fazer dar certo, a população e o Executivo. A cidade merece o Bento + 20.

JS: Emprego – desemprego – qualificação, sua interpretação?

RC: Uma das ações importantes da entidade também foi o monitoramento do emprego e desemprego no município. Bento teve nesses últimos anos um índice muito baixo de desemprego. Até 2019, apenas 2,4% e com a pandemia, aumentou, chegando quase 10%, o que se criou um sinal de alerta, mas não de desespero. Em julho o desemprego estancou, mas sem admissões. Final de agosto as empresas precisaram de reposição, e começamos a ver o gargalo da mão de obra especializada, onde muitas empresas não encontraram. O que está faltando em toda a indústria, é a mão de obra, seja ela básica ou especializada.

JS: O prefeito quer e vai concluir o novo hospital até o fim de seu mandato. Como o senhor vê isso?

RC: É uma boa ideia, porém o melhor seria trabalhar também para uma qualificação do Tacchini. Bento precisa de um hospital público sim, mas a instituição Tacchini tem que ser reforçada constantemente. Então, se eu pudesse dar uma sugestão, o melhor era o prefeito conversar com o hospital constantemente, afinal, ele tem função regional e está com um projeto de expansão gigante. Se fosse prefeito já saberia o que fazer. Tem que fortalecer o Tacchini sempre, mas concluir o público, e ver como ele seria operado, deve haver uma harmonia, e assim, Bento vai se destacar ainda mais, na área da saúde.

JS: Sua visão da pandemia. Reflexo e a luta para combater o vírus?

RC: Ela foi politizada, mas é muito grave. Além da vacinação, o que precisamos é de formas de tratamento. Podem ser mais ou menos eficazes, mas têm que existir. A entidade se envolveu no projeto ‘Unidos por Bento’, onde a principal função é o atendimento imediato de pessoas com o vírus, onde os médicos têm autonomia para diagnosticar e tratar o paciente. É um centro clinico privado, porém, atende empresas que participaram do movimento, com atendimento de manhã e a tarde. Além da vacinação, Bento também precisa dessa prática eficaz, sem politizar.

JS: Se fosse o Governador o que faria na sua primeira Gestão? E se fosse Presidente?

RC: Tive uma surpresa positiva perante o Governo Estadual, em um primeiro momento. Um governador jovem, dinâmico e que mexeu com uma série de situações importantes e necessárias que tornam ele um presidenciável. Depois, uma decepção sobre a maneira de agir com a pandemia. A gestão Eduardo Leite pecou, falhou na pandemia, no modelo do distanciamento controlado, que poderia ter sido revisto com mais antecedência, poderia ter agido melhor. Teve seus méritos no Governo, como a Lei do Incentivo à Cultura e o reestudo do plano de carreira, mas falhou na condução da pandemia.
Já sobre o Governo Bolsonaro, ele é necessário. O momento em que o Brasil vive precisa de um governo assim, com essa postura, para mudar um pouco a imagem de um país corrupto, por exemplo. Foi preciso. O auxílio emergencial foi necessário. Inclusive, eu tinha medo que pudéssemos chegar a um caos social. Bolsonaro tem méritos, mas é uma postura um pouco diferente. Ele tem uma conduta incomum, de uma forma de ruptura. Na balança, um Governo Estadual um pouco negativo e o Federal positivo, em relação à pandemia.

JS: Defina o Brasil e suas necessidades. Como vê o futuro no aspecto socioeconômico?

RC: É difícil encontrar um país com tantas oportunidades, pela sua estrutura e riquezas. Se considerarmos as três grandes potências, como China, Estados Unidos e Rússia, todas miram o Brasil, buscando alicerces para o seu desenvolvimento. O nosso agro é muito forte. O Brasil é tudo, o problema é o jeito que ele é tocado. O país precisa passar por uma reforma política adequada e demais reformas estruturantes. Nós, brasileiros, muitas vezes não entendemos a força que nosso país tem para as potências mundiais. A reforma política viria para enxugar, ter um pouco mais de liberdade legislativa, onde o judiciário precisa ser restaurado. Necessidade de restruturação na sua base e essência, para depois agir. O Brasil se alicerçou em algumas medidas emergenciais, para tentar evitar um caos ou um colapso social. O país precisa agora entender de que forma diminuir essas injeções de recursos, pois temos que estar cientes que a grande maioria não são recursos próprios, são empréstimos. Temos agora, com as reformas estruturantes, entender o que acontece para mexer com a parte econômica do país que vai representar no social. Não existe desenvolvimento econômico, e sim crescimento econômico e esse, vai gerar o desenvolvimento social.

JS: Existiria um Brasil sustentável no momento, sem o respaldo do empresariado?

RC: Não, pois o empresariado está diretamente ligado com o desenvolvimento do país, principalmente na indústria. E isso poderá permanecer, sendo até salutar mas, precisamos da reformulação política para que o privado também tenha condições de auxiliar e enxergue o retorno disso também.

JS: Sua visão sobre inclusão social, empobrecimento da classe social e assistência social?

RC: Um país do tamanho do nosso, com tanta diversidade, a inclusão social é fundamental, e é necessário programas nesse sentido. E aí, entra o CIC na atuação desde o ano passado, inclusão social sim mas, desde que seja muito bem planejada. Nós temos que assistir os necessitados, com planos inteligentes, contra partida adequada. Na educação, as bolsas para os necessitados devem sim existir mas, condicionado ao rendimento das crianças, ao monitoramento dos resultados. Tem que encontrar um mecanismo de controle para que esses métodos tenham efetividade.

JS: Qual o legado que vai deixar para a Entidade?

RC: Foram muitas adversidades, onde resoluções imediatas tiveram que ser tomadas, sobretudo com a pandemia. Alguns projetos tiveram que ficar em segundo plano: planejados, organizados, mas sem tempo de executá-los. Um legado importante foi o relatório de gestão e plano de ação. Quem chegar depois já vai estar com os projetos prontos, é só dar continuidade. O CIC precisava de um norte na questão executiva, e não somente representativa e, essa gestão 2020-2021, mesmo com a pandemia, teve cunho executor.
Vou sentir falta do trabalho do CIC e das 4 horas dormidas por noite. Vamos entregar a entidade da melhor maneira possível. Vou sentir saudade, pois aqui tive um crescimento pessoal enorme, relacionamentos que vão ficar para sempre. Não ganho salário, mas eu ganhei relações e muitos negócios.