Allana da Costa de Almeida, 28 anos, passou por um processo bastante delicado e decidiu compartilhar as angústias que a fizeram enxergar a fé em Deus de uma nova perspectiva

Devido à uma má formação de nascença no pé direito, não tratada, aos 23 anos, a bento-gonçalvense Allana da Costa de Almeida sentiu que não suportaria mais as dores causadas por um hemangioma cavernoso profundo e precisou optar pela amputação. Passados cinco anos, ela lança o primeiro livro “O Castigo da Espera”, onde conta os momentos de dores, angústias, mas, acima de tudo, de fé e aprendizados.

A enfermidade foi descoberta aos nove anos, quando Allana teve uma torção que causou um inchaço no pé, durante uma apresentação de dança gaúcha. “Tratamos durante dois anos como algo ortopédico. Às vezes doía, eu colocava gelo, erguia o pé e passava. Com 11 anos, por meio de exames feitos em Porto Alegre – na época não tinha aqui (Bento Gonçalves) – descobri que se tratava de um problema vascular”, lembra.

Na fase adulta, o hemangioma piorou. A escritora conta que o normal é a doença não crescer, não doer e estacionar ou até regredir. “No meu caso, foi o contrário. Cresceu junto comigo e a questão hormonal fez também com que agravasse. Fizemos vários exames e o atual médico estava receoso de fazer cirurgia, devido ao cenário da enfermidade”, afirma.

Muitos tratamentos serviram como alternativa para amenizar a dor, um deles foi a embolização com polidocanol, usado para secar varizes. O medicamento, porém, teve efeito inverso: o pé inchou e perdeu a mobilidade. “Passei a usar cadeira de rodas. Não conseguia mais pisar no chão e nada melhorava”, relata. “Em 2016, fiz minha primeira cirurgia. Retiraram boa parte do hemangioma, tendão, artéria, veia e músculo”, menciona.

O processo cirúrgico, no entanto, não saiu como esperado. Alguns resquícios da doença ainda ficaram próximos ao tornozelo. Conforme Allana, eram altos e finos, o que impossibilitava a retirada total em mais uma cirurgia. Tudo se tornou incerto.

Em janeiro de 2018, a escritora e o esposo tentaram engravidar. “Quando fiz a cirurgia, o médico foi bem duro e me indicou a adoção, porque pessoas na situação em que eu estava não aguentariam. Como mais nada poderia ser feito pelo meu pé, pensei: ‘vamos tentar, ver no que vai dar e se aguento’. Quatro meses após a cirurgia, engravidei. Na semana em que descobri, tive muita dor, foi a pior da minha vida. Então, infelizmente, tive um aborto espontâneo”, comenta.

A perda do bebê impulsionou Allana para que tomasse uma decisão muito importante. “Essa situação fez com que eu colocasse um ponto final, que eu não ia esperar ver o que ia dar em relação ao meu pé. Já tinha perdido muito tempo. Como estava ‘acostumada’ com a possibilidade de ficar sem o pé, desde 2016, então se precisasse, o amputaria. Cheguei no consultório e disse que queria amputar. O médico quase caiu para trás”, ri. “Mergulhei no mundo dos amputados, fui atrás do tipo de prótese, fisioterapeutas e de tudo o que seria necessário. Só precisava o ele dizer ‘vamos’, ressalta.

A força e fé em Deus trouxeram paz ao coração da jovem para encarar a mesa de cirurgia. “Foi bem tranquila. Em questão de 18 dias tirei os pontos”, reconhece.

O primeiro “filho”

“Nunca pensei em escrever. Nunca fui uma boa aluna. Nunca gostei de português. Odiava redação e ler”. É assim que responde à pergunta de como surgiu a ideia do livro.

Ela tinha anotações que auxiliaram na contação dos fatos. “Em todo o processo, como fiquei bastante tempo sozinha, só eu e Deus, estava com um caderno escrevendo frases para mim, como se fosse um memorial do que estava sentindo e de palavras que Deus falava comigo, por exemplo. Tive momentos em que escrevia canções e poemas, mas os deixava perdidos. Não era nada organizada”, confessa. “Creio tanto em Deus, que se Ele quiser um dia acordo com o pé, e pensava que precisaria provar que já estive sem. Por isso, fotografava e anotava tanto”, enaltece.

Allana, contudo, não se sentia capaz. Afinal, como a mesma disse, há tantos desafios a serem vencidos e, para ela, é importante pregar o que se vive. A ideia, porém, ficou matutando em sua mente. “Que bom seria se as pessoas não precisassem passar pelo que passei para encontrarem Deus do jeito que encontrei”, comenta. “Que egoísta seria se eu não fizesse isso”, reconhece.

Os cinco anos mais sofridos de sua vida foram relatados em cinco meses. “Nesse tempo, revivi tudo o que tinha passado, todos os sentimentos eram muito reais, cada palavra. Foi um trabalhar de Deus ainda mais forte quando precisei colocar no papel”, ressalta.

Em Bento Gonçalves, a obra está disponível à venda na Livraria Dom Quixote. Em breve deve ser lançada em formato e-book.

O título

Allana conta que se sentia em um castigo, devido à enfermidade, e o que mais tinha pavor era justamente esperar e ver as coisas acontecerem. Foi daí que veio o nome da obra. Segundo a escritora, esse é o primeiro de muitos, que já estão vindo.

O que o leitor pode esperar

A autora garante que o livro não é apenas um testemunho de vida. “É uma reflexão e desconstrução. Um confronto que faz encarar não só o arredor, mas a si, colocando à prova realmente quem somos, nossa fé, porém, mostrando o quanto Deus é bom e misericordioso, e nos moldando para viver o contentamento pleno. As circunstâncias mexem conosco, mas não mudam quem Ele é”, assegura.

Antes e depois de Allana

Questionada quem era e quem ela se tornou, a jovem exclama: “uau. A Allana antes não sabia o que era viver, por mais que tinham se passado 23 anos, ela não havia se convertido ainda, não sabia o que era fé e muito menos o porquê que ela existia. A Allana hoje ainda não sabe o que irá acontecer, mas já caminha em direção a uma verdadeira fé e encontro com Deus. Antes era tudo cinza, porém hoje ela começa a enxergar as cores, a ver um arco-íris, por mais que não veja o fim da estrada”.

Fotos: Catiane Grassi / Divulgação