Sócio-diretor da rede Grepar faleceu no domingo, 9 de setembro, após ser alvejado por dois tiros na tentativa de assalto ao supermercado no bairro Botafogo

Centenas de pessoas acompanharam as últimas homenagens ao empresário Gregório Bruschi, que morreu no domingo, 9 de setembro, após ser baleado em uma tentativa de assalto ocorrida na quinta-feira, 6 de setembro, em um supermercado no bairro Botafogo. Ele foi socorrido e permaneceu internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Tacchini, mas não resistiu aos ferimentos. Sob forte comoção, o empresário de 58 anos foi velado nas Capelas São José, seguindo a Caixas do Sul, onde ocorreu a cerimônia de cremação. Familiares e amigos ressaltaram as qualidades de Bruschi, destacando o espírito visionário e o lado que o tornava muito mais que um chefe, e sim um amigo.

Companheirismo marcou a relação entre Bruschi e a esposa Ana. Foto: Arquivo Pessoal

Durante o velório, familiares, amigos, colaboradores, empresários e representantes da classe política ressaltaram a importância de Bruschi para Bento Gonçalves. Emocionado, o primo, Paulo Geremia, destacou que o empresário, além de chefe, era um amigo das pessoas. Geremia disse ainda, que o primo deixará uma lacuna que dificilmente será preenchida. “Conheço o Gregório desde muito jovem, ainda no tempo de escola, quando morávamos em Guaporé. Ele sempre se preocupou com as pessoas. Acima de qualquer coisa, o Gregório buscava resolver os problemas, priorizando o ser humano”, afirma. Conforme Geremia, a história de vida do primo serve de exemplo para a sociedade. “O Gregório jamais precisou passar por cima do que acreditava para conseguir algo. Ele sempre batalhou. Veio ainda jovem para Bento. Começou no setor de malhas e depois abriu o mercado, pequeno e, aos poucos foi empreendendo, conquistando e trabalhando honestamente”, ressalta.

Questionado sobre a questão da segurança, Geremia disse que é necessário grande investimento na área, principalmente pelas altas cargas tributárias que a sociedade paga. “Para termos segurança, nós (população) pagamos muitos impostos e, mesmo assim, temos que investir na segurança particular. O povo não tem acesso para portar armas. Está desassistido. É lamentável o que ocorreu com o Gregório. Não há outra palavra para descrever essa perda”, observa.

Sociedade deve refletir

Durante a cerimônia de despedida, que foi presidida pelo bispo diocesano de Caxias do Sul, Alessandro Ruffinoni e co-celebrada pelos padres Ricardo Fontana e Gilmar Marchesine, os religiosos ressaltaram a pessoa de Bruschi e pediram a reflexão da sociedade, quanto a falta de segurança. “A criminalidade está ceifando vidas inocentes. Que essa partida do Gregório faça com que a população reflita sobre a real situação. Bento amanheceu estarrecida com a notícia”, afirmou Fontana. Para Ruffinoni, a partida de Bruschi foi inesperada e aponta para uma crise social. “Que esta morte não seja em vão. Precisamos vencer a violência com mais amor, esperança, fé e coragem. Que tenhamos no coração o desejo de fazer o bem”, aconselha.

Homem prestativo

Gregório priorizava a integração entre família e amigos . Foto: Arquivo Pessoal

Os familiares de Bruschi também ressaltaram o lado humano do empresário. Emocionados, eles afirmam que o empresário foi uma pessoa que pensava no bem da família e de todos, querendo sempre o melhor. “Buscava sempre passar suas lições de vida para que não cometêssemos erros. A evolução de seus filhos sempre fora sua maior alegria, ensinando princípios e valores, preparando-os para a vida. Uma pessoa companheira, parceira, apoiador de todas as escolhas que fazíamos, gostava de se reunir com sua família, procurando sempre ajudar o próximo, envolvido em ações sociais, ajudando a todos que precisavam. Divertido, adorava ir em festas com a esposa e com os amigos queridos”, pontuam a esposa Ana e os filhos Guilherme e Gustavo. “Vamos continuar com esse legado de solidariedade, humildade, de alegria, de proatividade, de amor com o próximo e continuar levando os valores cultivados por esse incrível ser de luz que estava sempre sorrindo”, afirma o filho Gustavo.

Amigos e liderança visionária

Outra pessoa que conviveu com Bruschi desde a sua chegada à Capital Nacional do Vinho foi o empresário José Fuligo. Ele descreve Gregório como uma pessoa fantástica, que preservava o bem e buscava estreitar as relações entre patrão e emprego. Segundo o amigo, a convivência diária se dava em visitas às suas casas, jantares, viagens, festas. “Minha relação de amizade com o Gregório vem desde a época que morávamos em Guaporé, isso há 40 anos. Ele era uma pessoa que sempre quis vencer na vida sem precisar passar por cima de ninguém. Humildemente, ele veio pra cá e com simplicidade, visão e começou a construir a sua carreira de sucesso. Era uma pessoa que estendia a mão para a comunidade”, relata.

Fuligo critica a falta de segurança e lembra que já foi vítima de assalto em três episódios. “Estamos longe de termos tranquilidade. Minha família, por exemplo, já foi vítima de vários assaltos. Inclusive, uma das minhas filhas está morando fora do país e não pretende voltar mais, tudo por causa do trauma que sofreu quando foi acordada com um revólver. O que aconteceu com Gregório é reflexo da falta de segurança no país”, lamenta. Para o amigo de longa data, a cidade perde, acima de tudo, um líder com ideias inovadoras e que a principal lembrança que ficará guardada é a capacidade de ajudar o próximo. “Substituir o Gregório é difícil. É preciso erguer a cabeça, olhar para o seu legado e seguir os exemplos que ele deixou. Nos víamos diariamente. Ele era um empregado e não um patrão”, destaca.

Para o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados, Antônio Cesa Longo, Bruschi foi acima de tudo um supermercadista por excelência, vitimado pela falência da segurança da sociedade brasileira, que chegou às comunidades do interior e também à Bento Gonçalves. “Com sua dedicação, trabalho e visão de negócio, a história de Gregório simboliza a trajetória que está transcrita no DNA do supermercadista gaúcho, sempre forjando com o seu suor e otimismo o desenvolvimento das empresas do setor e que, no caso da rede Grepar, possibilitou empregos a centenas de famílias e a realização de muitos sonhos”, afirma.

O presidente da Agas afirma ainda que Bruschi era um apaixonado pela atividade comercial, transformando sua trajetória de trabalho em um modelo a ser seguido pelos novos supermercadistas. “Incansável, ativo e acessível a todos, com espírito associativista, Gregório deixa como legado não apenas o sucesso da rede Grepar, como principalmente seu espírito de luta, trabalho e paixão pelo setor de supermercados e sua comunidade”, enfatiza.
Duas salas das Capelas, ocupadas para homenagens a Bruschi, estavam lotadas de coroas das mais diversas entidades, famílias e empresas, que de uma maneira ou outra, fizeram parte da trajetória do empresário.