Com inauguração prevista para março, o espaço de quase 4 hectares, localizado ao lado da Capela São Pedro, na Linha Palmeiro, abrigará, inicialmente, 40 obras em basalto e granito de artistas de mais de 20 países

Mais que uma exposição artística permanente, um local de resgate e homenagem a um dos ofícios populares entre os primeiros imigrantes italianos a povoar Bento Gonçalves e região. Assim pode ser definido o Parque Internacional de Esculturas Domadores de Pedra, espaço com cerca de 3,8 hectares que começa a tomar forma na Linha Palmeiro. Localizado ao lado da centenária Capela de São Pedro, o parque a céu aberto, com previsão de ser inaugurado em março deste ano, abrigará, inicialmente, 40 obras assinadas por artistas de 20 nacionalidades diferentes, entre eles cinco brasileiros, sendo três gaúchos.

As esculturas são fruto das quatro edições do Simpósio Internacional de Escultores de Bento Gonçalves que, conforme conta o idealizador do local, Tarcísio Michelon, foram o ponto de partida para a criação do parque. “Os escultores internacionais gostavam de saber onde iam parar suas esculturas, mas ao contrário do que observamos em países como Argentina e Peru, entre outros, achamos que é cedo para o povo ter a cultura de ver nas praças e ruas, pois a degradação é bem grande. Por isso resolvemos reunir tudo em um só lugar”, destaca.

Inspirado no Instituto Inhotim (MG) — um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do país e considerado o maior museu a céu aberto do mundo — o parque conta com investimento de R$ 1 milhão em sua primeira etapa viabilizado pela pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Para além do contato com as artes, seja ele pelo passeio guiado ou pelas oficinas que devem ser oferecidas futuramente no local, o idealizador destaca que o espaço é uma forma de ampliar o resgate de uma entre as mais de 80 profissões trazidas pelos primeiros imigrantes italianos para a Serra Gaúcha. “Contrariamente ao que as pessoas costumam imaginar, nosso antepassados não eram os mestres do vinho. Todos o produziam para consumo familiar, mas cada um deles tinha seu ofício: no couro, no ferro, na pedra. E entre os inúmeros campos da arte que trouxeram, escolhemos a escultura em pedra para dar vida a um parque temático, onde poderemos homenagear essa cultura”, finaliza.

O percurso e a poesia

No recorte, algumas das obras já presentes no parque;
a disposição, porém, será completamente modificada antes da inauguração

Embora algumas das esculturas já estejam espalhadas pelo terreno do parque, apenas duas ou três delas devem permanecer onde estão. Responsável pela curadoria da exposição, o uruguaio Mario Cladera explica que a disposição das obras não responderá a um padrão de cronologia ou de nacionalidade, mas se dará por um cunho poético.

Dividido em duas etapas, a primeira parte do percurso é uma elevação que distancia, passo a passo, o visitante da civilização, da estrada e das casas, para, ao fim, descer em direção a um vale onde, em todas direções, só é possível vislumbrar a natureza. “A curadoria vai acompanhar esse caminho, colocando primeiro as estruturas que representam o domínio do homem sobre a natureza; para em um segundo momento, expor representações da figura humana, construções geométricas e abstratas, que explorem a comunhão do homem com o planeta”, explana.

A ideia, pontua Cladera, é possibilitar ao visitante uma reflexão entre o divino e o material. Por se tratar de uma linha mais poética, a verdadeira interpretação, entretanto, partirá de cada um. “O que estabelecerei é arbitrário, mas ao mesmo tempo pode ser uma janela, uma proposta de leitura do caminho. Não quer dizer que as pessoas enxerguem tudo do mesmo jeito, pelo contrário, não devem”, conclui.

A casa e a história

Casa pertencente a família de Amelio Barp data da década de 1920

Além do percurso a céu aberto, o projeto conta ainda com o restauro de uma casa centenária de madeira e pedra, patrimônio histórico e arquitetônico da Linha Palmeiro, localizada na entrada do parque.

A casa, conforme conta Cladera, servirá de bilheteria, espaço para oficinas, loja de souvenir, auditório com apresentação audiovisual, além de contar com uma exposição permanente de ferramentas e pedras, para introduzir conhecimentos básicos sobre geologia e a arte de esculpir. “Assim, o visitante vai ter uma base de todo esse universo dos simpósios, da escultura em pedra, e de técnicas utilizadas, para que possa entrar no parque melhor preparado”, finaliza.