O estudante de biotecnologia Angelo Angonezi participa de grupo da UFRGS que busca desenvolver filtro capaz de desintegrar agente tóxico presente em nossas águas

Em 2017, de acordo com o Ibama, o Brasil usou 540 toneladas de agrotóxico, o que equivale a uma tonelada e meia por dia. Mais de um terço desse valor corresponde ao “glifosato”, agrotóxico mais vendido no país e no mundo. Com as chuvas, essa substância utilizada para matar ervas-daninhas acaba sendo carregada para rios e lagos, provocando mutações em peixes, super-reprodução de algumas espécies de caramujos e deformações em certos anfíbios. Quanto à saúde humana, os estudos ainda são discrepantes.

Apesar dos danos ambientais provocados pelo glifosato, o limite máximo de sua presença na água é 5 mil vezes maior no Brasil do que nos países da União Europeia. É pensando em criar um método para diminuir a presença e o impacto ambiental causado por ele, que estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) buscam desenvolver um “filtro-boia” que contém bactérias modificadas para quebrar a molécula desse agrotóxico. Fazem parte da equipe cerca de 20 alunos de diferentes cursos, como Biotecnologia, Biologia, Jornalismo, Publicidade e Engenharia Química.

Solução para um problema ambiental

O “Glyfloat”, nome dado ao projeto do filtro-boia, foi criado com a intenção de concorrer ao iGEM, competição de biologia sintética que ocorre em Boston, nos Estados Unidos. Anualmente, o evento seleciona e apoia o desenvolvimento dos melhores projetos de alunos de ensino-médio, graduação e pós-graduação que visam a solução de problemas ambientais locais, conforme conta um dos alunos desenvolvedores do Glyfloat, o estudante de biotecnologia barbosense, atualmente morando em Porto Alegre, Angelo Luiz Angonezi. “Um dos critérios é solucionar um problema ambiental regional e creditam pontos se ele for solucionado com biologia sintética. Sabíamos que no Brasil tem uma agricultura forte e com muito uso de agrotóxicos, e depois de pesquisar bastante, tivemos a ideia de criar um bactéria que degrade o glifosato nas águas dos rios brasileiros”, explica.

Em fase inicial, o projeto do Glyfoat é dividido em duas partes: a modificação das bactérias e o hardware. Deste modo, um grupo ficará responsável pela modificação da bactéria “E. coli” para que ela consuma o fósforo contido na molécula de glifosato. Enquanto que os demais pesquisadores desenvolverão a estrutura física que vai conter a bactéria. “A ideia é fazer essa boia para circular nos rios e dentro dela terá um compartimento que conterá essas bactérias modificadas. A água entrará por um compartimento da boia e ficará ali até a bactéria desintegrar o glifosato presente e então vai sair já filtrada”, explana Angonezi.

O estudante aponta ainda que é importante frisar que antes de voltar para o rio, a água filtrada passará por outros compartimentos que vão impedir que as bactérias modificadas cheguem ao meio ambiente.

Reconhecimento para a ciência nacional

Segundo Angonezi, caso seja aprovado, o grupo da UFRGS será o primeiro do Rio Grande do Sul a participar da competição internacional e, juntamente com uma equipe do Paraná que também está se inscrevendo para o evento, seriam também os pioneiros em toda a região Sul. “Além da contribuição ambiental que nosso projeto pode ter, ajudando a degradar um poluente da água de nossos rios, ter uma equipe do Estado participando da competição é uma forma de divulgar a ciência brasileira, tanto no Brasil como no exterior”, exalta.

O primeiro passo para participar da competição é o pagamento da taxa de inscrição para recebimento das ferramentas fornecidas pela própria iGEM para elaboração dos projetos.”Precisamos pagar a taxa de inscrição que é de 5 mil dólares. É um valor alto, precisamos de ajuda para participar. Temos uma “vaquinha online”, onde o pessoal pode contribuir com qualquer quantia que puder”, salienta Angonezi.

 

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