Sempre que uma preguiça existencial me trava as ideias, apelo para um grupo de “zapzap” que ganhou densidade nesta pandemia: as meninas “raiz”. Embora analógicas na essência, elas fazem revelações em “podcasts”, que eu baixo através do aplicativo “DoBaú” . Nesta semana, as meninas contribuíram com algumas aventuras do tipo “raiz”.

Começo pela guria morcego, escaladora de laranjeiras de dez metros de altura que, num belo dia, querendo pegar um cacho com oito laranjas para dar à professora, escorregou e ficou dependurada de cabeça para baixo. Depois de tanto se alongar, desvencilhou-se da forquilha e voou. Ao chão.   

A bailarina era quase uma deusa. Dançava, rodopiava, pintava, bordava, passeava, mas não gostava de memorizar. Às vésperas da sabatina final, ela ia ao cemitério, onde fazia uma novena punk. A contar pelo sucesso na vida adulta, seus apelos religiosos comoveram até os mortos.  

A mocinha bonita com laço de fita tinha apenas dois pares de sapato: o que servia de pau pra toda obra e o de desfilar em frente ao Aliança, depois da missa dominical. A operação “troca” era feita sob uma escadinha do Guindani, abaixo da única Ponte Seca do mundo e acima do Bananeiro (só gente raiz vai se lembrar).

A guriazinha que flagrou o “bom velhinho” colocando o boneco da Estrela no lugar indicado, fingiu acreditar no Papai Noel mais alguns anos, para garantir os presentes. Já a menina urbana – que punha sapatinhos delicados embaixo da árvore – e a menina rural – que explorava o mato em busca de musgo para o presépio, tinham algo em comum: ambas homenageavam  o verdadeiro motivo do Natal: o Menino Jesus.   

A ligeirinha aprendeu a barganhar desde cedo. Ela pagava pedágio para curtir um cinema, indo à missa e ouvindo o longo sermão do Pe. Mânica sem bocejar. Valeu a pena, pois lhe rendeu um fuscão preto e de quebra, o dono… Ou seria o inverso?! Aliás, essa prática também existia em outros pagos, onde o castigo funcionava como alavanca aos estudos, principalmente na decoreba da tabuada.

 Hoje, todas curtem lembranças que rescendem a mil folhas do bar do Quito e têm a refrescância dos sorvetes de D. Ana e dos picolés do bar do Bellé… Aqueles eram domingos mágicos…

Essas gurias resgataram flashes de momentos inesquecíveis conectando-se consigo mesmas. Na contramão, suas netinhas Nutella, que se conectam com o mundo num click e fotografam momentos para que se tornem inesquecíveis. Fazem tudo o que fazíamos só mexendo os dedinhos.  E a gente fica babando…