No mundo todo, o dia 2 de abril é uma oportunidade de reacender o debate sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A data marca o Dia Mundial de Conscientização do Autismo e tem por objetivo disseminar informações sobre o assunto. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que cerca de 70 milhões de pessoas no mundo tenham a síndrome. Apesar do número elevado, de modo geral, as pessoas sabem muito pouco a respeito e o preconceito ainda é perceptível.

Para atender especificamente esse público, foi criada em 2015 a Associação Pró Autista Conquistar (APAC), em Bento Gonçalves. No local são atendidos jovens e adultos a partir dos 18 anos  de idade. “Pensamos nessa faixa etária, porque quando os alunos saem da Escola Especial Caminhos do Aprender, não têm para onde ir, então nós decidimos abraçar eles e a ideia está funcionando”, conta a coordenadora pedagógica e psicopedagoga Claudia da Cruz Pimentel.

Associação Pró Autista Conquistar

A associação é público-privada, ou seja, se mantém com ajuda da prefeitura, com contribuição financeira da família de quem frequenta e com doações dos bento-gonçalvenses. O trabalho desenvolvido é focado na interação e socialização com a comunidade, além das atividades que fazem parte do dia-a-dia, visando torna-los o mais independente possível.

APAC terá programação especial no domingo

Para celebrar o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, domingo a partir das 15h, a Associação estará na Praça Achyles Mincarone, com chimarrão e slackline, esperando o público para um bate-papo. “Vai ser um dia de integração. Vamos convidar as famílias e a comunidade para estarem ali conosco. E a ideia é divulgar a data, que é importante, e mostrar que existe o autista e que da pra gente conviver normalmente com eles”, finaliza Claudia.

Os desafios da inclusão

Representando um progresso na luta pelos direitos dos autistas, em 2012 foi sancionada a Lei n° 12.764, que institui a “Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista”, estabelecendo o direito do estudo em escolas regulares, tanto na Educação Básica quanto no Ensino Profissionalizante, podendo solicitar um acompanhante especializado, caso seja necessário.

Para a coordenadora, por se tratar de algo muito recente, a inclusão ainda está engatinhando. “Dos nossos alunos, tivemos no máximo dois que foram para a escola regular. Não são todas as escolas que abrem as portas. Como professora, também já estive em sala de aula regular e sei das dificuldades quando a gente recebe um aluno incluso, mas penso que se acontecer, tem que acolher da melhor forma possível”, relata.

Preconceito ainda existe

De acordo com Claudia, ainda é possível perceber situações muito claras de preconceito. A própria coordenadora já presenciou duas situações, ambas em um Shopping de Bento. “Teve uma situação bem complicada ano passado, nós fomos dividido em grupos pequenos para tomar sorvete e notamos que onde a gente ia os seguranças iam atrás. E outro caso, também no shopping, uma das nossas meninas foi com um ursinho e deu coincidência da decoração do local ser de ursos, e aí o guarda veio me perguntar se ela tinha pego, eu fiquei muito chateada”, relata.

Pais devem ficar alerta aos sinais das crianças

De acordo com a psiquiatra e psicoterapeuta cognitivo-comportamental, Nádia Gabana, não existe nenhum exame que faça o diagnostico de autismo, a avaliação é clinica. “A gente avalia questões relacionadas ao neurodesenvolvimento e comportamentos da criança durante a consulta, mas também é avaliado o relato das pessoas com quem ela se relaciona e convive”, explica.

Ainda conforme Nádia, o diagnóstico geralmente se dá entre um e três anos de idade da criança, idade em que fica mais fácil perceber a deficiência em algumas áreas específicas. É preciso que os pais estejam atentos em alguns sinais. “O bebê não consegue fixar os olhos na mãe quando está amamentando, não foca o olhar, olha para um determinado ponto, quieto, não dá aquele sorriso social, eles demonstram menos afeto, menos interesse de estar com as pessoas”, alerta.

Psiquiatra e psicoterapeuta cognitivo-comportamental, Nádia Gabana