Os constantes aumentos, em diferentes segmentos da sociedade, impactam diretamente na vida dos consumidores. Entretanto, outro setor que também está sendo afetado, principalmente por conta da elevação no valor dos combustíveis, é o de transporte por aplicativo. Muitos são os relatos, em todo o país, de motoristas que deixaram de atuar na profissão por esse motivo ou que foram criativos e migraram para outros segmentos.

De acordo com o vice-presidente da Associação de Motoboys e Motoristas de Aplicativo de Bento Gonçalves (AMMAP-BG), Luan Lucas de Barba, há uma explicação para que alguns deixem a profissão. “Por conta dos preços não atualizados de certos aplicativos, sendo que em alguns deles o condutor estaria ‘pagando para trabalhar’, outros pelas baixas tarifas exercidas pela plataforma”, considera.

Entretanto, alguns encontraram soluções para atravessar essa fase. “Muitos utilizam os aplicativos locais, que têm tarifas mais benéficas. Outros optaram por formar suas empresas de transfer ou transporte particular, visando não sair no prejuízo com os aumentos que sofremos nos preços de combustível, sem contar os impostos que giram em torno da profissão, que não são baratos”, enfatiza.

O vice-presidente esclarece que a taxa básica paga ao motorista varia de acordo com o aplicativo. “Alguns, que existem em grandes centros, cobram valores inconsistentes para Bento Gonçalves, sendo que uma tarifa que paga ao motorista R$ 4,50 por corrida de até 1,6 km hoje em dia não paga nem um litro de gasolina, sendo prejuízo certo. Por este motivo, muitos optam por rodar somente por aplicativos locais, já bem conhecidos pela população, e que tem tarifas onde o usuário paga um preço justo e o motorista também consegue tirar uma margem de lucro, baixa, mas pelo menos não sofre perdas”, salienta.

Conforme o motorista de aplicativo, Fagner Rodrigues Guterres, o setor passa por um momento delicado, principalmente por conta dos constantes aumentos de combustíveis, causando, segundo ele, um encolhimento da margem aceitável de lucro. “A pandemia gerou muitas demissões em outros setores da economia e essas pessoas buscaram na atividade uma forma de trabalho e até mesmo para complementar a renda. Isso gerou um número muito grande de motoristas. Em contrapartida, as principais empresas de transporte por aplicativo, que detém a maior fatia do mercado, mantém tarifas muito baixas e seus respectivos percentuais de ganhos altos”, comenta. Ele destaca que com o passar do tempo, muitos aplicativos também surgiram na cidade, contribuindo para atender a demanda local.

Segundo ele, esses sucessivos aumentos impactam diretamente na renda de cada motorista. “As empresas líderes de mercado não repassam nenhum reajuste nas tarifas desde quando iniciou a atividade na cidade, em 2017. Naquele ano, pagávamos R$ 3,78 o litro da gasolina comum e hoje pagamos R$ 6,30, em média. As mais populares têm uma tarifa mínima de R$ 4,50, aí tira o percentual do aplicativo e é só fazer o cálculo. Muitos motoristas trabalham uma semana ou até mesmo duas e depois desistem pelo custo alto, principalmente do combustível e também pela questão da depreciação do veículo”, enfatiza.

Fagner salienta que muitos usuários reclamam que não conseguem motorista em determinado aplicativo. “Ou até mesmo, quando a corrida é cancelada pelo motorista, os passageiros ficam 30, 40 minutos tentando um carro. Mas, o condutor, dentro dessas plataformas mais populares, infelizmente tem que escolher bem o trajeto que vai fazer. Em contrapartida as empresas locais de transporte de aplicativos vêm ganhando mercado, justamente porque nelas os passageiros conseguem mais rápido o veículo sem passar pela frustração de ter sua corrida cancelada”, considera.

Mais rigor na fiscalização

Apesar de o Poder Público fazer muitas fiscalizações de trânsito, Guterres ressalta que é necessário mais rigor. “Com o passar dos anos, em Bento, foi se criando a cultura de chamar seu transporte particular via aplicativo do WhatsApp. Com um número alto de motoristas insatisfeitos, essa modalidade se propagou muito rápido. Entretanto, devemos lembrar que é uma forma ilegal que não se enquadra na lei municipal. A prefeitura já tem feito algumas intervenções para combater o transporte de passageiro irregular, ações essas que ainda não geram nenhum efeito, pois o agente fiscalizador sempre tem como primeiro objetivo orientar para que o motorista que transporta fora de uma plataforma busque sua regularização”, enfatiza.

Em conformidade

Conforme o secretário de Mobilidade Urbana, Marcos Barbosa, os motoristas que desejam atuar na profissão devem fazer um cadastro. “Se dirigir até a secretaria de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana (Segimu) de Bento Gonçalves, que fica na rua 10 de Novembro, nº 190. A pessoa deve ter alvará para motorista de aplicativo, a inscrição Municipal que deve ser feita na Sala do Empreendedor, na secretaria e Desenvolvimento Econômico”, enfatiza.

Atualmente, conforme a secretaria, 75 motoristas estão cadastrados na cidade. Para averiguar se os veículos estão em conformidade com as documentações e regularizados para realizar o trabalho, fiscalizações de trânsito são realizadas. Segundo Barbosa, quem não estiver cadastrado pode ganhar multa. “Após processo administrativo pode gerar multa de 10 URM (URM 2021 = R$ 145,08)”, comenta.

Cadastro

Os motoristas de aplicativo, para exercer a profissão, devem fazer um cadastro e, para isso, devem se dirigir até a secretaria de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana. É necessário apresentar:
• CNH;
• Certidão Negativa;
• Atestado Médico;
• Comprovante de residência;
• Realizar curso específico (Ministrado pelo Sest/Senat);
• Veículo possuir no máximo 10 anos
• Ser vistoriado pela secretaria de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana (Segimu);
• Seguro APP.