Em fevereiro, 1.266 crianças foram atendidas na Unidade de Pronto Atendimento. Já em março, o número aumentou para 3.291

Na última quarta-feira, 6, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) atualizou para o Jornal Semanário os dados em relação aos atendimentos pediátricos realizados até o último dia de março na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24h. No fim do último mês, a prefeitura havia divulgado que o fluxo de pacientes do público infantil havia aumentado em mais de 93% em comparação com as primeiras semanas do terceiro mês de 2022.

Do dia 1º até 20 de março, a SMS contabilizou 2.450 crianças atendidas. De 21 a 31, foram mais 1.471 atendimentos na UPA, totalizando 3.921 emergências pediátricas em Bento Gonçalves, em apenas um mês. Em fevereiro o total foi de 1.266, dado que demonstra um aumento de 209,71%.
Para agilizar os atendimentos, a prefeitura abriu um processo seletivo simplificado para contratar 28 novos profissionais para trabalhar no local, sendo que 14 serão para a área pediátrica.

Efeito pós-pandemia

Segundo a pediatra Angela Cagol, de maneira geral, o alto número de busca por atendimento pediátrico se deve, em boa parte, à pandemia. Ela ressalta também que esse quadro não é visto apenas na UPA, mas nos demais pronto-atendimentos da cidade. “Sabemos que as crianças ficaram por um bom tempo represadas em casa e isso fez com que elas não tivessem mais contato com vírus e bactérias. Agora que estão retornando, está acontecendo a proximidade e elas acabam sofrendo um pouco mais, principalmente nessa época do ano, com entrada do outono, quando há mudanças climáticas muito bruscas”, explica.

A médica diz, ainda, que dentro das escolas acontece a proliferação de processos infecciosos virais e os principais problemas encontrados nos atendimentos de emergência são respiratórios. “O que a gente está vendo são crianças com muito quadro de tosse, disfunção respiratória, chiado e febre. Sintomas realmente preocupantes”, relata.

Após a redução no índice de imunização com a pandemia, a pediatra afirma que o fato de a carteira de vacinação não estar em dia não seria um motivo para estar ocorrendo esse acréscimo nas consultas de emergência. “Claro que a criança que está com controle vacinal, teoricamente está mais protegida, sem dúvida, mas acho que não é esse o principal motivo do aumento da procura por atendimento médico”, salienta.

Para Angela, outra causa, além da volta às aulas, é a mudança brusca nas temperaturas, que é o principal fator para o contágio e o agravamento dessas infecções respiratórias. “Por isso é muito importante que as crianças estejam em dia nas suas consultas pediátricas, que comecem a usar os medicamentos que evitem agravamentos das crises, principalmente as asmáticas”, recomenda.

Além disso, a pediatra observa que a grande maioria dos pais não busca atendimento médico de consultório ou posto de saúde para a criança. “Deixam para realizar a consulta quando a situação já está bastante agravada ou já tomou uma proporção que, muitas vezes, a gente só vai conseguir tratar em nível hospitalar”, realça.

A superlotação da UPA, segundo a médica, pode estar acontecendo porque hoje a maioria do público infantil não tem mais convênio médico. “Talvez a própria pandemia possa ter causado isso, porque como as crianças estavam bem, em casa, não ficavam mais doentes, os pais optaram por não pagar mais plano de saúde e outros também acabaram sendo demitidos. Tudo isso levou ao aumento da demanda, porque grande parte procura o SUS. De qualquer maneira, os pronto-atendimentos que trabalham com planos também estão lotados”, ressalta.

Como se proteger no inverno?

A médica ressalta os cuidados básicos que devem ser tomados em casa pelos pais, que normalmente já são de conhecimento da população. Segundo a pediatra, evitar temperaturas baixas após o banho, impossibilitar que a criança ande de pés descalços e mandar ela bem agasalhada para a escola pode auxiliar a evitar problemas de saúde.

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