Como os leitores devem ter percebido, estou procurando a origem da corrupção brasileira. Por uma questão de isenção, até as professoras foram levadas a julgamento. Mas estou convicta de que o problema reside mesmo na malandragem da Língua Portuguesa. Esta gramática cheia de meandros leva a “criar confusões de prosódia e uma profusão de paródias”, como diz Veloso numa canção. Inclusive já demonstrei que os adjetivos são de uma cretinice megalomaníaca, mas os pronomes também têm o rabo preso. “Eita, lasqueira”, diriam os internautas.

Comecemos pelo pronome pessoal do caso reto, o egomaníaco, o egocêntrico, o inflado, o narcisista, o individualista “eu”, que está cima acima de tudo e de todos. Então, qual a retidão de um “EUdeusado”, cujo universo é o próprio umbigo?

Já o oblíquo é um pronome que olha de esguelha, portanto suspeito. Deve esconder sua obliquidade, suas intenções, suas falcatruas nesse espionar enviesado…

Mas hipócrita mesmo é o indecoroso “Excelência”. É só observar as sessões legislativas extraordinariamente ordinárias – e de outros poderes também, cuja pompa o povo sustenta – para ver o tamanho da falsidade. Não seria mais digno usar o respeitoso “senhor e senhora”?

Os possessivos são lascivos e têm uma relação íntima com os pessoais. Por exemplo, o “eu” adora o “meu”. É uma parceria que significa: “Eu possuo a faca e o queijo e ninguém tasca no que é meu”.

Os demonstrativos são menos ambiciosos e mais exibicionistas.

Os indefinidos ficam em cima do muro. Insinuam, mas não dão nome aos bois. São uns baitas fofoqueiros.

Ah! Os relativos! Dissimulados, interesseiros… Eles dependem da relação com outra coisa, ou outro fator, ou elemento, ou circunstância e variam conforme essa relação. Dá para confiar em pronomes tão volúveis?

E tem os interrogativos que são bisbilhoteiros contumazes… Eles possuem um significado duvidoso e vago, que apenas é esclarecido pela resposta dada à interrogação, garantem as gramáticas. O que prova sua implicação com as intrigas políticas.

Por tudo isso, eu digo e repito: a corrupção é herança dos portugueses, que nos enfiaram a Língua Portuguesa goela abaixo. A roubalheira só acontece por causa da facção dos pronomes, esses vilões, safados, caras-de-pau, demagogos, vendidos, prostituídos… Ufa! E pensar que logo mais eles estarão nos palanques travestidos de modéstia…