Pobreza é, antes de tudo, a impossibilidade de decidir sobre sua própria vida. Neste sentido, erradicar a pobreza é incluir nas decisões públicas os pobres, suas representações coletivas, e descentralizar e democratizar radicalmente as instâncias públicas de decisão.

Pobreza é também a privação de direitos sociais. Para garantir a satisfação de necessidades básicas de todo cidadão, estamos falando de segurança alimentar, trabalho, moradia, saneamento básico, mobilidade, saúde, educação, cultura, esportes e lazer. O foco central deve ser a busca da redução das desigualdades. Portanto, a ênfase é atender com qualidade os que até então não tenham acesso a esses direitos.

O objetivo maior é a reapropriação da gestão das metrópoles por seus cidadãos. Por meio desta reapropriação se mobilizam recursos e se reorientam as políticas públicas para priorizar a redução das desigualdades.

Vivemos em uma cidade rica e pujante como Bento Gonçalves e é quase inconcebível acreditar que temos cerca de seis mil pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza. Seria descaso político? Abandono das políticas públicas? Falta de interesse das famílias em mudar de vida? Todas as opções podem contribuir, de alguma forma, para que esta situação aconteça por aqui.

Porém, uma coisa não fecha: se há tantas famílias vivendo apenas com o Bolsa Família, como é possível existirem tantas vagas de emprego na Capital do Vinho? As empresas de nossa cidade, e olha que não são poucas, oportunizam ao desempregado, ao sem-estudo e até ao sem-teto a chance de aprender uma profissão. As vagas estão lá, esperando apenas que o cidadão tenha vontade de querer sair da situação em que se encontra. Porém, muitos não conseguem.

Fora isso, temos que contar nesse bolo pessoas idosas e crianças que dependem de auxílio para se manter. Uma das pessoas moradoras da chamada periferia de Bento reclama que os políticos só aparecem em época de eleição, prometem e não fazem absolutamente nada por estas comunidades. A prática eleitoreira de algumas décadas parece que continua valendo por aqui.

Se alguém duvidar que a pobreza extrema existe, faça um passeio social pelos bairros Tancredo Neves, Municipal e Eucaliptos para conhecer o chamado fundo do poço. Afinal, viver com uma renda de R$ 140 por mês não é, definitivamente, viver com dignidade.

Mais um ano está passando e as chamadas ações sociais do poder público vão ficar para 2014. Esperamos que não se arrastem até o próximo período eleitoral para que as comunidades periféricas recebam novamente só promessas de melhorias. Hoje, Dia Mundial da Alimentação, moradores do Eucaliptos receberão sacolas com pães, doados por padarias da cidade. Talvez seja uma forma adotada pelo Executivo para tapar o sol com a peneira e tentar matar a fome desta gente pelo menos por um dia. Mas e quando o pão acabar, o que vai sobrar? Os dois lados precisam se ajudar e fazer com que os índices de miséria no município sejam definitivamente erradicados.