Um retrocesso descomunal é o que está acontecendo no país e no mundo. O estopim da Terceira Guerra Mundial deve ser menor que um estalar de dedos.

Estamos implodindo. A mercê de uma crise econômica descomunal, um vírus altamente contagioso, desconhecido, virando o sistema de saúde de cabeça para baixo, deixando pessoas entediadas, doentes, sem emprego, mortas.

Empresas fecham. Pequenas, médias, grandes. Pessoas passam fome. Se reinventam para sobreviver. Fizeram doações. Contraíram dívidas. Perderam amigos, familiares. Alguns lugares comuns parecem zona perigosa de radiação, cheia de grades, correntes, fitas. Isolamento, distanciamento, máscara. Todos os dias, da janela, posso ver Will Smith e o companheiro Sam, bem cedo, procurando vida nos escombros.

Menos poesia, e mais indignação. Não bastasse isso – teria muito mais -, em pleno século XXI, “colado” com um “incidente” muito parecido, um homem negro é espancado até a morte, por seguranças, em um supermercado de renome. Só o peso dessa frase poderia esmagar o racismo de meio mundo.

Os seguranças trabalhavam irregularmente.
O depoimento de uma testemunha está sendo contraditório.
O mercado anuncia fundo de milhões de reais para o combate ao racismo. Ainda não sabe nem o que vai fazer ou como fazer ou o que precisa fazer.
Mas o dinheiro vai sair.
O mercado perde, hoje, mais de R$ 2 bilhões em valor de mercado na bolsa.
A manifestação no Dia da Consciência Negra acabou com o destaque de um grupo que destruiu e incendiou uma unidade do mercado.

Douglas Belchior, uma das lideranças do movimento negro no Brasil, respondeu a uma entrevista e nunca senti tanta empatia. Não pelas perguntas tolas feitas a ele, como “Por que você acha que o ataque ao mercado começou” ou “Como você acha que os negros do parlamento vão olhar para essa atitude de ‘vocês’?” Mas pelo grito silencioso de até quando vamos ter paciência? O protesto é desproporcional. Os negros escrevem notas de repúdio e organizam caminhadas. É justo? Adianta?

Nunca vou concordar com ataques, vandalismo, vingança. Sempre pode sobrar para pessoas inocentes.

Mas receio que o tom da reivindicação negra tende a se manter elevado. Errado não está.

Não consigo ver sentido nisso tudo. É muito irreal para mim. Ainda estou tentando deglutir essa barbárie que, absurdamente, anda se repetindo. Acho difícil falar sobre isso. “Vidas negras importam” virou bordão e motivo para todo mundo encher o saco nas redes sociais. Tem que ter um grupo, não tem que ter um grupo? Eu, como pessoa de cor, preciso urgentemente estudar mais. É extremamente perturbador sofrer um ato de racismo. Mas então, o que tem que ser feito? Bom, não atentar contra a nossa vida, já seria um ótimo começo.