Com os sucessivos escândalos de corrupção resultantes das investigações na Operação Lava-Jato e a fragilidade do presidente Michel Temer, a economia recua e o cenário político se torna imprevisível. Pensando nisso, o Semanário conversou com analistas para entender qual cenário se desenha e quais seriam as melhores saídas para o cenário de incertezas políticas e econômicas.

Enquanto alguns analistas acreditam que Diretas Já seja a melhor alternativa, outros vêem a opção como perigosa, por dar voz aos “aventureiros da política”, e apostam numa solução prevista na constituição. Do ponto de vista econômico, apesar de os indicadores demonstrarem recuperação, predomina o pessimismo com relação ao limite de gastos e as reformas.

Para o cientista político Fredi Camargo, as Diretas Já abrem o campo para o debate entre figuras contraditórias, como Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, que aparecem como “salvadores da pátria”. “O povo precisa entender que é o protagonista, mas a cultura brasileira costuma aceitar esses falsos profetas”, afirma. Ele argumenta que para resolver a crise deve-se obedecer as normas institucionais e eleger o sucessor de Temer por meio de eleições indiretas, após uma possível deposição do presidente.

Na sua opinião, o esfacelamento da base aliada pode representar duas alternativas: os partidos estão com medo de se aproximarem do governo e de serem estigmatizados como oposição após os escândalos envolvendo o PT, o que os deixa estagnados. “Hoje sair é tão perigoso quanto ficar, principalmente em relação aos cargos, que são os principais interesses dos partidos”, analisa.

Sem saída

Para o pós-doutorando em sociologia e professor do IFRS de Bento Gonçalves, Gregório Grisa, a única forma de Michel Temer deixar o poder é por meio de um acordo costurado entre os partidos utilizando ou não o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que iniciou nesta semana o julgamento da chapa presidencial. “É difícil fazer previsões, mas penso que seu grupo político deve permanecer no governo até o final de 2018, mesmo ocorrendo eleições indiretas nesse meio tempo”, opina.

Em curto prazo, Grisa não vê a possibilidade de mudanças significativas. Ele cita o fato da dificuldade de mobilização da sociedade para pressionar a classe política para as Diretas Já como agravante para o aprofundamento da estagnação política. “A pauta das Diretas Já é interessante ao provocar um senso de participação e cidadania, mas ela esbarra em incertezas e disputas eleitorais, fruto da cisão simplificadora que a política nacional experimenta desde 2014”, observa.

Ainda na opinião de Grisa, não há qualquer possibilidade de o Congresso Nacional fazer reformas positivas para a população brasileira. Ele entende que os poderes estão capturados por interesses pontuais, de grupos econômicos influentes. “A maioria dos parlamentares são da base de sustentação de Temer, que conduz um governo anti-popular, corrupto, fisiológico e conservador”, analisa.

Na sua opinião, a solução mais adequada passaria por uma reforma política de base, que foi ignorada pelo Congresso Nacional em 2013. “Penso que a antecipação de eleições gerais, para renovação dos poderes seria o mais adequado para esse momento, não há muita esperança fora disso. No entanto, essa possibilidade é praticamente nula”, prevê.

Recuperação econômica?

Mesmo com o pequeno crescimento do PIB puxado pela agropecuária, o cenário não é de otimismo para o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Augusto Pinho de Bem. Ele afirma que as reformas (trabalhista, previdenciária e terceirização irrestrita) ensejadas como necessárias pelo governo Temer limitam o poder de compra da população e fazem com que a renda se concentre em poucos atores. “Tudo aponta para um crescimento pífio caracterizado pela concentração de renda”, opina.

Segundo ele, as medidas diminuem o custo da mão de obra e, consequentemente, o poder de compra do trabalhador, que passa a consumir menos e desaquece o mercado interno. “As respostas são no sentido de recompôr a margem de lucro das empresas e não há potencial de geração de renda”, ressalta. Para Bem, o cenário poderia ser revertido com investimentos públicos. “Mesmo assim, a política fiscal é muito limitada e não é possível utilizá-la ela como forma de início da recuperação econômica”, analisa.

Ele afirma que o fim da crise fica atrelado ao aumento de exportações, que é pouco representativo em relação ao total do PIB brasileiro, ou ao investimento do setor privado, que tende a se retrair em função do cenário de recessão e da instabilidade política. “De forma geral, a agropecuária e os commodities não trazem grande benefício para o todo”, opina.