O diabo existe.

Ele já foi o príncipe das trevas e sua fama aumentou com o aparecimento da religião cristã, mantendo os fiéis no cabresto.

Teve chifres, pele preta ou avermelhada, rabudo e portador de um tridente e já se escondeu embaixo da cama de muita criança de imaginação fértil.

Alimentou a sanha da Inquisição, acendeu fogueiras, queimou hereges, bruxas e livros.

Foi o precursor da propina, ao comprar a alma do Dr. Fausto, dando-lhe em troca saber e prestígio sobrenaturais.

Permeou a Divina Comédia com alegorias fantásticas e dantescas. Abrindo um parêntese, quem tem azia sabe como é o inferno de Dante.

Pintado de verde, fez parte do cotidiano estressado de donas-de-casa, desentupindo pias cheias de gordura.

Já teve um fã clube, foi herói meta-humano e piromaníaco do Esquadrão suicida.

Como marsupial pequeno e desengonçado – vanguardista da pochete – de grunhido diabólico e de forte mordida, ele já reinou na ilha da Tasmânia, na Austrália. Mas só ganhou notoriedade vestindo Prada com glamour e humor.

Já foi um bonitão que, entediado com a vida no inferno, se mudou para Los Angeles, onde passou a emprestar seus recursos intelectuais para ajudar uma investigadora de assassinatos.

Na imitação mais grotesca, usou meias e cuecas pra esconder a propina, substituídas depois por malas e apartamentos.

Hoje o tinhoso anda meio desacreditado. Mas eu tenho a convicção de que ele existe mesmo, e nem é preciso ir ao inferno pra topar com sua presença insólita. Em Brasília, por exemplo, há uma legião de beiçudos disfarçados nos três poderes.

Mas uma das estratégias que o Coisa-Ruim adotou é se apresentar fatalmente doce, terrivelmente sedutor, maliciosamente irresistível. Para isso escolheu incontáveis formas, densas, sólidas, fofas ou líquidas. Ele se disfarça no brownie, no petit gateau, na torta de trufas, no brigadeiro, no sorvete, no cupcake, no café, no fondue… E é pra “fondue” mesmo a gente.

Uma experiência diabólica tive há pouco tempo, quando adentrei no castelo do pecado, conhecido como “The Ganachery”, uma verdadeira boutique do chocolate, que faz parte do complexo do Walt Disney World. Fui apresentada a dezoito tipos de ganache (capetas em forma de chocolate) com sabores especiais e únicos como framboesa profunda, canela do Sri Lanka ou sal marinho Egípcio. Uma perdição.

Confesso! Estou numa tremenda enrascada e travo diariamente intensas batalhas com o excomungado, que subverte minhas boas intenções aparecendo inesperadamente, me deixando mais viciada do que a bateria do meu celular.