Infelizmente parece de nada adiantar perante a lei.
Mas descobrimos que nossa voz é muito mais forte do que imaginávamos, e para você, abusador, vai ser cada vez pior.

Não são necessárias pesquisas sofisticadas para evidenciar o óbvio. A violência contra a mulher aumentou consideravelmente durante a pandemia. Além de números extras, há também um movimento de denúncia contra relacionamentos abusivos antigos ou recentes, trazendo à tona personalidades antes veneradas.
A violência contra o outro em um relacionamento não é só física, mas também psicológica, sexual, moral e patrimonial. Segundo a OMS, uma em cada três mulheres vai sofrer alguma forma de violência durante sua vida.

Só quem já viveu uma relação abusiva sabe o quão difícil é se desvencilhar dela, pois a situação em si não é consciente na cabeça da vítima. E, muitas vezes nem na cabeça do abusador. Então, é por isso que ninguém fala nada? Um pedido de desculpas cheio de lágrimas, um presente caro, uma promessa vazia preenche um coração desatento. Calam-se também por medo. Medo de ameaças, calúnias e de ficar sozinho. Uma redoma de comiseração é criada para com o abusador. No entorno dessa relação existe uma família preocupada, amigos desconfiados e, principalmente, uma pessoa em migalhas.

Não expomos fotos do nosso corpo, pois somos vulgares e estamos “pedindo” para sermos estupradas. Não expomos nosso trabalho, porque o texto é grande e ninguém vai ler. Não denunciamos um estupro, porque a culpa foi minha por ser sensual demais. Afinal, como poderia não ser consentido alguém mais alto e forte puxar minha cabeça a ponto de entortar meu pescoço, enquanto o rosto fricciona a parede, até arrancar os fios de cabelo?

Essas são as palavras fáceis de deglutir, o restante o horário não me permite. Mas perdão, foi um texto culposo. Sem intenção de causar dissabor.

Infelizmente, milhares de crianças ainda estão sendo educadas para serem mulheres caladas e submissas, e homens violentos e machistas. Infelizmente ainda existem milhares de relacionamentos abusivos, de mulheres reprimidas e violentadas. Apesar de sabermos que a justiça trabalha lado a lado com a gramática, estamos fazendo o que podemos com o que temos. A cada dia o mundo descobre um novo abusador, que perde um patrocínio ali, uns seguidores aqui, mas se todas as bocas gritarem juntas, talvez consigamos chamar atenção enquanto ser humano e juntas teremos pernas e coragem para sair de um covil disfarçado de berço.