Quando começamos a construir a casa do sítio, na colônia, perto do meu avô paterno, meu pai tinha como hobby plantar árvores no quintal de nossa casa. Da janela da cozinha, eu o observava nos finais de semana, pescando como de costume e dedicando-se à tarefa de plantar com paciência e afinco. No entanto, algo me intrigava: ele raramente regava as árvores. Minha curiosidade cresceu tanto que, um dia, resolvi perguntar.

Ele me explicou algo que nunca havia considerado: se ele regasse suas árvores constantemente, as raízes permaneceriam na superfície, acomodadas, esperando pela água fácil. Mas ao não regá-las, as árvores eram forçadas a lutar, a buscar a vida nas profundezas do solo. Esse processo tornava as raízes mais fortes, mais profundas, ligadas às camadas ricas e duradouras da terra.

“Elas demoram mais a crescer”, disse meu pai, “mas quando o fazem, tornam-se mais resistentes.”
Agora, depois de um ano que resolvi voltar àquele lugar, passadas as enchentes, a queda da ponte, os deslizamentos e, inclusive, a perda de meu pai, quando avistei a nossa casa, vi que o que ele dizia, fazia todo sentido. Muita coisa estava diferente, menos as suas árvores. O que antes era um pátio com mudas havia se transformado em belas e grandes árvores imponentes, com raízes profundas e uma força que desafiava as condições mais adversas, incluindo os fortes ventos e chuvas a que fomos submetidos.

Quando os ventos fortes sopraram por toda a cidade, derrubando muitas árvores ao redor das casas, as do meu pai mal se mexiam. Resistiram, firmes. Elas haviam sido forjadas pela escassez, pela luta silenciosa e constante em busca de recursos escondidos, muito além do que era fácil e acessível.

Naquela tardinha, enquanto voltava pra casa do sítio, compreendi algo fundamental. Muitas vezes, pedimos que a vida nos trate com facilidade, que os desafios sejam leves. Mas o que realmente deveríamos pedir é que em nosso interior, raízes fortes e profundas se formem, para que quando as tempestades inevitáveis da vida nos atinjam, tenhamos a capacidade de resistir. Pois, assim como as árvores do meu pai, não seremos derrubados, mas nos tornaremos ainda mais firmes, enraizados na essência da nossa força. Ele se foi, as chuvas e os ventos cessaram, mas as árvores que plantou e as suas lições ficaram pra eternidade. Assim, quem parte, não morre jamais, quando deixa seus rastros pela humanidade.

Ah, por falar em meu pai, ontem foi seu aniversário, junto com o meu e eu ganhei essa reflexão como presente. E esse texto também não é apenas sobre árvores, é sobre você. Inspire-se nelas! Meu pai deve estar orgulhoso!