Na Serra Gaúcha, moradores cultivam variedades que trazem mais qualidade para sua alimentação, além de contribuir para a flora da região

Os jardins de muitas residências abrigam árvores que, além de fornecerem frutos, propiciam sombra e ajudam no equilíbrio do meio ambiente. Em Bento Gonçalves, laranjeiras, limoeiros, romãzeira, pitangueiras, entre outras plantas que crescem na região.

A pensão de Diva Arpini Bernardini, localizada no bairro Fenavinho, é um dos locais onde pode-se encontrar laranjeiras e bergamoteiras, apreciadas pelos diversos hóspedes que moram no local. “As pessoas adoram comer as frutas das árvores que estão no estacionamento, quando vejo já está tudo vazio. Fico muito feliz em ter as frutíferas no local, além de deixar os que passam por elas, felizes, a cidade se torna mais agradável com a natureza estando presente”, valoriza.

Em terrenos um pouco mais afastados também há aqueles que plantam, em proporções um pouco maiores, diversos tipos de frutos para o consumo da família ou como hobby. Um deles é Adriano Andreuzzi, comerciante do bairro Licorsul, que guarda seus finais de semana para cuidar das culturas que plantou em Pinto Bandeira, como forma de passar o tempo e ter alimentos saudáveis em casa. “Faz três anos que cultivo frutíferas, quem me motivou foi meu sogro. Tenho várias espécies de laranja, bergamota e limão, além de pêssego, cáqui, ameixa, maçã, pitaia, mirtilo, lichia, atemoia, entre outras”, diz.

Andreuzzi revela que o que mais gosta de cuidar é o limão caviar, ele dá dicas sobre o cultivo da fruta. “O plantio deve ser feito em cova funda e bem adubada. Esse tipo não precisa ser podado, pois quanto mais galhos fizer, melhor será o crescimento e produzirá mais frutos. Deve ser adubado a cada três meses, principalmente com adubos orgânicos. No meu caso uso esterco de cavalo, excelente para frutíferas e hortas”, recomenda.

Ao falar sobre laranjeiras, o comerciante menciona que são mais difíceis de cuidar. “Pois tem as formigas que amam comer as folhas. Com isso, a planta demora muito mais tempo para se desenvolver”, resume. E dá recomendações aos que querem ter uma árvore frutífera em sua residência. “Tem que evitar plantar perto de casas e de rede elétrica, pois um dia elas vão arrumar problemas. Vamos manter uma distância favorável. E quando tiver um espaço em sítio ou fazendas que precisa de quantidade grande de plantas, o bom é procurar fazer projetos e buscar opiniões de produtores locais para mais sugestões”, realça.

Para ele, é essencial contribuir para o equilíbrio do meio ambiente. “Ter árvores na cidade ou no campo é muito importante, pois as abelhas nativas precisam das flores para a produção de mel e para a sua sobrevivência. Me sinto muito orgulhoso em saber que estou fazendo minha parte pela natureza”, encerra.

Importância

A bióloga e doutora em Ciências Biológicas, Rosângela Brito, destaca ao ter plantações de árvores frutíferas nativas na cidade, diversos benefícios são gerados ao meio ambiente e aos seres humanos. “A conservação da nossa biodiversidade é um desses benefícios. O plantio dessas espécies contribui para a preservação de plantas que são adaptadas ao nosso clima e a nossa região, as quais podem desaparecer com o avanço da urbanização”, ressalta.

Além disso, as árvores frutíferas podem abrigar diferentes formas de vida, incluindo aves e pequenos mamíferos nativos, insetos e outros animais que contribuem para a manutenção do ecossistema e também para a polinização. “As espécies plantadas em torno das casas ou prédios contribuem também para melhoria do nosso microclima, pois elas oferecem sombra e podem reduzir a temperatura local”, diz.

A bióloga ainda salienta que é importante lembrar que as plantas fazem parte de diversos ciclos biológicos, atuando na absorção do dióxido de carbono e na liberação de oxigênio, melhorando assim a qualidade do ar para os cidadãos. “Quando pensamos em plantas frutíferas, associamos também com a alimentação. O cultivo em áreas urbanas proporciona acesso a alimentos saudáveis e frescos para a comunidade, além de estimular a agricultura urbana em praças, parques e jardins comunitários”, realça.

A população pode contribuir com a natureza ao aproveitar áreas até então consideradas degradadas ou inutilizadas em torno de suas residências para a realização do cultivo de frutíferas. “É ideal escolher espécies que se adaptem ao nosso clima e ao nosso solo, pois elas requerem menos cuidados e recursos para se desenvolverem. É importante também ficar atento à irrigação e à proteção contra insetos que possam prejudicar o crescimento dessas plantas”, orienta Rosângela.

De acordo com a profissional, ter árvores nativas que geram frutos, em residências, é uma ação importante e valiosa para a saúde do planeta e das futuras gerações. “É essencial escolher espécies adequadas ao realizar o plantio, o monitoramento do crescimento e da saúde dessas plantas promoverá o aumento da produtividade dos frutos, que podem ser consumidos pelos moradores da comunidade. Além disso, contribuiu para um estilo de vida mais sustentável e conectado com a natureza”, frisa.

Poda e cuidados

A poda é um mecanismo importante para o crescimento de algumas plantas, no entanto, é importante ficar atento para realizá-la corretamente e no período certo. Para isso, Rosângela dá algumas instruções. “É necessário primeiramente conhecer a espécie, cada uma tem necessidades específicas e podem responder de maneira diferente a essa prática. A poda tem diversos objetivos, como a sanidade, a modificação da arquitetura da árvore e a regularização da frutificação. Para a realização é necessário utilizar ferramentas adequadas, como tesouras ou serrotes com lâminas afiadas, a fim de evitar danos às plantas”, explica.

Segundo a bióloga, geralmente inicia-se com a remoção de ramos quebrados, doentes ou mortos. “É indicado eliminar também aqueles ramos que se cruzam ou crescem para baixo ou em direção ao centro da copa. É importante que o corte seja preciso e limpo a fim de facilitar a cicatrização e evitar possíveis infecções. Em caso de dúvidas quanto a realização da poda, é recomendável a busca de ajuda profissional”, aponta.

O engenheiro agrônomo do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza, Alcheres Fernando Engeroff, destaca que cada situação é peculiar e cada propriedade tem suas características. “A adubação é variável conforme as necessidades nutricionais da cultura, normalmente de duas a três, na manutenção, produção e pós colheita. A poda geralmente busca dar uma boa arquitetura para a planta e torna mais fácil para colheita e demais manejos”, comenta.

Onde comprar?

O comerciante do bairro Santa Marta, Márcio Borges, vende diversas variedades de mudas de árvores frutíferas, como as cítricas, as nativas e as exóticas. “As mais procuradas no inverno são as de laranjas, bergamotas, caquis e pêssegos”, revela.

Conforme Borges, o cuidado com este tipo de cultura, ainda mais em casa, necessita de conhecimento. “Plantá-las requer um pouco mais de cuidado e esforço do que as não frutíferas ou perenes, mas não é difícil se você tiver as informações corretas”, diz. O comerciante explica um pouco mais sobre o assunto. “Em vasos, as mais fáceis de cultivar são as de jabuticaba, pitanga, acerola, amora, limão-cravo, limão siciliano, romã, mexerica ponkan, mexerica comum e kinkan. No chão, ainda é possível cultivar outras variedades de porte maior e mais exigente, tais como abacate, manga, araçá, banana, graviola, fruta do conde, entre outras”, frisa.

Foto: Arquivo Pessoal