Os pássaros de espécie comum cantam muito mais aos sábados de manhã. O sol é muito mais radiante e aquece com ternura desde cedo. Incrível como as flores das árvores ficam infinitamente mais cheirosas. Nas janelas escancaradas, cobertas e travesseiros tomam um ar e as calçadas são varridas. O barulho dos chinelos avisam que hoje é dia de folga.
A música pode ser escutada em várias esquinas e se confunde com o caminhão do gás que está passando. Os bares esperam seus fiéis clientes para tomar aquele aperitivo antes do almoço. Sábado é dia de sair de carro, usar a papete de couro que a patroa comprou e dar um olá aos compadres.
Outros acordam cedo, com certa euforia, para irem até o centro e resolver a burocracia da semana. Dia de deixar o carro ‘tinindo’ de limpo e dar uma passadinha no mecânico de confiança para ‘ver aquele barulho’. É só colocar o carro na rua ou no pátio, aumentar a música, vestir o calção de um time que você nunca ouviu falar e vira um hobby. Aquele ‘pretinho’ caseiro esperto dá o toque final no brilho do possante.
É dia de cortar o cabelo e fazer a unha. Dia de aparar a barba, lá do lado da igreja.

  • Não esquece de trazer aquele pão doce da padaria da frente, tá?

Passar no mercado e fazer o rancho, olhar as novidades nas vitrines, comprar aquele tênis que o filho tanto precisa. Levar as crianças para o centro para comprar roupas novas, pode ter certeza, é algo que elas nunca vão esquecer.
Dia de deixar a casa em ordem, de cortar a grama cedo e sentir aquele cheiro orvalhado que se mistura com o cozinhar de um almoço feito com tempo. É dia de ir até o armazém comprar aquele ingrediente que falta para o arroz de forno e sentir o cheiro de roupa limpa da vizinha. “Que amaciante será que ela usa?”
É dia de colocar aquele traje alto esporte para ir com o mozão no grande shopping, comprar roupas caríssimas nada personalizadas em lojas de rede e parcelar em, senhora, apenas 8 vezes – com juros altíssimos. Para a noite, comida congelada e filmes.
O céu sem nuvens prenuncia um sábado festivo, de qualquer natureza. A carne e a cerveja são compradas em demasia, porque sábado é dia de exagero. À tarde, é hora de visitar o afilhado, aquele parente que não se vê há algum tempo, aquele amigo que anda ocupado, ou a vizinha que fez pipoca com açúcar e deixou o chimarrão pronto.

  • Já pede do amaciante dela!

É um clássico. Nunca perde a graça. Aos sábados, aguçamos o olfato. Espero que nunca consigam engarrafar as essências, pois não seria mais, algo tão precioso.