Embora a inauguração do Centro de Esportes e Cultura unificados (CEU) tenha ocorrido há pouco mais de um semestre, o local já se encontra depredado e abandonado. Além disso, os moradores reclamam do barulho ao longo das noites e da falta de segurança da estrutura, que se tornou um ponto de uso de drogas.
Para sanar parte do problema, relatam os moradores, a Prefeitura designou um guarda noturno para o espaço desde a última semana, medida que tem reduzido a incidência da violência. Porém, as pessoas que antes frequentavam contam que deixaram de ir devido aos riscos de segurança.
Na opinião do morador Nilson Gomes, de 40 anos, os pontos críticos do bairro são o CEU e o ginásio próximo ao espaço. “O pessoal vem de tudo que é lugar, dos bairros próximos. Muitas vezes o barulho é insuportável”, conta. Ainda de acordo com ele, os locais se tornaram pontos de uso de drogas.
Mara, que preferiu não divulgar seu sobrenome, mora próxima ao Centro e da sacada da sua casa consegue observar a movimentação no espaço. E, também, ouvir o barulho das depredações. Ela é costureira e costuma trabalhar próximo da meia noite, quando os vândalos frequentam o CEU. “Dá para ouvir o barulho dos gritos, inclusive de mulheres com crianças pequenas. Eles (os vândalos) vêm para usar drogas e acho que tem até prostituição infantil”, conclui.

 

Solução é cercar?

Enquanto a conversa com os moradores seguia, três adolescentes andavam de skate na pista do CEU. Dois deles, de Balneário Pinhal, vieram passar o verão com a jovem Ana Laura Albernaz, de 14 anos, moradora do bairro Ouro Verde.
A adolescente conta que costuma frequentar o Centro desde a inauguração e observou que o lugar foi depredado três dias após a abertura. “Depois disso começaram a destruir”, conta. Ela diz ainda que o lugar costumava ser mais movimentado, porém, o número de frequentadores diminuiu nos últimos meses. “Depois das 17 horas só venho com meus pais, porque fica perigoso”, afirma.
Para o vereador Idasir Santos (PMDB), que mora próximo ao espaço, a solução é cercá-lo. “Temos que proteger o patrimônio público. Isso tem que ser prioridade”, argumenta. Mas Ana Laura, como adolescente que utiliza da estrutura, não concorda totalmente.
Na opinião dela, cercar resolveria o problema de forma imediata, mas não em longo prazo. “Seria legal colocar uma cerca, mas só ia adiantar no inicio, porque eles (os vândalos) iam dar um jeito de entrar”, prevê. O amigo de Balneário Pinhal, que acompanhava Ana Laura, concorda com o argumento da jovem. “Não que eu fosse fazer isso, mas qualquer alicate resolveria para abrir “, supõe. Além disso, os adolescentes acreditam que limitaria muito o fluxo de pessoas.

 

O CEU

De acordo com informações da Prefeitura de Bento Gonçalves, o local tem uma estrutura de 3.000m² com espaço para salas multiuso, biblioteca, telecentro, auditório com 60 lugares, quadra poliesportiva coberta, pista de skate, equipamento de ginástica, playground, pista de caminhada e local para instalação de um Centro de Referência da Assistência Social (CRAS).
A obra teve um investimento de cerca de R$ 2 milhões e foi construída por meio de verba dos Ministérios da Cultura, do Esporte, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Justiça e do Trabalho e Emprego. Ainda de acordo com a Prefeitura, o objetivo é promover a cidadania em áreas de alta vulnerabilidade social.

 

A pista de skate de R$ 2 milhões

A verba investida na construção do CEU foi de aproximadamente R$ 2 milhões, porém, o único espaço utilizado no complexo é a pista de skate, contam alguns adolescentes. De acordo com eles, isso acontece porque as pessoas tem medo de frequentar o lugar, devido aos usuários de crack. Além disso, a maioria das salas estão desocupadas, descumprindo o plano inicial da Prefeitura de fazer do local um centro de promoção da cidadania, que beneficiaria cerca de 4 mil pessoas com atividades esportivas e culturais e um espaço amplo de lazer. 

Os adolescentes Guilherme Cruz, de 14 anos, Gabriel Gaieski, 15, e Vinicius Dorneles, 14, frequentam o CEU desde o ano passado para andar de skate.  Eles observam que, no início, as pessoas costumavam usar o espaço, mas com o decorrer do tempo, todo mundo deixou de frequentar, exceto os skatistas. “O ambiente ficou pesado. A gente não se sente mais seguro aqui, nem de tarde e nem de noite”, relata Guilherme.  

Na percepção dos jovens, houve uma redução drástica no número de pessoas que utilizam o CEU. Guilherme observa que foi legal quando liberaram uma parede do lugar para grafitti, mas discorda das depredações e das pixações praticadas recentemente.  “Os vândalos só rabiscam as paredes, aí não é legal”, opina. 

Além disso, os jovens concordam com a ideia de cercar o espaço, porém, acreditam que a medida não deve resolver o problema, uma vez que a cerca não impediria que vândalos invadissem o espaço. 

 

Prefeitura garante revitalização do espaço

A Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves garante que o CEU será revitalizado em breve e os espaços serão ocupados, de acordo com o projeto apresentado inicialmente. Porém, não foi especificado prazo para as reformas e melhorias.

De acordo com o secretário de Cultura, Evandro Soares, estão sendo realizadas reuniões entre secretarias para fazer com que o local seja ocupado o mais breve possível. “Existem trâmites burocráticos para equipar as salas. É preciso vencer os processos”, pontua. 

Além disso, Soares informa que as melhorias serão atrasadas em função da necessidade de reformar e cercar o lugar, trabalhos que já estão sendo licitados. “Esta praça tem o propósito de ser uma praça comunitária, onde as pessoas pudessem conviver e serem as responsáveis pelo zelo da mesma”, observa. 

Inicialmente, havia guardas comunitários que faziam a vigia noturna do CEU, mas eles sofreram ameaças de pessoas na redondeza. “Nós nos obrigamos a contratar um guarda armado, também pago com o dinheiro público, pois os vigias que contratamos foram agredidos”, conta. 

Soares também reitera que recebeu as notícias sobre o vandalismo com tristeza, uma vez que esperava mais respeito das pessoas com o lugar. “Nós jamais pensamos em colocar um guarda no local, porque se as pessoas (falo especificamente dos que cometem atos de vandalismo) tivessem respeito com o patrimônio público, com o que foi construído para elas e, principalmente, se conscientizassem de que tudo o que construímos é feito com o dinheiro dos impostos que elas pagam, não cometeriam atos como este”, desabafa.  

O CEU, de acordo com Soares, foi construído para a comunidade, a pedido dos moradores. “Vamos viabilizar as atividades o mais breve possível, assim que a comunidade entender o propósito”, afirma. 

 

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