Para retomada, economista orienta aos empresários manter o máximo de caixas líquidos, para pagar salários e impostos

Os primeiros meses do ano para os principais setores econômicos de Bento Gonçalves apontaram índices significativos, o que indicou um trimestre de retomada. Todavia, o empresariado não contava com uma mobilização nacional de caminhoneiros que afetasse todos segmentos. No Brasil, os cálculos ainda são incertos, mas passam da quantia de bilhão em prejuízos. Na Capital do Vinho o rombo não é tamanho, embora tenha feito a indústria retroceder.

Os setores que mais demonstraram perdas nestas duas semanas foram a indústria de carnes, lojistas e a construção civil. A Confederação Nacional de Dirigentes Logistas (CNDL), aponta perdas de R$ 27 bilhões; a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), estima que o rombo chegue a R$ 10 bilhões e, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) calculou prejuízo de 2,9 bilhões.

Esses números refletem nos cálculos divulgados pelo coordenador de estudos do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), Gilberto Luiz do Amaral. Conforme ele, os estados e municípios deixaram de arrecadar R$ 4,7 bilhões. Amaral destaca que o índice negativo pode chegar a R$ 32 bilhões, mas o coordenador mantem previsão de R$ 110 bilhões com impostos em impostos no ano no Brasil.

Retomada na Serra Gaúcha

Conforme o economista e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Mosár Ness, tanto a indústria quanto os demais ramos deverão buscar equalizar as perdas provocadas ao longo da paralisação. “É necessário que as empresas mantenham seus caixas líquidos, ou seja, o máximo de dinheiro possível. Aí começa a reestruturação das dívidas e dos compromissos de curto prazo, folha de pagamento, impostos diretos. Essa situação mantém a saúde financeira das firmas de curto prazo”, ressalta Ness.

O especialista afirma que os setores possuem formas distintas ao sentir a greve e alertar para uma recuperação gradual. “Os desdobramentos negativos ainda não chegaram ao fim e deverão se desdobrar por mais alguns dias. Estamos falando de algo impactante, pois os dois trimestres que definem o crescimento da economia (PIB) são o segundo e o terceiro. Essa paralisação aconteceu na fase em que se define o crescimento do ano. Podemos afirmar que o crescimento do PIB será comprometido”, analisa Ness.

Na região, de acordo com apontamentos do especialista, os pólos moveleiros, metal mecânico, plástico e vestuário foram os mais atingido. “Sem produção não há receita, sem essa, ficam comprometidas as folhas de pagamento dos trabalhadores, a arrecadação de impostos, sejam na esfera municipal, estadual ou federal. Em termos de retomada de crescimento, também essa fica comprometida, as expectativas agora não são mais favoráveis a uma retomada mais pronunciada do crescimento, pelo contrário, se conseguirmos manter o atual nível em torno de 1,0% positivo no trimestre será um grande feito”, ressalta.

Ness destaca que as mobilizações revelam a fragilidade de economia e a dependência do setor de transporte e logística.”Deveremos repensar nossos modais de transporte, além de tantas outras situações. Uma reforma tributária é urgente para tentar corrigir as distorções que temos na carga tributária regressiva. Como se pode observar, o próximo governo nem foi eleito e sua agenda já está lotada”, comenta o economista.

Retomada dos principais setores de Bento Gonçalves

Para entender como será a retomada de cada segmento da economia bento- gonçalvense, o Semanário conversou com líderes sindicais a fim de averiguar as carências e alternativas que estes estão desenvolvendo. Embora cedo para abrir as finanças, eles demonstram-se apreensivos.
Para o presidente do Sindicato das Indústrias da Alimentação (Sindal), Mauro Gasperin “A alimentação foi um dos setores que menos sentiu, tendo em vista que padarias, confeitarias e empreendimentos do tipo seguiam produzindo, devido aos seus estoques. A indústria alimentícia sentiu principalmente quanto à industrialização. O setor ficou parado. Hoje há uma preocupação quanto à onerações salariais”, disse.
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Ele ainda complementa, que houve uma falta de abastecimento quanto a carnes e hortifrútis. “A situação está normalizada. Para os prejuízos, creio que as pequenas empresas e comerciantes que trabalham com o semanal, com vendas do dia a dia, irão sofrer de 20 a 40 dias para reequilibrar as contas. Se houve perdas, mas o setor se mantem estável”, ressalta Gasperin.

As indústrias do polo moveleiro de Bento retomaram atividades, mas ainda sem condições plenas de produção. Conforme o vice-presidente do Sindmóveis, Vinícius Benini, será preciso pelo menos duas semanas para normalizar os estoques e entregas. Existem casos de empresas calculando em até um mês o período de retomada – isso se for possível faturar para junho os pedidos que não puderam ser produzidos no mês de maio.

Em relação aos prejuízos, Benini entende que as perdas não serão compensadas. “Temos duas situações distintas aqui: a produção diária das empresas não pôde ser mantida pela falta de insumos. Além disso, tivemos muitos embarques nacionais e internacionais retidos nas estradas. Existem empresas calculando perdas de até 25% no faturamento de maio, mas só teremos números concretos nos próximos meses”, avalia o vice- presidente.

Por outro lado, mesmo em meio a perdas, a Associação das Empresas de Construção Civil relata pontos positivos, como aumento na procura por imóveis, embora a greve tenha comprometido o adiamento de conclusão de vários serviços na construção civil. “Tivemos que realocar nossos colaboradores em outros serviços internos e deixamos de fazer o que estava programado, tentando evitar um prejuízo maior e também a própria dispensa do trabalhador do serviço”, analisa o presidente da Ascon Adriano M. de Bacco.

Quanto as regularização dos serviços, ele afirma estar sendo rápido. “Não tivemos contratos perdidos, pelo contrário, as pessoas acabaram por terem tempo disponível para procurarem um imóvel. Isso intensificou as buscas por informações nas próprias imobiliárias e construtoras e, acabamos recebendo mais ligações que os dias normais”, relata de Bacco.
Quanto as perdas econômicas, o presidente destaca a preocupação de contabilizar os reflexos futuros da greve, prevenindo possíveis aumentos, o que pode encarecer os imóveis. “Acreditamos ainda que este ano tenha espaço para a retomada do desenvolvimento e no crescimento de nosso setor”, afirma otimista de Bacco.