Em julho, porém, houve déficit no saldo de vagas. O principal polo moveleiro do país perdeu 76 trabalhadores da indústria apenas no sétimo mês. O cenário foi diferente em junho, quando o segmento criou 123 empregos

No Brasil, os dados de emprego estão chamando atenção. Os números do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) demonstram que o país tem saldo positivo de 1,56 milhão em postos de trabalho. Isso significa que no país, houve mais admissões do que demissões de janeiro a julho de 2022. Apenas no sétimo mês, quase 219 mil pessoas foram empregadas em território nacional.

Em Bento Gonçalves, o cenário não é muito diferente. Durante todo o ano, cerca de 1,1 mil novos empregos foram gerados na Capital Nacional do Vinho, segundo o Novo Caged. Em julho, entretanto, houve um leve déficit na geração de postos de trabalho. O saldo ficou negativo, apontando que -2 vagas foram criadas no último mês de pesquisas divulgadas.Situação dessemelhante foi vista em Caxias do Sul, que apenas em julho, criou 999 empregos.

O cenário na cidade caxiense foi impulsionado, principalmente, pelo setor industrial, que também é forte em Bento Gonçalves. O principal polo moveleiro do país, além de fomentador da metalmecânica, entre outros eixos que formam a cadeia, perdeu 76 trabalhadores na indústria apenas no sétimo mês. O cenário foi diferente em junho, porém, quando o segmento em Bento criou 123 vagas.

Conforme a coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (Obstrab UCS), Lodonha Coimbra Soares, possivelmente em Bento Gonçalves teve uma questão mais local que ocasionou o déficit. “Tanto no Rio Grande do Sul como no Brasil, especialmente em Caxias do Sul, o número de vagas abertas está sendo superior ao de fechadas. Caxias, assim como Bento, tem o setor industrial muito forte na geração de postos de trabalho”, explica.

De acordo com a economista, um número interessante foi o saldo positivo no comércio bento-gonçalvense, que teve 44 empregos gerados. “Isso se deve, principalmente, ao setor da indústria, no qual houve uma redução”, reitera.

Sobre a tendência para o restante do ano, a coordenadora do Obstrab UCS prevê que deve ter um bom desempenho local, seguindo a tendência do Brasil e da região Nordeste do Rio Grande do Sul. “Mesmo a gente sabendo que está havendo um maior número de solicitações de demissões por parte dos trabalhadores, inclusive por conta de eles, durante a pandemia, terem aceitado algum tipo de trabalho que não era da sua vocação. Agora estão buscando algo mais vocacionado, aquilo que melhor sabem fazer. Possivelmente isso está fomentando essas de solicitações de desligamento”, considera.

Aos olhos da indústria

O presidente do Sindmóveis, Vinicius Benini, afirma que a diminuição na quantidade de postos de trabalho do setor moveleiro segue duas linhas. “A primeira está ligada ao momento de instabilidade econômica por qual o segmento vem passando – inclusive freando seu desempenho em faturamento e exportações. A segunda tem relação com a falta de mão de obra qualificada, dificultando que as vagas sejam preenchidas”, analisa.

A presidente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), Marijane Paese, reitera que a questão da mão de obra em Bento Gonçalves passa por um gargalo muito grave, pois há falta de profissionais qualificados. “Essa característica é um dos motivos que explica, inclusive, a alta rotatividade de colaboradores também na indústria. São trabalhadores que, por necessidade, muitas vezes buscam funções para as quais não estão preparados. E as empresas, por falta de opção, acabam contratando – porém, numa relação que não se faz duradoura”, relata.

Para Marijane, também há migração de trabalhadores para outros segmentos, o que pode explicar o saldo negativo para o setor em julho. “Por esse contexto, o Qualifica Bento, iniciativa que visa à qualificação de mão de obra em Bento Gonçalves, ganha ainda mais relevância. Sua proposta é preparar pessoas para ocupar os postos de emprego, o que deve resultar, também, em mais contratações para o setor”, menciona.

A tendência para o segundo semestre, conforme Benini, é que as vendas reaqueçam. “Especialmente com a chegada de datas comerciais como Dia do Cliente, em setembro, Black Friday, em novembro, e Natal, em dezembro. Esse movimento do mercado poderá dar um novo fôlego às indústrias e, consequentemente, gerar mais empregos”, avalia.

Em termos de produção, para o restante do ano, a presidente do CIC-BG antecipa que deve ter aquecimento do setor. “Especialmente superado o período eleitoral e suas incertezas, que geram retração. Em termos de contratação, à medida que ações como o Qualifica Bento forem crescendo em suas aplicações práticas, resultando na oferta de mais mão de obra capacitada para as indústrias, o preenchimento de vagas também deve aumentar”, conclui.

Pequenos negócios têm alta no faturamento

Uma das saídas durante a pandemia, foi se reinventar, usar a criatividade e abrir o seu próprio negócio. Segundo a 25ª Pesquisa de Monitoramento dos Pequenos Negócios realizada pelo Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae RS), o faturamento das empresas de pequeno porte apresentou melhor resultado em 12 meses.

De acordo com o Sebrae RS, 30% dos pequenos negócios gaúchos manifestaram ter ocorrido aumento no faturamento no mês de julho, 7 pontos percentuais acima da pesquisa realizada no mês anterior. “Retratando assim, a perspectiva de cenários mais favoráveis quanto a confiança e performance das Micro e Pequenas Empresas no período“, explica a analista de Relacionamento com o Cliente, Roberta Genari.
Ela argumenta também que segundo dados da Prefeitura de Bento, desde o início de 2022 até então, 1.959 novas empresas iniciaram suas atividades no município. “Os setores mais representativos neste aspecto são serviços e comércio”, expõe.

Para superar a crise, Roberta evidencia que os pequenos negócios estão se reinventando e adaptando-se aos novos modelos e comportamento do consumidor. “Buscando orientações para implementação e melhorias dos seus canais digitais, captação e fidelização de clientes, entre outros aspectos. Neste contexto, o Sebrae possui consultorias e capacitações para apoiar os empreendedores no crescimento e evolução das vendas dos seus negócios”, realça.

Para os próximos meses, a pesquisa aponta que 65% dos empreendedores entrevistados estão confiantes na melhoria em relação aos seus ramos de atividade. “Bem como, 49% possuem a expectativa de expandir seu negócio nos próximos seis meses. O panorama de um cenário favorável também se apresenta na expectativa de aumento no faturamento, sendo que, 77% dos pequenos negócios manifestaram tal perspectiva”, conta a analista.