Quem apostou num entusiasmado passageiro, errou. Aqui estou eu de novo, mais encantada do que nunca. E, para não deixar que a poeirinha do cotidiano ofusque a memória, vou contar algumas passagens vividas na capital do Renascimento. “Andiamo insieme… Firenze ci attende…”

Dispensado o táxi, demos de cara na Duomo de Santa Maria Del Fiore, uma das maiores e mais bonitas catedrais do mundo. Santo espetáculo renascentista! Quase do tamanho de um estádio de futebol, é decorada com mosaico em mármores coloridos numa interessante harmonia. Lá no alto, a cúpula, magnífica, no interior da qual afrescos contam histórias.

Como tem afrescos na Itália! E nus artísticos. Me impressiona que sejam quase que exclusivamente masculinos. Os caras amavam sua anatomia. E eram geniais na arte de esculpir. Leonardo, Donatello e Michelângelo foram um exemplo de genialidade, tanto que saíram da história italiana antiga para ir direto às histórias em quadrinho atuais, com touca ninja, bandanas, cajado e tudo.

Circulando pela Piazza, admiramos os trabalhos dos artistas de rua. Que coisa impressionante! Pintores, caricaturistas, homens-estátua, músicos, cantores, comediantes… Aí lembrei dos nossos “meninos” que ficam pitando e jogando algumas bolitas para o alto, nas sinaleiras, a título de arte, atrapalhando o trânsito… Retiro! É uma covardia a comparação.

Margeando o rio Arno, a beleza do pôr-do-sol que se refletia na água em tons avermelhados me pôs em estado de êxtase. Ao atravessarmos a ponte Vecchio, gritei: “A perfeição existe!”

Só percebemos que a noite chegara porque as barrigas roncaram, aí procuramos uma trattoria para degustarmos uma comidinha mais caseira, que não fosse do grupo PP – pasta ou pizza.

De repente, a saudade bateu forte. No estômago. Estávamos babando por carne. E quando chegou o menu, não tivemos dúvida: “À Parmegiana”, falamos em uníssono. E “bem cotto” acrescentei ao meu pedido.

Magnífico o prato! Vermelho de “sugo” com o “formaggio” derretendo que nem um vulcão em erupção. Delícia! “Tomara que a carne seja macia”, pensei. E estava. Até um pouco demais… Meio cabreira, ergui a primeira camada de “lava” e…

– Queimaram o meu bife! – disse indignada.

Mas como eu tinha pedido bem passado, tive que ouvir do nosso pessoal que o azar era meu. Quem mandava ser pentelha em plena Europa! Mas, então, todos fincaram o garfo no filé e…

– Gente, isso aqui é berinjela!

Depois da surpresa, o riso e depois, o consolo: tínhamos escolhido um vinho tinto “molto buono” que se harmonizava perfeitamente com a berinjela.